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Battle: Los Angeles (2011)

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O mundo estava em paz, o Verão escaldante convidava a um mergulho refrescante no mar e ao uso de uns binóculos para micar rabo viçoso. Alguns trabalhavam, outros descansavam. Crianças corriam na relva verde dos parques públicos enquanto cães saltavam a apanhar Frisbees. De repente tudo mudou… O mundo parou, estremeceu, ficou embasbacado sem saber como reagir. Uma força avassaladora tomara de tudo. Parecia controlar os nossos gostos, as nossas necessidades e a nossa capacidade de simular estados emocionais. O inconfundível poder do hype tapou-nos o raciocínio como um manto de cegueira.  Tinha saído o trailer de Battle: Los Angeles na Internet e toda a gente queria entrar em criogenia e ser acordada no dia da estreia.

Passado todo o período de expectativa, eis que o filme nos estreia nas salas numa época meio morta, dada a experimentações de distribuição. Mas o filme que vamos ver não é minimamente parecido com o que o trailer anunciava. Isso é surpreendente? Nada. Nos dias que correm qualquer filme tem um trailer de ação imparável a dar a sensação de que se trata de um contínuo imparável de explosões, cacetada de três em pipa e sequências rápidas de ação incompreensível que apenas supomos serem boas porque têm cores brilhantes e música rock por trás. Neste caso joga a favor do filme.

Ora, o que se esperava era um sucedâneo de Independence Day, mas o que temos é um “good old fashioned” filme de guerra, que poderia ser da Segunda Guerra Mundial, do Vietname, na Costa do Marfim ou na cordilheira do Cáucaso. O que significa que o inimigo, neste caso os tais extra-terrestres, acaba por ser irrelevante. Está, portanto, mais próximo de Band of Brothers do que de Independence Day.

O estilo de guerrilha urbana filmada de câmara às costas a altas velocidades de obturador confere-lhe aquele estilo realista todo modernaço que parece ter vindo para ficar, assim como a habitual dor de cabeça e a irritação de não se perceber um caralho nas cenas mais rápidas, o que para ele é bom uma vez que poupam em efeitos especiais. São aquelas cenas em que parece que o cameraman está a ser trespassado por dois relâmpagos em simultâneo enquanto pessoas correm e gritam.

Mas nem tudo é perfeito. Se a primeira hora é musculada e pejada de morte e destruição gratuita, lá chega a parte que todos temíamos: o drama! Meus Deus, o drama. O sargento que perdeu homens no Iraque, a família destroçada pela guerra, crianças irritantes que gritam incessantemente, lições de moral, patriotismo, a música de fundo de fazer chorar as pedras da calçada, o orgulho dos fuzileiros e a inevitável reviravolta no curso dos eventos a favor dos protagonistas que resulta numa ejaculação de americanismo de uma intensidade que há muito não se via.

Balançando as coisas, não posso dizer que tenha odiado o filme. Sim, preferia menos lamechice e mais morte. Preferia que a Michelle Rodriguez tivesse uma presença menos vestida, preferia mais aliens e menos humanos. Digamos que é um filme boff++.

Só mais uma coisa que me incomodou. Na cena final há um grupo de sobreviventes que é recebida como heróis. Atenção que isto não é um spoiler, é um cliché. São recebidos no meio de bandeiras, palmadas nas costas e chavões de nacionalismo e orgulho. É-lhes dito para tomarem banho e comerem alguma coisa para reabastecerem as forças. Ora, estes tristes em vez de comerem um croissant, uma sandes mista, um pratinho de bacon com ovos, fazem um ar durão começam a recarregar as armas e enfiam-se num helicóptero para voltarem à guerra, quais heróis nacionais. Mas mesmo um herói tem que tomar um pequeno almoço. Ok, estavam com pressa para ir matar, chacinar e destruir, mas um bolo de arroz e um pacote de leite com chocolate cabe no bolso das calças. A viagem é longa e pode até dar-lhes a fraqueza num helicóptero àquela altitude. Ao menos um Twix ou um Kitkat. Uma empada de galinha…

5 Comments

  1. Eduardo

    Opá, esse último parágrafo tá qualquer coisa. Ahahah

    Estive para fazer a critica a esse filme no blog da Amplificasom, e a impressão com que fiquei dele é exatamente a mesma que a tua. Eu adoro um bom filme de ação, mas quando a propaganda me resvala no esfíncter sinto-me deveras incomodado. Podiam ter estreado o filme só em Kirkuk, ou Bagdad ou Kabul diretamente para os bunkers climatizados dos marines americanos. É que o filme não tem nada. NADA! E eu que até simpatizo com o Aron achei o papel dele muito fraco.

    Não sei como vi o filme até ao fim, digo-te.

  2. bruno

    Epah, realmente eu fui um daqueles que ficou afectado pelo hype do trailer. Dei graças a Deus quando um amigo de um primo de um enteado da minha vizinha me arranjou uma versão deste filme para eu ver no sofá da sala um mês antes do filme chegar ao cinema.
    No fim é o costume, a primeira meia hora entretém, dai para a frente começa a perder a piada e na meia hora final já não parava de olhar para o relógio…

    Na minha opinião o único filme que valeu pelo hype que teve foi o District 9. Realmente, sim sr. grande filme.

  3. Juliana

    Adorei o blog. Vai já para a minha lista de favoritos. É mais disto que precisamos em Portugal
    Se quiserem passar pelo meu, estou a oferecer dvd’s originais e selados todos os meses.

    http://www.cinemofilia.blogspot.com.

    Continuem o bom trabalho.

  4. João Carvalhinho

    Fui ao aviso, já tinha lido estas linhas… desliguei o cérebro, e vi, com prazer este filme… por vezes dá-me para isso! 🙂

  5. Alex

    Eu achei este filme algo encomendado subtilmente pelo exercito americano para recrutar novos voluntários entre a classe media americana. O militarismo e nacionalismo são gritantes, em quantidades muito acima do recomendado na posologia deste tipo de filmes. Quando isso acontece, é óbvio que existe uma mensagem subliminar de propaganda.
    Ignorando esta idiotice inserida a martelo no filme, verifica-se que é um divertido popcorn flick.

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