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Big Trouble in Little China (1986)


Big Trouble in Little China

O filme de aventuras tem sido um género bastante maltratado nos últimos tempos. Vítima da complacência intelectual que não arrisca narrativas mais ousadas para os projectos mainstream, os filmes de aventuras dos últimos dez anos apostam tudo nos efeitos especiais, perseguições automóveis e nas explosões deixando de parte a intriga e suspense narrativo. O medo atrás de cada porta, o desconhecido, a mais completa imprevisibilidade. São os elementos eliminados em troca do conforto do template narrativo e dos efeitos especiais higienizados digitalmente. Mas tempos houve, meus pequenos amigos, tempos houve em que o filme de aventuras era o rei das salas, o catalizador de sonhos adolescentes, o que nos fazia suportar a horribilidade dos tempos. Falo-vos hoje do maior entre os maiores, Jack Burton e os seus grandes problemas em Chinatown.

Big Trouble in Little China é o último filme que John Carpenter fez para os grandes estúdios, a sua derradeira colaboração com o grande capital e o mainstream. Ainda assim a liberdade criativa foi imensa, como se facilmente constatar fazendo uma simples pesquisa de imagens ou no Youtube. Carpenter livrou-se dos grilhões restritivos das “Leis da Física” e do “Senso Comum” e criou uma explosão alucinogénica, um caldeirão em que mistura o anti-herói desbocado especialista em oneliners que faz tudo para recuperar o amor da sua vida (o seu camião), magia chinesa, criaturas dos infernos, vampiros orientais, super-humanos das artes marciais, rituais satânico, lutas de gangs rivais, o sobrenatural e o metafísico, o saber aceitar o destino e o final mais fulminante e assertivo de que há memória.

Numa época de Indiana Jones, Allan Quatermains, Jack Coltons ou Buckaroo Banzais, Jack Burton excedeu as nossas expectativas sendo tudo o que tinha sido visto até à altura e muito mais. Não fosse Carpenter ter-se chateado com o patronato, decerto que ainda hoje esta haveria de ser considerada uma das melhores trilogias de história da sétima arte (em todas as 8 dimensões). Ainda hoje continua a ser um bom filme e Jack Burton personifica o americano típico com excesso de autoconfiança e carência intelectual, o soldado perfeito.

Um dos melhores filmes de todos os tempos foi ainda a pior vítima das traduções da História dos horríveis títulos portugueses. O trocadilho engraçado “Big Trouble in Little China” levou um horroroso “Jack Burton nas garras do Mandarim”, um título que além de não trazer mais valias em termos de marketing também não faz sentido absolutamente nenhum. Um mandarim tem vários significados, pode ser uma dos dialectos chineses mais usados, um funcionário público chinês (um chefe de divisão na hierarquia portuguesa pós-PREC) ou, o meu preferido, um pudim Flan instantâneo de grande sucesso nos anos 80 e 90. Flan Chino el Mandarim, o imperador dos pudins importados. Ora, em tempo algum se viu Jack Burton retido nas garras de um pudim, enrascado para o exame de Mandarim ou aprisionado por um chefe de secção chinês, até porque todo o filme se passa na esfera dos empresários da iniciativa privada, import/export maioritariamente.

1 Comment

  1. Rui

    … carência intelectual… :)))

    grande filme. dos melhores do Carpenter (depois de the thing).

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