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Sherlock Holmes (2009)

Quando em 2004 estreou a série House M.D., os seus criadores não tiveram pejo em admitir a sua principal inspiração para tão exótico personagem: Sherlock Holmes. 6 anos depois é a vez do rabo torcer a porca. Fomos então presenteados por um Sherlock Holmes fortemente baseado no Dr. House. Inteligente, mestre da dedução, irascível, controlador, possessivo, violento, sem aparentes princípios morais ou o mais pequeno sinal de respeito pelos seus iguais, permanentemente ensopado em opiáceos e com a fantástica capacidade de transformar um pedaço de aparente solidariedade em mais um acto de cruel egoísmo. E é por isso que o amamos.

Sherlocks há muitos, seus palermas, mas desta estirpe é novidade. A estirpe verborreica Guy Ritchie é uma brisa de frescura na imagem saturada e fortemente adiposa que Sherlock tinha nas novas gerações. Nada de cavalheiros tipicamente british com bonés de caçar perdizes ou chapéus de côco, nada de cházinhos boiolas acompanhados de brioche, nada de cachimbos megalómanos capazes de albergar pequenas famílias de cegonhas. Este Sherlock é o rei da bofetada e da investigação pouco ética.

A narrativa é interessante. Perante um caso de fortes componentes obscuras e sobrenaturais, Sherlock combate Inglaterra inteira com argumentos lógicos, tentando combater ideias de bruxaria e magia negra com coerência e razão. É certo que no final as conclusões parecem um bocado marteladas para criarem a solução do mistério, mas isso interessa pouco porque por essa  altura o nosso cérebro já desligou. Apesar de ser um bom filme, não é nada que nos faço obcecar até de madrugada ou procurar o sentido da vida.

Lamento porém que tenha de se fazer uso exagerado de sequências de acção perfeitamente despropositadas para atrair pessoas aos cinemas que só frequentam filmes de “porrada e/ou carros” e explosões. O filme poderia facilmente viver da própria trama, das reviravoltas, dos mistérios e do estilo Ritchie que quando é usado em doses moderadas é perfeitamente aceitável. Tenho pena que assim seja mas compreendo que esta malta tem que ganhar a vida, e mais vale assim que dar o cu na marginal ou vender droga à porta dos liceus.

De acrescentar um bom Watson, personificado por Jude Law, menos larilas do que é habitual. Ao contrário de parecer constantemente querer fazer umas mamadas a Sherlock, este Watson anda entretido com uma namorada que aparenta ser uma honrada donzela mas que pinta a sua actuação com pinceladas libidinosas que nos fazem constantemente fugir para um imaginário de devassidão e deboche.

Guy Ritchie encontrou um filão duradouro ao ter feito este primeiro tomo ao estilo de filme Marvel, com piscadelas de olho a outros universos Sherlockianos e a prometer que a procissão ainda vai no adro. Em 2011 temos mais uma bela dose de deduções suprahumanas e um toquezinho de charme “i don’t give a fuck because i’m awesome“.

6 Comments

  1. cine31

    Concordo!
    E já viste o “Sherlock” da TV? Diferente deste e dos clássicos.
    http://cine31.blogspot.com/2010/07/sherlock.html
    Espero ansiosamente a segunda temporada.

  2. Sérgio Ramos

    Gostei muito do filme, mais estou a gostar ainda mais do Sherlock na televisão 🙂

  3. Fantomas 2.0

    O Sherlock do Ritchie está engraçado,mas a série que o cine 31 refere é que é surpreendentemente boa!
    Quando soube que era uma versão do Sherlock passada nos dias de hoje torci o nariz.Mas estava enganado,a série mantém o espírito e a identidade das personagens (Holmes e Watson estão perfeitos) do Conan Doyle,além de se adequar a às novas audiências,mas sem ceder tanto ao mainstream e às pipocas como o filme referido.
    Vejam que vale a pena.

  4. samndak

    E o House por sua vez penso que nada mais é que um transplante a esteróides do Perry Mason para a Medicina.
    É um nenuco com indumentária nazi e um singelo bigode.

    Este sherlock é uma tentativa desesperada de sacudir o cheiro a bolas de naftalina de um franchise condenado a faixas etárias bem mais altas.
    Vale pelo esforço, é bem melhor que outras tentativas goradas do género…

  5. Loot

    Bem vista a associação entre o Sherlock – House -Sherlock

    Também gostei deste filme, nada de assombroso mas bem disposto e divertido. E no final tal qual Batman Begins solta-se a carta do grande vilão Moriarty.

    A série toda a gente parece adorar mas ainda não vi.

    Para quando uma versão destas para o Poirot?

  6. Diogo Figueira

    Não gostei do filme. Está muito interessante essa associação deste Sherlock Holmes ao House, em contrapartida da inspiração do segundo no original do primeiro.

    Na verdade, sou um grande fã das histórias do Sir Arthur Conan Doyle e, por isso, já sabia que este filme, recheado de action hollywood moves, me ia desiludir imenso. O que é facto é que perdeu todo o charme, toda a essência da melancolia das jornadas, divagações e estados de espírito das personagens, especialmente do Holmes. Não há um violino que preencha o ar com torpor, um fumo de um cachimbo que nos adormeça no suspense por revelações lógico-fabulosas, um isolamento egoísta e superior.

    Londres está bem retratada, mas não se sente a frieza e o fumo da madrugada que Holmes sempre contrapôs ao quente homicida dos países latinos. E Watson, esse nem comento.

    Demasiado pop.

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