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Splice (2009)

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Jazia inerte no meu repositório para “utilizações futuras” quando o repesquei pela enésima vez. Desta feita aguentei os longos créditos iniciais que apesar de belos e necessários para definir o ambiente de arranque de Splice, são extensos demais para um filme que se quer despretensioso em linha com o low profile do seu talentoso realizador, um tal de Vincenzo Natali que viveu em glória aquando da estreia de Cube e em contida efusividade pelo trabalho original e competente em Nothing. Não sendo propriamente o Special One da realização, não é um badameco qualquer que ande lamber rabos à industria como tarefeiro a ganhar à peça e a obedecer aos mercenários hollywoodianos que nos tentam iludir constantemente com operações de marketing de duas horas disfarçadas de cinema.

Não sei como demorei tanto para me decidir, uma vez que a sua premissa é fenomenal. Um casal de engenheiros genéticos criam um híbrido que mais tarde educam num misto de parentalidade / experiência científica, gerido pela falta de ética profissional e distorcido pelos seus próprios traumas emocionais de que padecem mas não se apercebem, com um piscar de olhos à indústria mais interessada em fornecer remédios que curas.

O que começa por ser uma experiência de genética ilegal acaba por expor as debilidades da relação do casal de protagonistas, que sofre bastante perante as adversidades. Como as nossas próprias relações perfeitas que tendem a vergar assim que saem do ambiente controlado directamente pelo casal. Uma lição de vida, como todos os filmes com pretensão à seriedade. Não dá para aprender a fazer hibridos em casa, mas dá para perceber que quando a nossa namorada se transforma em psycho-bitch está na hora de dar ao chinelo e procurar buceta fresca.

A meia hora final não é perfeita, caindo na armadilha de escorregar para dentro dos clichés do filme de terror, com a excepção de alguns elementos. O final propriamente dito é terrível. É umas das 300 versões de final existentes e que depois no DVD aparecem as outras 299. É um pena que assim tenha sido, pois dilui-se num banal horror movie e perde a vantagem moral que podia muito bem ser usada para explicar os malefícios da manipulação do ADN humano, acabar com a fome no mundo e trazer paz à Terra. A chamada “Utopia de Miss Mundo” que só não funciona bem porque já se percebeu que para uns andarem bem outros tem que andar mal, a triste realidade de uma verdade absoluta chamada Entropia.

Apesar de ser um filme que manipula facilmente a atenção do cinéfilo, a partir do meio comecei a  imaginar as maravilhas que David Cronenberg faria com este guião, dando-lhe um estilo “long live the new flesh” como Videodrome, ExistenZ, The Fly, Dead Ringers ou mesmo aquele em que as bichocas que entram pelo aparelho vaginídeo da protagonista.

Tanta treta escrita aqui em cima e ainda ninguém percebeu se vale a pena ver o filme, mas eu respondo directamente às duas perguntas mais pertinentes. Sim, o monstro / criatura / “metáfora que engloba o patinho feio e as crianças que vivem a experiência do divórcio dos pais” está muito bem conseguida, deste a fase fetal à fase final de Belzebu pós moderno passando pela fase intermédia de “gaja boa estranhamente fodível“. E as cenas de sexo são pecaminosamente eróticas. É certo que vão contra todas as regras morais, religiosas e éticas, mas aquele híbrido protagonizado por Delphine Chanéac nua dá pau até mais não, independentemente do facto de algumas partes chave da sua anatomia estarem tão blasfemas como um uma freira numa sessão de bukkake com cavalos hermafroditas.

1 Comment

  1. neurocorpus

    Mesmo com todos os clichês do gênero e pseudo-lições de morais eu gostei bastante de Splice. Remo contra a maré, pois o filme me agradou. Não é nenhum Cypher da vida, mas é um bom entretenimento.

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