Desde 24 de Junho de 2003

V for Vendetta (2005)

Todos nós temos uma listinha de falhas cinematográficas graves, filmes que ficaram para trás. São perfeitamente normais, o tempo não é um recurso infinito de que possamos desfrutar. V for Vendetta é um filme que vejo com cinco anos de atraso por puro preconceito. Na altura em que estreou não estava ainda refeito do pastelão que foram as sequelas de Matrix e não conhecia ainda a Graphic Novel do adorável lunático Alan Moore. É sempre um prazer ver Natalie Portman toda rapadinha…

V for Vendetta fala-nos de uma Inglaterra distópica, ao estilo retro-futuro de 1984, depois de ter fechado as fronteiras ao mundo devido a uma guerra civil americana que afectou o mundo inteiro de modo menos positivo. O regime totalitarista ditatorial de forte influência nazi controla o povo oprimido que, cinzentão, vive um dia-a-dia de liberdade condicionada. Um homem, V, pretende acabar com tudo isto e substituir o regime pela liberdade do caos ou pela democracia, dependendo se falamos do filme ou da graphic novel.

Ver um filme fora da sua bolha de expectativa aquando da estreia é sempre uma mais valia para que se possa avaliar a sua verdadeira essência, mas apesar de ter sido um filme que se vê com prazer, sente-se durante o tempo todo que não tem a profundidade necessária para repassar o efeito pretendido. É revolucionário, no sentido universal e intemporal, tem o look cinzentão de uma vida sem prazer, tem o herói que é a personificação de uma ideia, de uma causa unificadora. Mas no final definha com demasiada previsibilidade e com um climax fraco em relação ao resto. A primeira parte é muito boa, mas quando começa a chegar às considerações finais, desfalece.

Não me vou meter outra vez na conversa mete-nojo dos comics serem melhores ou piores ou que a adaptação não é fiel, digamos apenas que é diferente. A graphic novel é para públicos mais maduros que não esperam happy endings, histórias de amor ou o esquema narrativo linear do template hollywoodiano. O filme tem que se fazer pagar pelo número de cabeças que pagam para o ver. Sejam maduros e exigentes ou barrascos do tunning com ambições fortes na área dos ailerons.

Ainda assim, é um bom filme. Há ali um potencial revolucionário que desperta paixões. Na altura em que estreou, com o mundo sob a liderança do Bush Junior, havia outro contexto mundial, havia a ameaça constante dos estados polícia e das liberdades finadas. O mundo não mudou, continua a dirigir-se a passos largos para a distopia Orwelliana, mas o porta-voz do planeta agora tem muito melhor aspecto e discursos mais refinados.

15 Comments

  1. Pedro Pereira

    Já nem me lembro bem do filme, o que quererá dizer alguma coisa…

  2. cine31

    Quando escrevi no antigo Cinema Xunga a minha critica a V de Vendetta (http://www.cinemaxunga.net/v2/index.php?option=com_content&task=view&id=259&Itemid=10 ) tinha acabado de sair do cinema e vinha superentusiasmado. Como dizes, tem vantagens ver um filme depois de ter passado o hype, e creio que se visse V for Vendetta hoje em dia pela primeira vez, seria um pouco mais crítico, mas continuo a pensar o que escrevi na altura 😉

  3. horas do acordar

    palavras escritas, bem. espreitou gente em gente apanhada na situação e estava uma máquina ligada.
    divergência totalmente relevante

  4. Bruno Duarte

    Foi um filme que vi mal saiu e sinceramente, tirando a Natalie Rapadinha, não me ficou na retina …. tenho de rever porque ás vezes à segunda é que lá vai.

    Abraço.

  5. King Mob

    Eu vi no cinema aquando da estreia e gostei imenso. Acho que as pessoas esperam demais do filme, talvez por ter tido origem numa graphic novel de Alan Moore. O filme não é um drama político. É essencialmente um fime de acção, e como tal, é um dos melhores dos últimos tempos. Indiquem algum melhor desde 2005. Aliás comparado com as ‘jóias’ que têm saído desde essa altura dentro do género, torna-se automáticamente numa obra-prima. Não é estúpido, apresenta conteúdo para além das sequências de acção, e contém cenas memoráveis.
    “People should not be afraid of their governments. Governments should be afraid of their people.”
    Só esta linha, adaptada de algo semelhante escrito por John Basil Barnhill em 1914, demonstra mais inteligência e maturidade que muitos filmes considerados sérios apresentam no écran. E nada como uma boa dose de saudável pancadaria para ajudar a passar a mensagem.

  6. Peter Gunn

    Só tive oportunidade de ver este filme à cerca de 6 meses e portanto também já fora do hype da estreia mas não sem antes ter lido algumas críticas ao filme, umas positivas e outras assim assim. Depois de ver o filme penso que tinha pernas para ir mais longe mas no geral passa bem a mensagem a que se propõe e é sem dúvida um dos melhores filmes de acção dos ultimos anos.

    Nota 4 😉

  7. sinnercitizen

    Vi o filme em noite de estreia, muito por culpa da graphic novel, que possuia 3 kgs de pó, lá nas estantes do escritório. E era dificil como o caraças de entender, porque em cada página havia para aí, 3000 linhas de texto. Ainda assim, é uma das melhores graphic novels dos eighties e dos bons momentos do Moore. O filme, é bom e tem uma coisa que na altura me lembro de marcar várias pessoas que se encontravam na audiência. Uma delas adepta ferrenha do Bloco de Esquerda ou algo do género. Lembro-me que a dada altura levantou-se e vociferou ” Isto é um filme fascista! Acordem, camaradas, acordem”… escusado será dizer que não viu o filme até ao fim. Alguem teve a decência de lhe atirar com um Nokia 3310 ás ventas e saiu agarrado aos dentes. Quanto á Natalie Portman rapadinha, com ou sem cabelo e armada em Jedi, era como ela quisesse. E vejam o Closer, onde se ela não está rapadinha, é o que falta mostrar…

  8. MOZART CABRAL

    V FOR VENDETTA”

    “Os governos podem aniquilar homens, mas não idéias”. Esta frase capilarisa todo o tecido moral, político, estético e midiático de “V de Vingança” / 2005. Um filme dirigido por James McTeigue, roteirizado pelos irmãos Andy e Lary Wachovski, baseado numa graphic novel dos anos 80, de Alan Moore e David Loyd, inspirada pelo cenário político da Era Reagan/Thatcher. Os autores mesclaram referências literárias de “1984” de Orwell, “Fahrenheit 451” de Bradbury, dos quadrinhos “O Sombra” e “Judge Dredd”, de Shakespeare, Goethe, Max Ernst entre outros.
    Metáfora contundente da sociedade norte americana pós “11 de setembro” e do governo neoconservador de George W. Bush Son e dos epígonos das teorias de Leo Strauss, sendo Fukuyama o mais famoso deles. Trazendo à tona o esquecido tema do totalitarismo em nossa contemporaneidade pós-moderna.
    O fascismo e suas nuanças nacionais: os de direita e os de “esquerda” – vide o que foi o socialismo real no século passado em termos de direitos civis ou das liberdades democráticas por exemplo –, na expressão original de Jürgen Habermas seguido de Pier Paolo Pasolini em suas entrevistas com Jean Duflot, referindo-se aos estudantes universitários da Itália ligados aos neojdanovistas do PCI. (1)
    Pelos idos de 1605, um rebelde é enforcado por ter tentado explodir a sede do Parlamento Inglês sem sucesso. Agora, cerca de quatro séculos depois, uma das vítimas do sistema totalitário vigente no Reino Unido em 2020 – nosso herói V., um erudito no sentido renascentista do termo, um cavalheiro solitário num mundo onde não se cultivava mais a leitura –, resolve fazer uma parte de sua “vendeta” em cinco de novembro, em homenagem àquele libertário católico Guy Fawkes, mandando pelos ares, num espetáculo de exuberante pirotecnia que nos deixa de fôlego suspenso: a Corte de Justiça – “que há muito havia se ausentado dali”, diz ele –, após a meia noite do dia quatro, na companhia de uma bela mulher e ao som da “Abertura” de 1812 de Tchaikovsky! “People should not be afraid of their governments. Governments should be afraid of their people”, diz V. em certo momento, deixando-nos arrepiados.
    Uma obra libertária, que nos faz lembrar uma máxima dos “Pensamentos” de Pascal: “… Sucede, porém, que as partes do mundo têm todas tal relação e tal encadeamento umas com as outras, que julgo impossível conhecer umas sem as outras e sem o todo”. (2) Esta idéia vai se desenvolvendo no protagonista e no seu envolvimento com a população — ele usa uma máscara e uma capa negra, como se fosse uma espécie de personagem dos “Três Mosqueteiros” ou do “Conde de Monte Cristo” de Alexandre Dumas Pai, um personagem do Teatro de Variedades –, para concluir que mesmo num sistema que tenta atomizar os indivíduos da sociedade, não terá êxito durante todo o tempo que quiser. A História recente nos deu provas disso.
    É inevitável fazermos uma analogia de nosso “mosqueteiro” com o pós-moderno bin Laden e suas lutas contra os imperialismos americano, inglês e de sua nova “Santa Aliança”.
    Numa Londres fascista, onde os EUA haviam sido destruídos, devido a guerras intestinas, greves, “decadência moral” provocada por imigrantes muçulmanos, latinos, homossexuais, individualismos, ateísmos etc, como gostava de dizer no seu programa televisivo, “The voice of London”, o Lewis Protero.
    O chanceler supremo Sutler (John Hurt), comanda o governo como um big brother orwelliano – ou uma espécie de “Dr. Mabuse”? – sempre virtualmente. O mesmo é arrasadoramente satirizado num “talk show” pelo apresentador Deitrich (Stephen Fry). Após uma série de estripulias entre o chanceler e o mascarado, Sutler ordena que lhe tirem a máscara de V. e aparece o rosto do próprio chanceler! Nada desafia mais o poder do que o riso basta lembrarmos o “Nome da Rosa” de Umberto Eco. Esta metáfora é muito forte se a compararmos com o atual chefe do governo americano. Sutler possuía membros do seu ministério implicados em ataques terroristas com armas virológicas – que destrói os homens, deixando intactos os bens materiais – contra a sua própria população, nas escolas, metrôs e estações de água que provocaram a morte de cerca de 80 mil pessoas, tendo atribuído os fatos a grupos religiosos conservadores e fundamentalistas, com a finalidade de incutir o medo e assim melhor governar os cidadãos. Dessa forma, vimos como pessoas adversas ao regime eram mantidas aprisionadas no centro de experiências do presídio de Larkhill. V. foi a única criatura que resistiu com vida àquelas experiências com vírus, gás mostarda, napalm etc, fugindo durante um incêndio noturno.
    Nesses tempos de apatia política em que vivemos, onde até simples comentários sobre a “arte de governar os homens”, soam como algo extemporâneo, será que estaríamos também caminhando para um totalitarismo de bases fundamentalistas, tendo a cultura ocidental ou judaico-cristã como paradigma com seu neoliberalismo e sua “sociedade do espetáculo” como modelo? Não teríamos uma espécie de fascismo religioso se infiltrando em tudo hoje em dia? Os neoconservadores de hoje não costumam diabolizar seus opositores políticos? A esquerda tradicional brasileira não é constantemente mostrada com feições satânicas pela revista “Veja”? Estaria o mundo ocidental atual, herdeiro do iluminismo secular, entrando num neomedievalismo religioso? Sabemos da volta nas escolas americanas do ensino do “Criacionismo”- que nega a biologia evolucionista ou de que a “Força da Gravidade” não existiria, – e de outros contos de fadas.
    Nosso herói V., a certa altura, diz para sua hesitante companheira de luta Evey Hammond – a estonteante Natalie Portman, que mesmo de cabeça raspada consegue ser um Paraíso –, que a explosão de um prédio, um símbolo — poderia mudar o mundo, referindo-se ao Parlamento inglês. Walter Benjamin em suas teses “Sobre o Conceito de História”, nos diz na sétima tese: “… Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie”. (3) Reflitamos um pouco o que foi o imperialismo inglês para os povos da Índia, China, África, Oriente Médio, América Latina etc, “Onde o sol nunca se punha”; ou o imperialismo ianque no Japão, Coréia, Vietnã, Oriente Médio, América Latina etc. Joseph Conrad, no seu memorável “Coração das Trevas” – obra que inspirou o cineasta Francis Coppola a fazer o filme “Apocalipse Now” –, sintetiza o colonialismo inglês na África, no grito do agonizante Kurtz para o capitão Marlow: “O horror! O horror!” (4). Foram milhões e milhões de vítimas inocentes brutalmente assassinadas pelo colonialismo europeu e americano em todo o planeta. Genocídio que ainda não parou como nos mostra a atual guerra dos EUA e seus aliados, contra o povo iraquiano, e já se preparam para invadir o Irã. Freud tenta nos dar uma explicação para tudo isso, fora das razões meramente economicistas ou políticas, no seu “O Mal-Estar na Cultura” já em 1929: “… os homens não são criaturas que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quando são atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se se levar em conta uma poderosa cota de agressividade.” (5) “Homo homini lupus” de Plauto, Asinaria, II, iv, 88. (6) Sabemos sobejamente que a Civilização também mata como nos reiterou o cineasta português Manuel de Oliveira em palestra durante a “Mostra Internacional de Cinema” de 2004 em São Paulo. Segundo Noam Chomsky, em seu livro “11 de Setembro”:

    “… as potências européias conquistaram grande parte do mundo, usando sempre extrema brutalidade. Com raríssimas exceções, esses países jamais foram atacados por suas vítimas do exterior. A Inglaterra nunca foi atacada pela Índia, nem a Bélgica pelo Congo, nem a Itália pela Etiópia, nem a França pela Argélia. Portanto, não é nenhuma surpresa que a Europa tenha se sentido absolutamente chocada pelos crimes praticados em 11 de setembro”. “(…) os Estados Unidos são um Estado-líder do terrorismo, assim como os países que se constituem seus principais aliados”. Noutra passagem diz: “(…) Os EUA, na verdade, são uma das culturas mais extremamente fundamentalistas do mundo; não o Estado, mas a cultura popular”. (6) Neste mesmo livro, ele nos dá uma definição lapidar do que venha ser terrorismo:…” é o uso calculado da violência ou da ameaça de violência contra uma população civil, no esforço de atingir objetivos políticos, religiosos ou ideológicos em sua essência, sendo isso feito por meio de intimidação, coerção ou instilação do medo.” E ainda: “Os EUA são o único país que já foi condenado pela Corte Mundial por terrorismo internacional – ou por uso ilegal da força com objetivos políticos “. (7)

    Daí, percebermos a atualidade da oitava tese de Benjamin: “A tradição dos oprimidos nos ensina que o ‘estado de exceção’ em que vivemos é na verdade a regra geral. Precisamos construir um conceito de história que corresponda a essa verdade”. (op. cit). Neste sentido, V. e seus ataques não poderiam ser catalogados de terroristas, já que suas ações não causaram danos à população civil – e sim benefícios –, e foram amplamente divulgados com um ano de antecedência, e com uma pontualidade britânica!
    Numa cena na Victoria Station, Evey é flagrada pelo inspetor Finch (Stephen Rea de “Traídos pelo desejo”) quando ele lhe pergunta sobre quem era V., ela lhe responde: “Edmond Dantés, meu pai, minha mãe, meu irmão, meu amigo, você, eu, todos nós”. Ou quando os milhares de londrinos vestidos à la V. ocupam a Trafalgar Square para enfrentar o Exército no dia cinco de novembro, esperando – um desejo coletivo- a explosão da sede do Parlamento, nos trás à memória um fato histórico citado por Jacques Rancière em “O Dissenso”:

    “Trata-se de um diálogo exemplar, ocasionado pelo processo movido em 1832 contra o revolucionário Auguste Blanqui. Instado pelo presidente do tribunal a declinar a sua profissão, ele responde simplesmente: ‘proletário’. A essa resposta o presidente objeta de pronto: “Isso não é profissão”, para logo ouvir o acusado replicar: ‘É a profissão de milhões de franceses que vivem do seu trabalho e que são privados de seus direitos políticos’. O que faz o presidente permitir que o escrivão anote essa nova profissão. Nessas duas réplicas pode-se resumir todo o conflito entre a política e a polícia”. (8)

    Se levarmos em consideração o poder da grande mídia em nossas sociedades contemporâneas, encabeçada pela CNN sediada em Atlanta — de propriedade do supermagnata Ruppert Murdock –, tendo sua presença em mais de 160 milhões de lares, sendo 80 milhões nos EUA e em mais de 200 países, mostrando quase tudo sob o prisma norte-americano e a cena de “V”, quando decide invadir o único canal televisivo da BTN, para fazer um discurso à população descrente dos relatos oficiais sobre o seu atentado, conclamando a todos para estarem ali há um ano na Trafalgar Square, para presenciarem da explosão do Parlamento Inglês, a versão que o governo dá do acontecido e esta citação de Anselm Jappe no seu livro “Guy Debord”:

    “Subordinando tudo a suas próprias exigências, o espetáculo deve, então, falsear a realidade a tal ponto que, como escreve Debord invertendo a célebre afirmação de Hegel, ‘no mundo realmente invertido, o verdadeiro é um momento do falso’(Sde, 9). Todo poder precisa da mentira para governar, mas o espetáculo, sendo o poder mais desenvolvido que já existiu, é também o mais mentiroso.“ (9)

    O “11 de Setembro”, onde o medo foi amplamente disseminado também pela grande mídia brasileira, como se fosse parte de um outro ataque de guerra bacteriológica terrorista contra nossas capitais vinda da “Al-Qaeda”, uma rede internacional em mais de 160 países, como declarou o governo norte-americano naquela época, e que talvez nem exista, ou seja, parte de um novo “mito de uma conspiração islâmica” contra o nosso mundo ocidental, com o apoio da “Velha Europa” como declarou membros do governo Bush numa espécie de nova Cruzada contra o Islã e seu povo que era mostrado nas telas de TV do mundo todo, comemorando os atentados de “11 de Setembro” pela sua CNN. Bush, que após o Patriot Act, chegou a escalar entregadores de pizza, carteiros etc – seus “homens-dedos” — para vigiar a população americana, sendo que esses agentes não apenas fiscalizam o povo, como podiam definir de imediato, a pena de qualquer suspeito — sem direito a um julgamento baseado nas leis da Justiça Americana –, como são aqueles que cumprem pena na base militar de Guantânamo, sendo torturados por tempo indeterminado. Num passado recente, durante a guerra fria, era o fantasma do comunismo que rondava o mundo, agora são os muçulmanos principalmente.
    O medo do carbúnculo ou do “pó branco” nas cartas de papel — que nosso povo não informatizado, ainda usa, e, que se baseava na desinformação generalizada, na omissão política de nossa Comunidade Científica e de suas Associações (SBPC, AMB, SBI, CFM etc) não cumpriram com o seu papel social, num momento tão aflitivo, para nós brasileiros e não souberam nos dar uma real versão dos fatos – estranhamente, estes pós, não causavam vítimas além dos dados normais e estatísticos para o período. Era um medo virtual, como propaganda de guerra, sustentado pela ignorância do que realmente se passava nos dias subseqüentes ao atentado que deu início ao Século XXI, em termos do que seria a nova política dos EUA para o mundo. Naquele momento a nossa grande mídia assumiu — segundo a definição de terrorismo supracitada, que também é a mesma que lhe dar o Departamento de Estado Norte-Americano –, uma postura terrorista contra a nossa população civil, não cumprindo com seu pressuposto maior que é o de bem informar o cidadão brasileiro e com responsabilidade. Por isso houve realmente muito pânico em algumas capitais brasileiras que poderiam ter sido evitados. Daí vem a importância de um cinema comprometido com a verdade política vista sob o ângulo das amplas massas de despossuídos, proletárias – estas que são a mercadoria mais barata existente nas bolsas de comércio neoliberal globalizado.
    Há uma frase de Godard, escrita sobre uma foto de Pasolini que diz: “Cinema: um pensamento que forma uma forma que pensa”. (10) Esta mais uma definição de cinema, pode ser útil como um instrumento para refletirmos sobre o mundo na virtualidade de seus autores, que ao ser percebido pelo cérebro humano adquire uma vida própria em cada homem que o assiste. Dessa forma, as idéias – num filme político –, ao tomarem conta da mente das massas, passariam a ter uma força de caráter material, e conseqüentemente, revolucionária.
    Os governos totalitários – de direita e de “esquerda”- sempre perseguiram a livre expressão artística, tanto é que foi criada a expressão “arte totalitária”, quando se queria estabelecer as semelhanças entre o que era o chamado de “realismo socialista” e a “arte nazista”, que nada mais eram que Classicismo e Renascentismo, conforme podemos ver nos filmes “Arquitetura da Destruição” de Peter Cohen – ver a “exposição de arte degenerada” em Munique -, e no “Olimpíadas” de Riefenstahl – as esculturas gregas e atletas arianos – por exemplo, ou as semelhanças estéticas entre as esculturas de Josef Thorak, Kameradschaft (camaradagem), 1937 e a de Vera Mukhina, O trabalhador e a mulher da fazenda coletiva, 1937, que foram expostos na Exposição Universal de Paris de 1937. (11) Ambos os regimes reprimiram toda a Arte Moderna e perseguiram seus principais autores; lembraria os casos de Meyerhold, Brecht, Kasimir Malevitch, Kandinsky, Eisenstein, Tarkovski, Ossip Mandelstam, Boris Pasternak, Isaac Babel, Alexandre Soljenitsin entre muitos outros. Outras semelhanças podem ser visualizadas, se assistirmos a soberba pesquisa documental feita pelo diretor de cinema já citado, Peter Cohen, em seu filme “Homo sapiens 1900”, onde se evidenciam os projetos eugênicos nazistas, soviéticos, suecos e estadunidenses desde o começo do Século XX. Nesta política o Brasil não ficou de fora: Basta lermos os trabalhos do médico Renato Kehl e o livro de Monteiro Lobato “O choque das raças ou o presidente negro”.
    Neste sentido, há também uma semelhança do acervo artístico que fora destruído ou proibido pela ditadura fascista do filme em apreço e o que se encontra guardado na shadow gallery de V. e na casa do humorista Gordon Deitrich, onde este salvou uma cópia do Al Corão do século XIV e uma fotomontagem pop de Adam Sutler vestido de rainha!
    Como geralmente tem aparecido na história política, a cúpula da Igreja Católica está a serviço dos interesses de governos fascistas, lembro do caso do Papa Pio XII durante a II Guerra, por exemplo. No filme, ela aparece através de um alto prelado, Lilliman – que gosta de “lolitas” – e que depois fora nomeado Bispo pelos serviços prestados mercenariamente nas experiências macabras em Larkhill. Ao ser pego por V. em sua alcova com uma ninfeta, tem o seguinte diálogo:
    — Lilliman: “Oh, por favor, tenha piedade”.
    — V: “Oh, não esta noite Bispo… Não esta noite!”.
    Deixando-lhe mais uma Scarlet marson de lembrança após injetar-lhe seu letal veneno.
    Um dos lemas do partido de Sutler, disseminados pela capital é “Strength through unity; unity trough faith”, não seria perfeito para próxima campanha presidencial nos EUA?
    “Remember, remember, the fifth of November!” “Vi veri veniversum vivus vici.”. Todo homem pode ser uma bomba!

    São Paulo, 21 de abril de 2006. Mozart Cabral.

    NOTAS

    1. Jean Duflot. “Pier Paolo Pasolini: as últimas palavras do herege”, tradução de Luiz Nazário. (São Paulo, Brasiliense, 1983, p.52).
    2. Blaise Pascal. “Pensamentos”, tradução de Leonel Vallandro. (Porto Alegre, Globo, 1973, p.35).
    3. Walter Benjamin. “Sobre o conceito da História”, tradução Sérgio Paulo Rouanet, em “Magia e Técnica, arte e política” (São Paulo, Brasiliense, 1986, v. I, p.225).
    4. Joseph Conrad. “Coração das Trevas”, tradução de Juliana L. Freitas. (São Paulo, Nova Alexandria, 2001, p.123).
    5. Sigmund Freud. “O Mal-Estar na Cultura”, tradução de José Otávio de Aguiar Abreu, em “Sigmund Freud, Obras Psicológicas” organizada por Peter Gay. (Rio de Janeiro, Imago, 1992, p.694).
    6. Sigmund Freud. “O Mal-Estar na Cultura”, 6 nota de rodapé, p.694.
    7. Noam Chomsky. “11 de Setembro”, tradução de Luiz Antônio Aguiar. (Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2002, p.25, 104).
    8. Jacques Rancière. “O Dissenso”, em “A Crise da Razão”, organização de Adauto Novaes. (São Paulo, Minc – FUNART, Companhia das Letras, … , p.378).
    9. Ansel Jappe. “Guy Debord”, tradução de Iraci D. Poleti. (Petrópolis, RJ, Vozes, 1999, p.21).
    10. Revista de cine mais outras questões audiovisuais 37 outubro/dezembro de 2004, em “Memória, história, identidade”.
    11. Brion Fer [et alli]. Realismo, Racionalismo, Surrealismo, tradução de Cristina Fino.
    (São Paulo, Cosac & Naify, 1998, p.262 e 263).

  9. horas do acordar

    sim.

  10. horas do acordar

    era a brincar, não.

  11. Dora

    Como é que recebo as notificações das respostas no mail? Aqui não tem para escolher…help!

  12. Dora

    O Pedro dá-me a resposta no meu blog please. Quero seguir-te, pá! Mas quero receber as respostas.

  13. fernando dalton

    o que voce quis dizer com mais-valia? voce sabe o que isso significa?

  14. pedro

    O que eu queria dizer com “mais valia” é que o Fernando Dalton é um troll que há falta de ter um contributo útil para esta discussão inventou uma questão perfeitamente idiota. Sabe o que significa “Idiota”?

  15. A Lenda

    Boa adaptação, não tão complexo mas sem perder o punch. E a Natalie Portman tá de cabelo rapado. E de cabelo comprido. Tá lá. E chega 😀
    PS: Desde o Mulheres giras que ela me põe assim

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