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The Ward (2010)

theward (Custom)

A educação nos anos 70 e 80 tinha algumas falhas que aos olhos de hoje podem ser consideradas “primitivas” ou “retrógradas”, tais como a barbaridade de não se poder usar calculadoras em exames ou a aberração de se poder chumba (meu Deus, chumbar!) caso a qualidade dos conhecimentos não ficasse devidamente provada por escrito. Mas havia uma coisa que não existe hoje, que era o incentivo ao respeito pelos mais velhos. E uma coisa que aprendemos é que não se pode julgar um ancião por ter forrado o sofá com fezes ao ter confundido a sala de estar com a casa de banho, mas que devemos sempre ver nele o homem que em tempos foi e a obra que deixou para trás.

The Ward é o regresso de John Carpenter à cadeira de realizador desde Ghosts of Mars, em 2001. Muito se especulou que não mais voltaria a realizar depois da palermice pegada daqueles fantasmas marcianos. O certo é que ainda realizou um episódio de Masters of Horror e agora este The Ward. Esperemos apenas que este The Ward não seja a sua extinção enquanto realizador.

Estamos perante um filme pejado de clichés mas esse não é o principal problema. O cliché sempre foi aproveitado por Carpenter para criar surpresas e para ser subvertido. Aliás, o cliché é elemento obrigatório no cinema mainstream contemporâneo, porque é isso que cria o conforto com o cinéfilo, que o faz estar à vontade logo no inicio de cada filme porque os elementos são comuns. Não diria que é tudo a mesma merda, mas as diferenças não são significativas. Pelo menos no cinema americano.

Qual é então o problema deste filme? Bem, este filme cria uma situação inicial intrigante e depois toda a narrativa é encaminhada para um final que adivinhamos cedo ser de reviravolta. Porquê? Porque há elementos de montagem, técnicas fotográficas e efeitos pontuais que indicam que estamos perante mais do que aquilo que parece. E nestas situações todos sabemos como acaba. Ou é uma agradável surpresa ou um falhanço descomunal.

E quando chega ao fim lá estamos nós perante a surpresa da reviravolta. E não acreditamos no que vimos. Se o final poderia ser um sucesso em, digamos, 1967, hoje em dia quase que se transforma numa piada, uma solução que poderá ser empregue para resolver qualquer embróglio narrativo ou um sketch de britcom. E não é justo, porque isto não é Carpenter tal como nos lembramos dele.

E pode um final ditar o falhanço de um filme? Não devia, mas sim, dita. É a única coisa que nos fica e por muito prazer que nos dê ver os 85 minutos bons, são sempre os 5 minutos maus que selam o destino da avaliação. A revolta, a sensação de traição, o ímpeto de pegar em archotes e forquilhas, a sede de sangue…

Sou fanboy assumido de Carpenter e admito que ele possa fazer filmes menos bons, como já os fez no passado. Escape From LA ou Ghosts of Mars revelam uma clara incapacidade de se adaptar a uma nova era cinematográfica. Mas isso não interessa, os clássicos continuam todos lá, obras do verdadeiro Master of Horror que veneramos. Long live the King.

3 Comments

  1. Alex

    Concordo plenamente contigo. O final seria original e surpreendente há 30 anos atrás, agora é apenas algo saído de um Carpenter que se acha inovador, em aspectos que já são há muito clichés.
    Como ele próprio disse uma vez “Gostava de realmente vos assustar, se Hollywood o permitisse”. Aparentemente ainda não permite. 🙂
    Ainda assim é um filme decente do JC, longe de algo como o “the thing”, mas visualizavel sem o risco de se adormecer.
    A propósito do the thing, não sei se foi uma boa ideia excluir Carpenter do projecto da prequela, a estrear para o ano. Alias nem sei se será uma boa ideia fazer a prequela. O tempo o dirá.

  2. Bruno

    *** SPOILER ***
    Vi ontem o filme. Não dei o tempo por mal empregue mas achei a reviravolta final demasiado parecida ao Shutter Island.

  3. cinemapongal

    Embora inferiores aos clássicos como Halloween ou The Thing, não considero que os filmes que o Carpenter fez, digamos, desde os anos 90 sejam propriamente maus. Além desses que referiste, também gostei do Vampires. Verei este logo que tenha oportunidade. E já agora, pegando na foto que escolheste, a Amber Heard aparece descascada ou quê? 😉

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