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Taking Woodstock (2009)

Biografias ligeiramente modificadas para encaixarem em modelos pré-definidos de cinema ou “baseado em eventos verdadeiros” são coisas que aprecio. Eu não quero saber como foi a triste realidade, quero as coisas apimentadas para encaixarem nas minhas expectativas, nos meus preconceitos, naquilo que eu imagino ser a realidade ficcionada das regras de uma narrativa saudável. Tristezas bastam as minhas e as desgraças que tenho que aturar diariamente perante a possibilidade de mandar tudo para, e passo a citar, “o caralho que os foda”, porque depois faltam-me fundos para manter a minha habitação na minha posse, para alimentar a minha família e para comprar parvoíces de que não preciso e de que já me estou a arrepender antes de comprar, mas que mesmo assim não consigo evitar.

Os argumentos que apresentei em cima que suportam positivamente esta biografia  “ligeiramente modificada para ter impacto” podem também ser usados noutro lado para enxovalhar determinada obra por faltar à verdade e substituir realidade dura por um argumento dobrado para se ajustar aos contos de fadas que vêm de Hollywood. Mas isso não interessa nada, porque eu sou como todos vós, um tipo que ajusta as condições às suas necessidades e ao que mais convém no momento. Infelizmente apetece-me falar de tudo menos do filme mencionado no título deste post. Não é que o filme seja mau, pelo contrário. Achei extremamente apelativo, mesmo para um filme que já trazia na bagagem alguma expectativa.

Uma das falácias que vem agregada ao título, à estratégia de marketing e à imagem preconcebida que este filme construiu antes de estrear é a ideia de que vamos ter imensas cenas de Woodstock e que será um filme centrado nesse momento histórico da História recente norte americana. Mas não poderia estar mais longe da verdade. Taking Woodstock roda em volta de uma comunidade fechada, convencional e tradicionalista que se vê invadida por hippies, e que vivem na dualidade de obterem dinheiro fácil a explorar estes pacíficos stoners ou expulsar toda a gente à pedrada por não seguirem as regras do cristianismo. É nesta riqueza conceptual e constante luta de valores que reside o fascínio de Taking Woodstock. Nem sequer há cenas do festival de música propriamente dito, só multidão e uns focos difusos ao longe acompanhados pelo eco empalidecido dos sons de palco.

Corresponde às minhas expectativas e é um filme que apreciei bastante. Já conhecia Demetri Martin do standup comedy e confesso que levei uns minutos a habituar-me ao personagem. Apesar de ter estado bem, foram as partes em que tentou inserir algum do seu estilo de comédia que considerei as mais fraquinhas. Ang Lee esteve seguro e profissional, como sempre, mas as sequências de ecrans multiplos não me apelam especialmente. Se em Hulk foram apenas parvas, aqui geram muita confusão.

Para acabar deixo uma pequena curiosidade. Quando se estava a fazer o casting, a maior dificuldade foi arranjar pessoas, principalmente gajas, que tivessem uma farfalhuda pintelheira para interpretar cenas de liberdade hippie. Nos dias que correm toda a gente nos meios hollywoodianos removeu a laser a frondosa pintelheira ou aplicou uma máquina zero que não permite o crescimento a tempo de um matagal que faça honra a um hippie que se preze. Longe vão os tempos em que se exibia com orgulho uma viçosa pintelheira e em que andávamos com uma impressão na garganta provocada por um pelo perdido depois de uma “descida à cave para alisar carpete”.

NOTA: Post publicado sem revisão. Sem paciência. Sono…

1 Comment

  1. Ruy

    gostei da expressão da carpete. Ou como dizem os meus primos da França: moquete 🙂

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