reboot

Que histórias irão ver os nossos filhos ver nos cinemas? As mesmas que nós! E que histórias irão ver os nossos netos nos cinemas? As mesmas que os nossos filhos. E são exactamente iguais? Não. Irão ser aguadas, estupidificadas e polidas ao ponto de daqui a 15 gerações todo os filmes serem um lençol branco, ao vento, com uma música da Enya e uma mensagem final que envolve, invariavelmente, a força da amizade, tretas religiosas e uniões politicamente correctas que são inversamente proporcionais à hipocrisia de raízes satânicas praticados pelos grandes estúdios, que no futuro serão apenas 2: Sony Pictures e Sony Pictures Kids…

Eu não gosto de reboots no cinema, ainda pior, nem sequer os compreendo sem ser dentro de uma filosofia da pura ganância. O que também não compreendo é a histería em volta desses reboots, a maneira como toda a gente parece morrer de ansiedade por uma determinada estreia, que depois é sempre decepcionante. No entanto as pessoas irão sempre dizer que gostaram, porque o seu próprio instinto de sobrevivência impede que se sintam palonços, cujo entretenimento que consomem é decidido por marketing subliminar.

Alguns exemplos. Superman Reborn; pura estupidez e moralismo baptisma, para não falar da edição digital da piroca do actor. Halloween; Completamente desprovido de sentido. Trocar argumento por estilo é sempre moralmente discutível. Batman (Begins e Dark Knight); sim, sim, ai que lindos filmes, mas havia necessidade? Dinheiros à parte, julgo que os bons argumentistas que os escreveram não teriam dificuldade nenhuma em os inserir no anteriores. Quer dizer, ninguém estranhou o Batman ter passado de Michael Keaton para Val Kilmer para George Clooney e iam estranhar agora ser tudo mais negro e haver outro Joker. Podia ser o filho. Ou um clone geneticamente criado a partir de umas amostras de saliva. Hulk; lixo 2, a vingança. Friday 13th; pff, um tipo com uma machada na mão numa mata atrás de putos em crises hormonais violentas. E o James Bond? Seria tão difícil chamar-lhe “The Beginning”? Sim, porque teria quer ser passado nos anos 60 e era uma chatice para publicitar carros, relógios, hotéis, sapatos, fatos e utilitários de “prestígio” em geral.

Mas e  o que para aí vem? Star Trek; bastava fazer mais um spinoff. Qualquer merda que envolva linhas de tempo separadas por uma viagem ao passado. Afinal, com tanto spin-off, quem iria reparar? Nightmare on Elm Street, Daredevil, Porky’s,Robocop, Mortal Kombat, Spawn e Tomb Raider. Com este último acho bem que se meta, de uma vez por todas, uma jeitosa de rabinho redondinho e empinado.

Haverá uma quebra mundial na imaginação e criatividade? Não, mas há muito que o cinema mainstream deixou de ser regido pela questão artística. O que interessa é fazer um bom trailer, montagem rápida, tambores, cenas velozes, carros, explosões, uma gaja boa semi-nua de soslaio (removida da versão final), uma frase motivadora quase no fim e uma explosão para acabar, de preferência do planeta Terra (removida depois da versão final ou enfiada numa sequência de sonho).Basta levar as pessoas ao cinema uma vez para que consumam também bebidas e pipocas. Depois convencer as pessoas  a comprar o DVD porque a versão “do realizador” ou unrated é que é boa e a que devia ter estreado nas salas.

É a tristeza a que chegámos. Resta-nos o cinema alternativo, que apenas temos acesso em clubes de vídeo, canais de cabo obscuros às 4 da manhã e nos sites moralmente repreensíveis da concorrência…