Desde 24 de Junho de 2003

Um Filme Falado (2003)

filmefalado

Zombies, sangue, tripas, zoofilia e sexo em grupo, fotografia magnífica e banda sonora avassaladora são coisas que este filme não tem. No entanto o uso da palavra “zoofilia” e “sexo em grupo” serve para trazer aqui ao site uns bons 30 ou 40 visitantes, isso vos garanto. Assim como outras que vou colocando tempos a tempos para atrair populaça a este banho de cultura. [Marisa Cruz Nua] Existe em Portugal uma percentagem de população que ronda os 99.999% que encara a tarefa de olhar para um espelho a ver as unhas e o cabelo a crescer com mais entusiasmo do que ver um filme de Manoel de Oliveira. A maior para dessas pessoas nunca viu nenhum, uma prova de que o instinto e 6º sentido existem e funcionam. [Carla Matadinho faz a equipa de futebol salão do Miramar Juniores]

Internacionalmente (e em certos círculos nacionais) Manoel tem o estatuto de intocável. Mais por tenacidade e longevidade do que por talento, o certo é que uma elite mundial cultiva o culto de Manoel. Cá na nossa pasmaceira, críticos exaltam o mestre com dengosas e crípticas apreciações nos jornais de maior tiragem. Normalmente fala-se mais na genialidade do que ele não mostra nos filmes (as chamadas “metáforas”) do que o que efectivamente se passa no ecrãn. OK, tudo bem, até aqui concordo. Isto tudo baseado num conhecimento profundo da sua vida e obra. O que é que isto significa? Que antes de perceberem e gostarem de Manoel, têm que gramar com 283 horas da sua obra anterior. Isto é, para uma pessoa da minha idade e os meus compinchas nestas andanças, uma perfeita perda de tempo, porque nessas horas podemos ver imensas obras realmente interessantes, filmes de merda, porno à lá fartone, blockbusters e sequelas, videos roudados de celebridades apagadas, dormir, ter uma vida social e algum sexo ou até sonhar com um futuro na arte cinematográfica.

Por isso as elites da crítica de “art house cinema / conservadores cristãos de direita” nunca ousam dizer mal de Manoel de Oliveira. É como se na blogosfera alguém falasse mal do “Lost in Translation”. Era logo inculto, superficial, não compreendes porque és burro, velho choné dos marretas, etc. Eu digo: este filme é uma merda… Actores? Pessoas a ler artificialmente e tesos como se tivessem uma espiga de milho enfiada no cú. Argumento? Parágrafos completos roubados da grande enciclopédia de história da Larrouse. Banda Sonora? Qual banda sonora? Fotografia e cinematografia? Qual quê… aquilo foi filmar, revelar, cortar com uma tesoura, colar com fita cola, enrolar a bobine e passadas 3 horas apanhar um avião para Cannes ou Veneza. Um final surpreendente? É por causa da sequela: Um Filme Cantado.

3 Comments

  1. Bruno

    mas afinal viste o filme ou não?

  2. pedro

    Vi, claro que vi! Eu até tenho vergonha de admitir que já vi uma grande parte da cinematografia deste Manoel. E apesar deste ter aquele punchline pesadão e serem 90 minutos só para mostrar um ponto de vista, há filmes dele que gostei.

  3. andré garcia

    Man, tu és hilariante, e digo isto no melhor dos sentidos…eu sou um fanboy do oliveira mas adorei a crítica…discordo em absoluto mas pelo menos vês e tens visto a obra do mestre…mas eu adorei o filme e adorei a premissa da conversa erudita poliglota, acho original, os meios dele são parcos mas não é mau cinema por isso. Senão, Ed Wood era mau logo por isso (chama-me celerado mas sou fã do ed wood e acho-o um grande realizador; para mim o pior é um destes trastes: spielperg, burton, lucas, zemeckis, ron howard). Mas lá está é apenas a minha opinião, mas gostei da forma como escreveste e o que disseste…abraço forte. Esta frase matou-me de prazer: “e passadas 3 horas apanhar um avião para Cannes ou Veneza.” FTW!

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