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After Earth (2013)

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Will Smith sempre foi um insuportável bonacheirão, um pirralho de morais questionáveis, na eterna fronteira do adorável / insuportável / “matem-no com fogo”, um efeito secundário de um sitcom que correu melhor do que esperado. Agora, subitamente, transformou-se num pai preocupado, num modelo de patriarquia. Uma abrupta mudança de direcção cuja inércia do movimento rápido nos deixou a todos com uma certa náusea, algo comparável com enjoo marinho ou como quando atravessamos o Algarve pela montanha junto a Espanha num autocarro de Rodoviária de 1982, com aquele inebriante cheiro que é uma mistura de plástico em decomposição com ceroulas usadas duas semanas seguidas sem ver água. Neste novo modelo de Will Smith assistimos a tentativa após tentativa de enfardar o seu filho na elite Hollywoodiana, como que a querer encaixar um cubo num buraco redondo. É nobre que o faça, é o seu dever de pai. No entanto, como estrela de topo na indústria com décadas de experiência, Smith deveria perceber como funciona a sua própria profissão e compreender que há coisas que não podem ser forçadas. Uma criança sem carisma, sem talento e sem as qualidades representativas do seu pai irá ser, no limite, chacinado pela crítica e pelo público.

After Earth é o limite desta filosofia, o extremo da cunha Hollywoodiana. Normalmente as cunhas para meninos do papá funcionam em Stealth Mode. O papá enquanto governante de topo faz um favor a uma grande corporação, essa corporação promete dar emprego ao papá e aos seus filhos assim que o papá abandone o governo como pagamento pelo favor. Os filhos do papá são depois encaixados silenciosamente num gabinete, que pode até ser virtual, e todos ficam felizes com uma fonte mensal e segura de rendimento que lhes mantenha o vício de cocaína e prostituição sexual e intelectual, alguém que lhes chame “Senhor Doutor” e lhes elogie incessantemente a magnífica inteligência.  Will Smith levou o conceito além e insiste em nos esfregar na cara o seu filho. 24 horas por dia, 7 dias por semana, Will arrasta aquela pobre criança e enfia-lhe a cara em frente de quanta câmara exista, expõe o pobre desgraçado mediaticamente para além de qualquer limite aceitável. Ele cria e financia filmes só para o miúdo não estar em casa a jogar computador e masturbar-se na Internet, para apanhar um pouco de ar e brincar com os outros meninos.

Desta vez Will Smith lembrou-se de uma história de um filho que tem um acidente nas montanhas com o seu pai. O pai cai e parte uma perna e, incapaz de se mover, terá que ser a criança a percorrer uma vasta distância para além de nenhures para trazer ajuda áquelas pobres almas. Simples, não? Sim, simples demais. Porque não usar o conceito e meter esta simples história no futuro? Milhares de anos depois dos humanos abandonarem o planeta Terra, quando a evolução criou fauna e flora mortal para qualquer humano que volte cá a meter os coutos, entre paisagens de infinita complexidade geológica e onde nem o ar é sequer respirável? Assim fica mais complicado. E se metêssemos um monstro extra-terrestre especializado em matar humanos, o pai a morrer porque isto das hemorragias é sempre fodido (e nunca acaba bem)  e um período de tempo muito curto para terminar a missão sob a pena de morrerem todos da mais dolorosa morte alguma vez sofrida num grande (e pequeno) ecrã? Ah, bom! Muito melhor assim. Foi este o guião que Will Smith escreveu para oferecer ao filho um papel de protagonista num grande blockbuster de ficção científica de Verão. A sua prenda de Natal de 2011.

Posto isto, Smith deslocou-se ao site do Instituto de Emprego americano e contratou M. Night Shyamalan para realizar o filme que ofereceu ao filho. Devido ao historial problemático e potencialmente devastador do sr. Night, Smith contratou-o sob a condição de apenas tratar das chatices técnicas. Meter a câmara no sítio, escolher os ângulos, comprar as cassetes, carregar nos botões de “start” e “stop”, escolher as cores e levar os carros dos actores à lavagem automática aos sábados de manhã. Will Smith terá, alegadamente, tratado da direcção de actores, da textura do argumento e de dar carga emocional ao filme. Como a carga emocional se revela negativa, digamos que o objectivo primordial ficou pelo caminho. Existe no público um sentimento de marimbação para o destino daquelas pessoas, torcemos para que a bicharada coma de uma vez por todas o rapaz para que possamos ir mais cedo para a cama. Níveis de empatia destes nem o Uwe Boll. E este seria um filme ideal para Uwe Boll, um tijolo incolor inerte unidimensional.

O resultado é sofrível, pobretanas, fétido… Facto que não apanhou ninguém de surpresa. O miúdo pode ter algum potencial, mas falta-lhe subir a escada do sucesso com trabalho e experiência. O resultado é miserável, por vezes quase constrangedor e aflitivo. Ver aquele miúdo às voltas pela mata, sem aptidões de representação a tentar encher o ecrã e a tentar fazer passar o tempo. E o certo é que o tempo não passa. Arrasta-se lentamente levando com ele a nossa vontade de viver. É um péssimo actor e não tem sequer o appeal de uma estrela de série B, quanto mais de topo. Pode ser que lá chegue, mas digamos apenas que não será o ganhador do Oscar para melhor actor para o ano de 2013. A não ser que o seu pai lamba quanto pénis houver para lamber para o fazer chegar lá.

Will Smith não se reconhece. As feições envelhecidas, o penteado aparolado, num registo de general austero que não encaixa nas suas aptidões nem no seu perfil, não larga um sorriso aquele desgraçado. O que um pai sofre por um filho. Mais valia tê-lo metido numa escola profissional num curso de Madeiras. Ao menos aprendia a fazer alguma coisa, a ter uma profissão a sério.

Nem tudo é horrível, saúda-se o bom senso de não terem caído na tentação de criar um climax de fogo de artifício, com 100 milhões em efeitos especiais no quarto de hora final. Ainda assim coerente, pobrezinho até ao fim.

afterearth

1 Comment

  1. Antonio Sousa

    Que mau feitio adorável 🙂

    “Mais valia tê-lo metido numa escola profissional num curso de Madeiras. Ao menos aprendia a fazer alguma coisa, a ter uma profissão a sério.” LOOOL

    Acho que estão a fazer um remake de Amor Estranho Amor… Pode ser que o Jaden Smith se proponha a este remake…

    Se não sabes qual é o filme deixo-te um excerto

    http://www.youtube.com/watch?v=tzn5jmlW5ZY

    😉 Grande Critica a After Earth 😀

    Abraço!

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