8mile

Há muito que ando a ponderar ver este filme. Nunca o vi porque o meu preconceito sempre me impediu de o fazer. Um dia destes passou no MovHD e aproveitei para ver. Temos que aproveitar as poucas coisas em HD que existem. E com este filme aprendi uma lição importante: devemos sempre confiar no nosso preconceito. Falemos então deste “Manual de Iniciação para Bazofes”.

O target de 8 Mile é a base de fans de Eminem. Que fique aqui assente que eu não desgosto de Eminem. Não me irrita, como a maior parte dos concorrentes a gangsters que populam o meio. Não é daqueles que aparece numa limusina branca cheia de gajas a abanar o cu para uma grande angular posicionada ao nível do solo. Não veste um casaco de peles até aos pés nem mostra maços de notas de 100. Tem  características raras num rapper: voz e estilo inconfundíveis.

Mas o filme não vale nada. É suposto ter como inspiração a história do Eminem. Mas na realidade temos um personagem que parece andar sempre amuado de um lado para o outro, com aquele olhar vazio de quem é burro que nem um calhau. Chateado com o mundo e a nadar em auto comiseração. “Tenho tanta pena de mim, pois sou um coitadinho que não tem sorte nenhuma“.  E quando confrontado com qualquer problema, vira as costas e vai amuado a chorar. É fraco.

O argumento tem um objectivo. Mostrar a ascensão de um Zé Ninguém branco numa comunidade rapper bastante conservadora (leia-se negra). Tudo o resto é irrelevante: duas meias histórias de amor ficam penduradas, uma disputa de gangs que não se percebe muito bem, um sub-mundo dos aspirantes a rappers um bocado difuso, tudo muito mal explicadinho. A chamada montagem a martelo.

Tecnicamente está interessante. A fotografia é muito boa e há um domínio da escuridão, da noite, dos bares manhosos, das ruas mal iluminadas, uma certa mestria a desenhar decadencia. Tirando isto, pouco mais tem. É definitavamente um filme Boff!, para não dizer Xunga…