Captain’s Log, supplemental. Estas são as conversas que decorreram no passado dia 24  de Fevereiro numa sessão do consultório do Tio Xunga. Ficam aqui transcritas para que o Facebook não as engula nas nefastas areias do esquecimento. Comecemos então que há muito que ler.

Ricardo T.Tio Xunga, qual é o melhor filme de sempre?
Tio: Commando (1985)

Commando-Matrix-Firing_Rocket_Launcher (2)

Ricardo L.:  Tio Xunga, existe alguma cena de um filme clássico que não se possa fazer hoje em dia por causa do “politicamente correcto”?

Tio: Claro que sim Ricardo. Esta, por exemplo.
ariplane

Nuno C.: Ti xunga que filme aconselha para ver com a minha filha de 20meses?algo que a prepare para a vida. Obrigado!

Tio: Nuno, não é uma questão fácil. 20 meses terá que ser algo intercalado com músicas e bastante slapstick, uma vez que uma criança dessa idade ainda não segue bem a narrativa de um long metragem “scripted”. Terá que ser algo que não faço os seus pais quererem atirar-se para baixo de um comboio. Sugiro um DVD da Ovelha Choné, com a qualidade dos estúdios Aardman, que é agradável para miúdos e graúdos.

O Cannibal Holocaust. A limitada experiencia de vida de uma criança de 20 meses não lhe permitirá perceber o que se passa e como tal não provoca trauma. “Aquilo vermelho por todo o lado? Estão a brincar ao banho de ketchup, filha! He he … hehe… gulp…”

Raquel A.: Tio Xunga e um filme bom para ver num final de tarde chuvoso e solitário?

Tio: Amiga Raquel, terá que ser um filme em contra-ciclo, ou seja solarengo e animado. Sugiro um clássico divertido com Debbie does Dallas ou Princess Bride. Deixo aqui uma lista que fiz com filmes de gaja considerados safe para homens másculos ou moças que não queiram açucar em excesso mas ainda assim gostem que lhe massagem o sistema límbico.

Ver artigo “O cinema como ferramenta de harmonia conjugal

João MV: Caro Pedro, diga-me p.f. o que aconselha a homens temporariamente sós, mas sem grande carga erótico-badalhoca para não acentuar a sensação de noites frias e de isolamento auto-erótico. Obrigado e um bem haja.

Tio: Amigo João, proponho um filme de acção onde não se exagere muito na carga homo erótica. Expendables estará sempre fora de questão uma vez que Stallone e Statham estão permanentemente a um “Take My Breath Away” de uma sessão de linguados e sodomia. Proponho Predator ou um ciclo Sam Peckinpah por ordem cronológica. Só os cinco mais populares. Oito, vá!

peckinpah

João MV: Doutor, nesse contexto, considera a visualização de clássicos com a Sigourney Weaver um risco? Que diz a literatura académica sobre a questão? Crê que posso tentar um apenas e voltar aqui para uma re-avaliação?

Tio: Ver um clássico de Sigourney Weaver pode causar tentações. Deverá consultar a posição da sua religião em relação ao tema do esgalhanço do pessegueiro. No Alien então, ui! Que frio que faz no espaço. Aquela t-shirt a resistir a força inebriante daqueles turgidos mamilos. Hummppfff…

weaver

Pedro P.: Tio xunga qual o melhor filme terror sem muito gore e jactos de agua vermelha? 😉

Tio: Pedro, aconselho 3 filmes algo similares entre si e bastante diferentes do clássico horror/gore. Em primeiro lugar uma comédia de terror neo-zelandesa que vi recentemente chamado Housebound (2014). Os outros são Babadook (2014) e El Orfanato (2007). Escusado será dizer que será sempre necessário levar uma muda de roupa interior extra. Não são sangrentos nem gore. Antes fossem…

Brain M.: Tio xunga, qual o filme indispensável a ver no cinema em 2015?

Tio: Star Wars 7. Dah!

Diego PG:  Tio Xunga, o que tem a dizer sobre.. [curta metragem booleg de Power Rangers de Joseph Kahn] (pelo menos tem sangue)

Tio: Passei o dia todo a ouvir falar desta curta. Não liguei. Para mim Power Rangers sempre foi aquele produto sensaborão e mal acabado que nem aos meus cães deixo ver. Só apreciei com redobrada euforia o dia em que a power ranger rosa apareceu nua na internet. Aliás, como todos nós. Falaste nisso e eu fui investigar. Surpresa: as versões existentes são todas censuradas e a versão original com as mamas foi bloqueada pelo Vimeo e pelo Youtube. Havendo uma versão com mamas porque haveria eu de ver uma merdosa com gajas vestidas. Procurei e lá encontrei. Estava à espera de coisa amadora feito por uns putos com demasiado tempo livre e pouca vontade de estudar. Muito surpreendido fiquei. Será assim nestes moldes que tem que se apostar nos remakes de séries no futuro. Duvido que alguma vez se faça uma coisa comercial disto porque estes filmes são sempre para acumular carcanhol e se os putos com menos de 16 anos ficarem de fora e as narrativas não forem convencionais o filme morre na praia. Em todo o caso, aconselho vivamente a todos esta curta. Boa prova de conceito, bom design de produção, bons actores, há valor neste filme. Por outro lado os textos são demasiado vulgares e formulaicos e tem dubstep a mais para o meu gosto. (ou lá como os putos chamam a este techno merdoso que agora por aí anda).
Nota: Julgo que a palavra “formulaico” não existe na língua portuguesa. “fuck it anyway” também não

David JM: Tio Xunga, que filme recomenda para inspirar um blogger em crise criativa? (é para um amigo meu)

Tio: Confrade David, há cerca de dois dias atrás vi um filme quase por acidente que me surpreendeu. Nada sabia de antemão e o poster não augurava propriamente obra prima. Só lhe via a capa em tons de rosa romance com um cão e um gato. No resumido resumo, resumia-se que um jovem esquizofrénico fala com os seus animais de estimação… qualquer coisa… amor… gajas… Ryan Reynolds. Ryan Reynolds? Oh diabo, bela merda que daqui vai sair. “Mete lá um bocado”, disse a patroa. E nestas coisas uma gajo tem sempre que obedecer. E preparava-me eu, insuflado de preconceito e munido de um largo saco de maldicência para esquartejar o filme quando se revela umas das melhores comédias negras que tenho visto ultimamente. É certamente o melhor filme de Ryan Reynolds. Uma espécie de Dexter sem a vertente social e telenovelistica, com um cheirinho da boa e velho ultra-violência embrulhada numa adocicada demência alucinogénica. Não se enganem à espera do próximo Shining, é apenas um filme que se vê sem remorso. E isto é dizer muito de um filme americano nos dias que correm. É realizado pela moça iraniana que fez o Persopolis. How cool is that?

thevoices
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Rui AS: Tio-Pai-Avô-Bisavó Xunga, qual é o melhor filme da história da galáxia depois do Commando?

Tio: Olá filho, é um prazer ver-te aqui. A entremeada que te mandei pelos CTT chegou bem? Parabéns pelo reconhecimento da academia dos teus pares e obrigado por teres feito uma menção ao paizinho no glorioso discurso de agradecimento. No seguimento da pergunta que aqui me trás, devo dizer que escolher apenas um, ou três ou dez é sempre um tormento. As listas de filmes favoritos são sempre incompletas e injustas. O que é um filme favorito? É algo muito pessoal e toldado entre 40 a 50% por irracionalidade emocional. Porque é que gosto tanto do Commando se é um filme que está tão longe da perfeição cinefila? Porque me ligo a ele por um forte elo emocional, a começar pelas idas com o meu pai ao cinema nos anos 80, pela sua passagem pelos clubes de video e a guerra que os putos faziam para o alugar até aos dias que correm onde efectivamente é dos poucos filmes que posso ver todos os dias sem me fartar. E não estou a exagerar. Ainda sinto o cheiro a mofo e humidade do extinto cineteatro avenida (o que foi demolido) quando o vejo. E os gritos da plateia, as interrupções pelos funcionários com as lanternas à procura de lugar, tudo a envolvência que transformava em magia pura todos aqueles acontecimentos para um miudo de 12 ou 13 anos. Posto isto vou aqui deixar uma pequena lista de filme que são, também eles, a perfeição segundo a Haus del Xunga.

Come and See (1985), Pierrot le Fou (1965), Once Upon a Time in America (1984), The Wild Bunch (1964), Once Upon a Time in the West (1968), Alien (1979), Bananas, Sleeper e Zelig (woody allen), Naked Lunch (1991), os dois primeiros Indiana Jones, Braindead (1992), Mad Max 2: Road Warrior (1981), Goodfellas, Clerks, Predator (1987), La Haine (1995), Life of Brian e Holy Grail (Monty Python), Terminator 1, 8 1/2 e Wild Strawberries. Assim que me lembre de repente. Incompleta e injusta, repito. Ah, Rambo 1 e 2.

André V: Ora viva caríssimo Cinemaxunga. Qual o melhor período da indústria cinematográfica e porquê? Expectativas para o próximo Alien?

Tio: Tenho vindo a desenvolver uma teoria que tenho a certeza que irá ser provada com o tempo que é o seguinte: a melhor época cinematográfica do cinema americano é sempre a década em que nascemos. No meu caso, que nasci em 1973, considero esta a época de ouro de Hollywood. Aliás, até considero o ano de 1973 um dos melhores anos de sempre em cinema. Veja-se este exemplo meramente ilustrativo:
http://letterboxd.com/films/year/1973/

Esqueci-me de responder à questão dos Aliens no Facebook., respondo aqui. As expectativas são altas. Estou bem com o facto de ignorar o 3 e o 4.  Por muito que goste de Jeunet, não posso aceitar este Alien  como cânone.

Sofia S: Dr Pedro Cinemaxunga, esclareça-me por favor: acha que a mulher no Cinema actual tem um papel mais forte do que há 50 anos? Obrigado pelo tempo de antena. Um beijo pornográfico desta sua escrava e fã.

Tio: Prezada escrava e fã. De facto a mulher cada vez assume um papel menos submisso e mais independente no cinema actual. Apesar desta constante onda de feminismo militante querer igualdade selectiva no panorama cinematográfico actual, o certo é que até aos anos 80 era quase obrigatório haver uma cena em que uma mulher fica histérica e o problema era resolvido com quatro valentes bofetões seguidos da mítica frase “pull yourself together”. E elas acalmavam, como se lhes tivessem dado um copinho de água com açucar ou um Xanax. Para as pessoas perceberem como as coisas eram, deixo uma pequena compilação chamada “The golden age of broad smacking” onde actores famosos assentam sopapo nos seus interesses amorosos e elas agradecem a atenção. Agora vista pelo menos umas calcinhas para não se constipar, prezada escrava.

Diogo AM: Caro dr. Xunga:
1) mande um grande abraco meu ao miguel sousa tavares que pelo q percebi esta a dar uma perninha no seu call center
2) prometo n fazer qq tipo de perguntas sobre o prometheus (nem sequer referir) para q o seu callcenter nao seja inundado por chamadas
3) o q acha da histeria à volta da nao-nomeacao pessoas “de cor” para os presentes oscares. Acha q a criacao uma cerimonia alternativa em que todos os “homens brancos” do cinema eram chicoteados sem do nem piedade em publico apenas por serem homens e brancos poderia acalmar a coisa?
4) peco desculpa pelo longo texto mas estava no autocarro para o trabalho e nao tinha mais nada para fazer.

Tio: Abraço ao Miguel = entregue. Prometheus é luz, Prometheus é a salvação. Quando aos actores não-caucasianos (que antigamente chamávamos pretos) julgo haver um paralelismo no cinema com as mulheres. Ainda há 60 ou 70 anos eram interpretados por brancos com a cara pintada de preto e hoje conseguem fazer parte do star system com reduzidas taxas de xenofobia. A tendência será de terem mais peso na indústria, mas isto do cinema é um negócio que só é rentabilizado dando às pessoas o que elas querem ver, nem que isso implique elencos de gente alva como leite a representar lideres africanos, orientais e arabico-persas. Aliás, até acho que os actores e autores de tez mais escura têm sempre boa representação nos Oscares quando comparados com Hispânicos, orientais, europeus (excluindo bifes de inglaterra) e malta do crescente fértil que também são todos eles grandes parcelas da população americana. Criar mecanismos de discriminação positiva continua a ser discriminação. O tempo tem dado a entender que a civilização acabará por se equilibrar. provavelmente não no nosso tempo de vida, mas lá virá o dia em que pretos e brancos se unam para odiar de mão dada e em uníssono orientais, árabes e hispânicos. Posto isto diria que sim, propunha um espectáculo onde as actrizes fossem despidas, untadas em luzidios óleos e espancadas suavemente com aqueles chicotes que é só a fazer de conta. Eu via isso. Todos os dias. E acordava de noite também se fosse preciso.

Hélder A: Doutor Xunga, já cheguei tarde. Que castigo cinematográfico mereço por tal blasfémia?

Tio: Dois Commandos, Rambo II, o episódio piloto de Space 1999 e 4 episódios de Benny Hill. Aprender a tocar as respectivas bandas sonoras em flauta até à próxima segunda feira.