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Warm Bodies (2013)

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Por cada filme de zombies fraquinho que é lançado, Lucio Fulci mata um gatinho do outro lado da tumba. Os filmes de terror que saem actualmente são praticamente todos maus. Os de zombies ainda pior. As causas já foram por várias vezes aqui expostas. A mais recente é esta invasão teenager à procura de emoção,  as caldeiradas hormonais, as imaturidades emocionais de quem não tem um crédito à habitação para pagar ou de quem nunca teve que abandonar o idealismo pela lógica da sobrevivência. Warm Bodies pretende ser o outro lado dos filmes de Zombies, mas é na realidade uma mal disfarçada tentativa de sacar euros à conta de um Twilight com zombies coladinho ao cheirinho de Romeu e Julieta, porque quando se copia de uma obra de Public Domain não é  plágio é adaptação livre.

Qualquer um de vós, desbocados leitores, poderá perguntar-me porque raio vi eu este filme sabendo de antemão a tempestade de merda que daí adviria. É uma questão legítima com a qual estou integralmente de acordo, mas uma pessoa não é uma ilha e compromissos sociais são pequenas cedências que temos que fazer em prol de uma sã convivência familiar. Isto tudo para dizer que um homem tem que acompanhar ocasionalmente a sua mulher num filme de gaja, correndo o risco de enfrentar a mais vil das iras, os olhos incendiados de uma mulher descontente e contrariada.

A produção que hoje aqui se disseca conta-nos uma história do ponto de vista zombie, um ângulo pouco explorado no esgotado filão do filme de Zombie. Um jovem morto-vivo que pensa e filosofa acerca da sua condição. Apercebe-se da sua superioridade intelectual mas não é capaz de se exprimir além do gutural “graurrr” ou o introvertido “hummmrrr“. Um pouco como todos nós quando vamos no Metro a olhar para todas as pessoas e a reflectir acerca das suas pobres capacidades cognitivas de ovelhas seguidistas e das suas indumentárias que no nosso tempo seriam alvo de chacota e o ocasional apedrejamento. R, é o nome do Zombie consciente que se apaixona por uma viva-viva, uma não-morta, e começa a adquirir humanidade. Umas falas, uns gestos, uns pensamentos de paz e harmonia na graça do senhor. Paixão avassaladora, My Heart Will Go OOOOn e toda a pirosice associada a esta opção artística. O amor tudo vence e este Romeu e Julieta com zombies de estética e marketing Twilight vai evoluindo ao espectável final.

O filme tenta aqui fazer uma trindade de géneros, como filme de zombies, comédia e romance (um zom-rom-com) e falha em todos eles. A comédia é flácida a roçar o inexistente, o romance é… que palavra usar para evitar a repetição da expressão “flácida”? A erectilidade do romance é disfuncional. Apagado e as personagens não são apenas mortas no sentido biológico do termo. E no que diz respeito a zombies é o esperado nestas coisas, figurantes com as calças rotas e t-shirts velhas, cheios de pó, cara maquilhada e sangue seco a dizer “hurrrr durrrr grunnnphhh”. Como é para crianças grandes não tem violência nem gore. Nem nudez. Muito menos sexo.

Bom, está visto que não usaria sequer este filme para limpar o rabo, no entanto não sei se este filme agradará ao público alvo, uma vez que mesmo teenagers com o cérebro em flatline percebem que não se trata de nenhuma obra prima. Não se identificam, uma vez que Twilight ocupou todo a área passível de identificação da psique colectiva teenager e do “Mãe, mas tu não me compreendes, mãe! Eu amo-o/a, mãe!!!“. (com três pontos de exclamação)

1 Comment

  1. Azevedo

    Quem vai à procura de Romero queima-se.

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