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The Wrestler (2008)

thewrestler

De há uns anos para cá começaram a dar à costa os naufragos dos anos 80, os chamados “has beens”. Estrelas viçosas que no seu tempo eram reis do mundo mas que tomaram más decisões económicas, trocando o imobiliário e a bolsa por cocaína e putas. Uma galáxia enorme que agora aparece em todos os meios de entretenimento a tentar ganhar qualquer coisa para ir vivendo, o pão nosso de cada dia. Nem que para isso tenham que tornar as suas desgraças públicas. E como nós adoramos desgraça alheia, quem em tempos viveu em palácios e foi conduzido em limusinas e agora andam para aí a ganhar o ordenado mínimo, gordos e disformes. É este universo que The Wrestler explora, o desgraçadinho que já foi o maior lá da aldeia.

Darren Aronofsky apoia todo o peso da sua obra em Mickey Rourke. É ele que transporta o filme numa longa viagem solidão e desespero. Um homem que se recusa a morrer, recusa que o seu destino seja o esquecimento. Nem que para isso tenha que viver uma fantasia de fins de semana enquanto durante a semana passe pela mais dura agonia existente: a vida real. Mal de amores, problemas com a família, a saúde já foi melhor, enfim… Um coitadinho que os Oscares tanto gostam. E eu também, confesso. Gostei muito como gosto de tudo Aronofsky. Mas, hey, quem não gosta? 😉

É verdadeiramente avassaladora a performance de Rourke, mas não esqueçamos a atmosfera pesada e real que Aronofsky nos desenha. O ar frio é denso como chumbo, a desgraça eminente. Há quem diga que Mickey Rourke faz de si próprio, sendo Randy “Ram” um encapsulamento para Roarke, mas sinceramente não conheço assim tão bem Rourke. Apenas sei que era um cromo nos anos 80 parecido com Bruce Willis e era essa a sua razão de existir. Um lookalike para permitir ter um cheirinho Willis em filmes eróticos. Só que na altura não tinha esta cara de quem passou a noite toda a apanhar pauladas na fronha e de manhã lhe tiraram a cara do ácido sulfúrico para a meterem numa colmeia de abelhas assassinas.

Podia ser Roarke, mas também incontáveis outros. David Lee Roth, dos Van Halen. Parecem-se imenso. O baixista dos Kiss, aquele da língua, um qualquer dos Sigue Sigue Sputnik, o outro gajo dos Wham (fucktoy do George Michael), o puto que era irmão do Michael J. Fox em Family Ties, Tony Danza, McHammer, o mais paneleiro dos Modern Talking, a Sabrina que apareceu num fim de ano destes do Gato Fedorento a cheirar a puta barata e whisky… Há milhões, poderia ficar aqui a noite toda. Ou Luis Pereira de Sousa, esse grande icon incompreendido das tardes preguiçosas de Verões na praia e tesouros deprimentes. Júlio Isidro ou aquele que fazia o livros para aprender música, Eurico A. Cebolo. Quem não tem nostalgicas recordações do cão a tocar orgão no Orgão Mágico 2? No dia em perdi a virgindade limpei a gaita às Pombinhas da Catrina num manual do Cebolo.

Bottomline, adorei o filme e fez-me pensar nesses desgraçados todos que já foram alguma coisa e fizeram maus julgamentos a pensar que a juventude e o sucesso são eternos. Aqueles que não souberam investir no futuro e agora fazem sexo por dinheiro em festas de Tóquio. No Photos, please…

6 Comments

  1. thesubsidal

    É mesmo grande filme!

  2. Peter Gunn

    Isto é que foi um post à antiga, com tudo no sitio e sempre a matar!

    Quanto ao filme, ainda não vi mas se já tinha bastante curiosidade em ver o que saiu dali, agora com a tua aprovação tenho mesmo que lhe por os olhos em cima.

    E ainda me estou a rir desta “limpei a gaita às Pombinhas da Catrina num manual do Cebolo” hehehe muito bom

    Um abraço

  3. Filipe Machado

    Acreditas que ainda não vi o filme?

  4. Joao Carvalhinho

    Eurico A. Cebolo. fosga-se!… como é que te lembraste do fdp do pastor alemão?!?!

  5. pedro

    Na minha adolescência fui estudante de música com o método do Cebolo. Sei que a longo prazo irei sofrer perturbações mentais, mas o certo é que na altura não havia concorrência ao nível do ensino musical. O pior era no fim dos livros quando ele anunciava os seus livros: Incesto sem pecado, o falo perdido ou matavam as freiras grávidas. Tudo clássicos intemporais que eu nunca li. Mas olha que ainda hoje vi na Box (do jumbo) livros dele, agora com um dvd e cd audio. E lá está o cão na contra capa…

  6. Eduardo

    Para mim um dos filmes da década de um dos melhores realizadores do séc XXI.

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