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2012 (2009)

Há 40 anos atrás um tipo inventou um género de cinema chamado “Disaster Movie”, cuja tradução para português deverá ser algo como Filme Catástrofe. A ideia consistia em arranjar uma situação aborrecida que iria escalar lentamente para uma desgraça. Um arranha céus a arder e a malta no último andar, um barco virado ao contrário ou um avião sem combustível, em chamas e sem trem de aterragem. E era isto a que se chamava catástrofe. Nos anos 90 apareceu outro tipo de catástrofe um pouco maior que afectava uma cidade inteira, uma ilha ou mesmo um pequeno país. Mas eis que a meio deste processo aparece Roland Emmerich. Com a delicadeza de um touro ferido numa reunião da tupperware e o seu próprio conceito de Filme Catástrofe, com a destruição total do planeta e um argumento que é basicamente assim: Fade in – Casa Branca – toca o telefone às 4 da manhã, presidente atende e alguém diz do outro lado “Sr. Presidente, está tudo fodido”. (encher restantes 129 minutos com destruição em massa de todas as infrastruturas que possam arranjar). Keywords: Bandeiras americanas e família em primeiro lugar. Heróis. PS: Poupem os cães…

Mas que podemos nós dizer de um filme que se resume a duas horas e meia de CGI porn? Um filme que quer ser um épico com imensos personagens mas que não sabe criar argumento para elas? Um filme em que a brutalidade só tem limite quando um cão está em perigo? Um filme que espelha a ignorância americana ao tratar África como um país e a UE como sendo o conjunto do Reino Unido, França, Alemanha e Itália? Um filme que exalta o poder do Presidente americano como um herói, um homem comum, e os lideres do mundo como sendo exemplos de misericórdia e filantropia, excluindo por completo a parte em que essa malta é um matilha de filhos da puta? Um filme que é na realidade uma remistura do “Day After Tomorrow” em que o aquecimento / arrefecimento global é substituído por uma merda que ninguém percebe muito bem para que não haja criticas científicas, em que até a moral socialista / “we are the world, we are the children” é decalcada para redobrado gáudio de meia dúzia de azeiteiro que esgalham o pessegueira a ver prédios a desmoronar.

A verdadeira ironia é o filme catástrofe mais badalado dos últimos tempos ser na realidade uma catástrofe de filme, neste trocadilho que me faz estar um passo mais perto do Fernande Mendes e desse Opus televisivo que é “O Preço Certo”, o programa em que só não se sente o cheiro a urina dos concorrentes devido ao intenso cheiro a suor do apresentador. Eu realmente sou mesmo parvo. Ver esta porcaria só porque “toda a gente já viu”. Eu sabia de antemão que não poderia haver no Universo nada tão repelente e verdadeiramente idiota como este filme, mas não o podia dizer ser confirmar com os meus próprios olhos.

Mas em que consiste realmente este filme? Os primeiros 5 minutos é a preparação para um cataclismo que irá destruir o planeta, tudo em estilo “rápido e a despachar porque ninguém aqui veio para ver paleio”. Depois família separada que pode até ficar junta caso um cataclismo os possa unir. Hey, espera aí! Está tudo a desmoronar e pessoas a morrer aos milhões. Agora sim, temos condições para juntar esta infeliz família na felicidade que merecem. E até ao fim do filme, as próximas duas horas, temos estas pessoas a correr à frente da destruição que os persegue como cães perdigueiros. Sempre um milisegundo atrás deles, seja uma onda gigante atrás de um barco, uma fenda de corre atrás do nosso herói na estrada ou uma parede de chamas e lava incandescente atrás do avião dos nossos heróis. Se eles pararem para fazer chichi não há problema, a onda de morte e destruição fica ali à espera que eles se ponham em marcha, a comer a sandes mista e o pacotito de bolachas que a sua esposa, a Dona Onda de Destruição e Morte, lhe preparou de manhã quando saiu de casa mais cedo sem tomar pequeno almoço.

7 Comments

  1. cine31

    Eu já sabia o que me esperava, mas não consigo resistir a ver um CGI porn 😉

  2. Leinad

    nao querendo parecer um pseudo snob amante de cinema polaco impressionista dos anos 50, mas este é mesmo um filme que eu ainda nao vi e nao tenho qualquer intençao de ver. Já nao ha paciencia nenhuma pra este tipo de coisas. Há uns anos atrás chamavam a isto “intros full motion video de videojogos”, depois já passaram a ser “intros de videojogos em cgi”. E hoje em dia já lhe chamam cinema. É preciso coragem pra ver estas obras lol

    btw, uma boa review ao Hávátáre do Jaime Camarão é que era de valor 😉

  3. pedro

    Todos nós, seguidores de Vasco Granja, temos uma dívida para com o cinema polaco, sobretudo o de animação. Nem que seja apenas pela uso da palavra Koniek… Em relação ao Jaime Camarão, ainda não vi o filme. Talvez vá amanhã se arranjar alguém que me fique com o puto.

  4. Pedro Pereira

    Eu vi neste Natal, não sei bem porquê, e sim ia vomitando as entranhas nos primeiros 30 minutos.

    Curiosamente tocas num ponto importante para mim, isto é, quem foi a besta que pensou nos países distribuídos pelos “super-barcos”, e daí só me resta pensar que a coisa passou por um estudo de mercado, acabando a coisa por se distribuiu pelas grandes facções de emigrantes no país do tio Sam: Hispânicos, Italianos, etc. A esses acrescentem-se as dois ou três países consumistas, uma pitada de submundo… et voilà!

    Para rematar só aquela merda de frase final: “É por isso que lhe chamam cabo da boa esperança”. Para mim pareceu-me um cabo das tormentas! Pior filme de 2009 aqui nos meus registos mentais.

  5. P.

    Epah e gostei. É uma merda gigantesca sem necessidade para tal, mas tudo ali dava para rir. Ia desconfiado que era ridículo e ao fim de 2 minutos , pimba, já era mesmo. Estapafúrdio q.b., entrou logo na categoria do tão-mau-que-é-bom. Li algures que o Roland Emmerich anda a tentar destruri o mundo de 7 mil maneiras diferentes no “cinema”, para quando isto for mesmo com os porcos alguém recuperar a fita e dizer, Este gajo acertou.

    Deve ser verdade, este cabrão um dia será o Nostradamus.

  6. Arapuk

    Valeu pelas pipocas do pingo doce escondidas na mala da namorada… ficam mais baratas!

  7. Edgar

    “Fade in – Casa Branca – toca o telefone às 4 da manhã, presidente atende e alguém diz do outro lado “Sr. Presidente, está tudo fodido”. ”

    A frase do ano! Até os pêlos do cu lhe bateram palmas!

    Este 2012 é estupendamente mau…

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