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Nalgas Film Festival – Parte 3

Pedimos a todos os realizadores para nos mandarem um videozinho para servir de introdução ao respetivo bloco. Concordaram e fizemos uns separadores bem catitas com os nossos amigos a debitar conhecimento antes da sua hora. Ricardo Machado, Luis Alves e Francisco Lacerda contribuíram assim para o aconchego especial deste momento. Bigas Luna, infelizmente, não respondeu ao repto deixando-nos pendurados. Falta de respeito daquele espanhol que, certamente, estará a vender caramelos no além.

Por fim veio a resposta do Filipe Melo. “Não gosto de me ver em video. Nem falar. Pode ser um texto?”. Ora essa, aquele jeitosão que toda a genta adora? Como não gosta? “Vá lá Filipe, não custa nada!”. “Népia!”, respondeu. Sem usar a palavra Népia, claro, que é um homem de cultura. E ainda sugeriu “Mando um textinho, pode ser?”. Senti um *gulp* a aparecer-me na garganta na medida em que sabia a resposta à pergunta que ia fazer “E quem vai ler esse texto?”. Filipe finaliza com uma Fatality “Tu!”. “Jesus H. Cristo!”, pensei. “Já me fodeu!”. Acabei por ficar descansado, porque estava quase a chegar o dia e o texto estava esquecido. “Já me safei. Esqueceu-se de mandar o texto. Yey”. Mas no dia 3, na azáfama do festival, vem a Carla Rodrigues encostar-se ao ouvido e diz “Falei agora ao telefone com o Filipe Melo e ele diz que te vai mandar um texto para leres, ok?”. Fiquei um bocado ansioso, estava ali tanta gente, meu deus. Ainda pensei que provavelmente não haveria tempo, havia que seguir com a sessão. *gulp*. Não queremos interferir na cirúrgica calendarização, o Carlos falecia com tanto atraso. Mas a Carla pega no megafone e diz a toda a gente “Hey pessoal, *som de feedback*, o Pedro vai ler o texto do Filipe Melo, Ok?” Ok?”. E ficou assim definido que eu, Pedro, o amigo imaginário de meia internet que tanto preza ficar nas sombras, teria que enfrentar aquela centena e meia de pessoas e ler o texto do Filipe Melo. Colocarei o texto mais abaixo.

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Last Action Hero (1993)

Haveria de passar uma semana até saber o que o destino havia guardado para o futuro do cinema. Mas naquela noite, ao início da madrugada de um tempo em que apenas existia para mim a sessão da meia noite, naquela noite fresca e convidativa para a juventude se abandonar à conversa casual e das certezas absolutas dos 20 aninhos, naquela noite tinha saído do Cineteatro Avenida em Coimbra onde vi o Last Action Hero. Os meus olhos brilhavam como uma teenager de Anime e o coração batia forte. O último filme de Arnold Schwarzenegger era um marco incontornável no cinema e na carreira do meu action hero preferido. Arnie reinventou-se numa altura em que toda a gente se perguntava “E agora? O que vai Schwarzenegger fazer quando já chegou ao pináculo?”. Bom, e foi assim que se reinventou num meta filme dentro de um filme dentro de um filme a olhar de fora para dentro e, simultaneamente, de dentro para fora, e dos lados e de cima para o cinema. Inverter a estrutura, partir a 4ª parede e criar a 5ª dimensão.

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Little Mermaid (1989) e o efeito Mandela

O efeito Mandela é um chavão usado muito na Internet para definir aquelas situações em que nos lembramos erradamente de coisas que nunca existiram, como se existissem num universo paralelo. Foi assim baptizado porque se associava a pessoas que se lembravam vividamente que Nelson Mandela teria morrido na prisão. A mim aconteceu em duas situações recentemente e sempre relacionadas com cinema. A primeira foi ao ler o livro Ready Player One. O nosso protagonista citou a expressão “Oh my God it’s full of stars” dizendo tratar-se de uma frase do filme 2010. Ora, que raio! Tinha quase a certeza que era do 2001. A frase que o Dr. Dave Bowman diz ao entrar no campo estrelado como novo humano no final do filme. Curiosamente aparece no livro, que também li. Aparece depois em maior proeminência no 2010, livro e filme. Ah caraças, andei a citar mal toda a minha vida.

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Pumpkinhead (1988)

Não é raro que alguns prodígios de áreas técnicas de Hollywood assumam o leme de projectos pessoais de modo a poderem expandir as suas capacidades, em vez de ficarem à mercê dos realizadores. Não costumam ser projectos rentáveis mas são quase sempre divertidos e memoráveis. Como Dark Crystal de Jim Henson e Frank Oz, Maximum Overdrive de Stephen King e este Pumpkinhead de Stan Winston.

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Ah, é verdade! Valerian (2017)

Ah, é verdade! Valerian… Bom, para fazer o teste da ficção científica ao miúdo lá fomos ver o Valerian. Começou mal quando me foi dito que os descontos, cartões, talões, promos, cunhas, piscadelas de olho ou subornos em pastelaria não funcionam nesta sessão. Mostrei o cartão de colombófilo, a funcionária voltou a acenar negativamente com ar zangado. Preço de antestreia, oito euros e meio. Sem óculos. Com direito a pipocas, o balde mais pequeno. De meio metro cúbico. Já não pagava tanto por um bilhete desde… sei lá, provavelmente nunca paguei tanto por um bilhete. Aposto que há países orientais em que se podia fazer uma orgia de médio porte com este valor. O que hei-de fazer? O prometido é devido. Meti o meu saco de rúpias com o símbolo de cifrão em cima da mesa e pedi os bilhetes. Sala composta, este trimestre a NOS apresenta resultados positivos à custa das minhas poupanças. “Até ao fim do mês o jantar é salsichas Izidoro todos os dias, miúdo!”. Deu-me um sorriso de cortesia com os olhos de “lá está o meu pai com aquele discurso que ninguém entende”.

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Menino, amanhã vamos ver o Valerian!

Uma das conversas que tive recentemente com o meu filho revelou-se um pesadelo paternal. Na sequência de um conjunto cirúrgico de elaboradas perguntas cheguei à catastrófica conclusão que o miúdo não tem interesse por ficção científica. “Como é que isto é possível?”, pensei. Quer dizer, parece-me humanamente impossível alguém não gostar de ficção científica, esse género nobre das artes narrativas. Star Wars? Nada. Star Trek? Quê? Desenhos animados nos canais de putos com temas de ficção científica? Nenhuma. Temática sci-fi no Netflix? Nem lhe toca. Nessa noite adormeci em posição fetal banhado em lágrimas. O pontapé furioso com o dedo mindinho descalço num canto bicudo na cómoda não ajudou a aliviar a dor. “Então é isto que tanto falam, na desilusão de um pai que criou um filho para nada.”. Chorei no ombro da minha esposa.  “Tenho quase a certeza que não é nada disso.” Respondeu-me ela. “Eu também não gosto de ficção científica.” Incrédulo, gritei num tom agudo e pueril. Senti uma das chávenas da coleção Space 1999 a rachar com a frequência. “O… quê???? E os filmes que vimos?”, perguntei furioso. “Menti. Fingi. Pronto, está dito!

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Mermaid (2016), metamorfose ao luar

Acto 1 – Chinese Demagogy

O Português tentava dormir, anestesiado por um jetlag eterno, quando alguém bate à porta. Manteve-se deitado e tentou combater alguma ansiedade natural para quem está sozinho do outro lado do mundo. “Num hotel não haverá concerteza perigo”, pensou. “Deve ser engano.”. Virou-se para o outro lado, submerso em almofadas numa fofura artificial que só as cadeias internacionais de hotéis sabem fazer. A criar a sensação de que estamos em casa em qualquer local do planeta. Não em casa, Casa. Naquela casa genérica que é o conforto da segurança, a capacidade de manter o ritmo cardíaco numa estável apatia. A mesma razão pela qual as pessoas costumam argumentar que comer no McDonalds é a opção mais segura quando se viaja para o estrangeiro. Pode ser merda liofilizada e infectada a gorduras trans, aminoácidos sintéticos e cancros fulminantes, mas tem sempre o mesmo sabor em todo o lado. Aqui, na China, também este pacato cidadão do mundo procurava aconchego nestas almofadas fofas com cheiro a benzeno disfarçado com perfume genérico. Batem novamente à porta, apressadamente. Um ralhete percussionado, como um “levanta-te seu merdas” da batucada. Desta vez sentiu-se um merdas e levantou-se. Dirigiu-se apreensivo à entrada. Um membro das máfias russas ou um assassino do Partido podia ter discordado da sua visão para o futuro dos botões de pulso e preparava-se para lhe limpar o sebo com uma corda de guitarra ou uma sandes de polónio 210. Podia ser da recepção, com um recibo. Os chineses às vezes não têm a mesma noção de prioridade que nós, os tipos do ocidente. Há casas de banho onde se caga em comunidade, sem paredes separadoras. A malta senta-se, caga, fala de negócios, lotaria, novelas e sugestões de especialistas para ver essa verruga nos tomates, limpa o cu e vai-se embora. Garantem especialistas que se poupa imenso em papel e água. Também em tempo e recursos financeiros na construção das infraestruturas de cagar, as chamadas “casas de banho”. As fábricas adoram. Abriu a porta e não havia ninguém. Saiu para o infinito corredor alcatifado e nada. Um quilómetro para cada lado, a perfeita geometria arquitectónica a embocar num ponto. Nada. Onde teria ido o artista? Certamente não era possível correr suficientemente rápido para desaparecer assim. “Pfff”, voltou irritado para dentro. Ao fechar a porta reparou num envelope no chão. Abriu e tinha um postal com umas moças semi-nuas a publicitar uma gama de pneus para SUV cujo logotipo era bastante similar à Pirelli. “Chineses e mamas grandes”, pensou, “algo que não se vê todos os dias por aqui.” Virou o postal e lia-se em letras sublinhadas: VAI VER A SEREIA. A PARTIR DE AMANHÃ HÁ LUGARES DISPONÍVEIS.

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Rogue One (2016) em formato FAQ

No ano passado estreou o capítulo VII do Star Wars, que vinha tão embezuntado em hype que não havia rabo que não estivesse pronto para o acomodar sem reservas. Uma banhada, o soft-reboot como agora lhe chamam. Como se este inglesismo viesse atenuar o facto de que se tratava de um remake. Encapotado, mas remake. Estava tudo tão esfomeado que caiu como comida fora de validade num lar de sem-abrigo. Podem ler tudo aqui.

Um ano depois chega a entremeada, as fatias de “vejam isto enquanto não acabamos o outro”, numa cadência que se espera repetir-se até ao final dos tempos. Mesmo quando, lá para o final do século, as coisas começarem a esmorecer e apareçam títulos como “Star Wars: Missão em Miami”, “Agora é que são elas, o lado rosa da Força” ou a trilogia das origens do tocador de harpa daquela banda do bar de Mos Eisley.

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Os perigos do Binge-Watching e de ver franchises de uma assentada.

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Imaginem que ao telefonar para um passatempo do programa da manhã da Rádio Comercial o Palmeirim vos diz que ganharam um prémio. No meio de uma inaudível cacofonia de gritaria com reverbe e uma algazarra de efeitos sonoros, consegue-se perceber que é um prémio e que foram vocês a ganhar. Uma feliz improbabilidade que faria cair no vosso regaço um pack-putedo no Berbigão Incandescente em Mortágua. 10 das mais leitosas noviças, para poderem degustar a bel-prazer. Ondulantes e roliças carnes. Sem prazos e cheio de segundas oportunidades. Bumbuns gulosos. 10 vale-putedo que é só trocar na entrada, apontar para a meretriz desejada e levar para o quarto para esgaçar até cheirar a carne assada. E vocês, na ânsia do tresloucado deboche, decidem gastar tudo numa noite. Porque querem testar todas, porque acham que a seguinte será a melhor, porque não descansam enquanto não as virarem de cabo a rabo. Na afã de amanteigar o farnel, chegam a nem apreciar os climaxs já a pensar na próxima barregã de quatro a fingir que não está a pensar se deixou o gás ligado. Acabam a noite e vão para casa apáticos, com uma ligeira satisfação no canto daquela grande armazém que é a vossa sensação de vazio. A precisar do aconchego de um abraço.

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Universos cinemáticos, o cemitério do Fanboyismo

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Há uns anos escrevi um artigo acerca das razões que me levaram a abandonar a televisão convencional. Não apenas séries, mas toda a programação televisiva que está a passar em tempo real. Resumidamente, as razões que me fizeram abandonar séries de TV é a maneira como são geridas. Se são boas mas têm pouco sucesso comercial, são canceladas ficando o telespectador entalado com as questões que lhe tiram o sono. Se são boas e têm muito sucesso comercial são esticadas em décadas de temporadas, sendo que aquilo que as fazia inicialmente boas é diluído ou transformada numa versão de si própria, mas com sabor a sola de chinelo. E o mesmo está a acontecer com o cinema comercial, o esquema do blockbuster moderno irá colocar em vias de extinção o fanboyismo militante.

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A magia de James Cameron em Escape From New York

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Antes de ser o mais lucrativo realizador da História de sétima arte, James Cameron foi um profícuo artista de pinturas matte. Um dos seus trabalhos mais notáveis foi em Escape From New York , do nosso avôzinho do cinema John Carpenter, em que criou um convincente cityscape de Nova Iorque do pós-apocalipse. Além de fazer a pintura que vemos nesta cena, Cameron também foi o director de fotografia para efeitos especiais. De notar que esta sobreposição foi filmada directamente na câmara e não colocada em pós produção. Ora vejam lá:

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Sicario (2015) e as mamas de silicone.

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Há uns meses, quando vi o Sicario, encontrei um vídeo da empresa que lhe fez os efeitos especiais com decomposição das camadas de componentes feitos a computador. Pensei “Chiça, que um gajo já não pode acreditar em nada”. Mostrava centenas de elementos que foram colocados em pós-produção que à primeira vista ninguém acreditaria que pudessem não estar realmente lá à altura das filmagens. Quer dizer, obviamente que fica mais barato sobrepor um esquadrão de helicópteros de combate do que construir réplicas ou alugar verdadeiros. Só que um gajo deixa-se levar pelo embalo do filme e não pensa nisso.

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As primeiras impressões do Netflix português

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Há cerca de um ano este blog que vos escreve ganhou a categoria “melhor artigo de cinema” dos célebres TCN Blogs Awards com um texto que se entitulava “E o Netflix português? (o estado da nação)“. Entretanto, com a aproximação da implementação nacional desta plataforma, as minhas expectativas foram baixando. O mercado português não tem espaço para uma plataforma destas, uma vez que não acarreta poupanças, ao contrário do que acontece nos seus mercados de origem. Além disso, os downloads alternativos no videoclube do povo estão demasiado enraizados na nossa cultura para começar a pagar por hábitos que são, até à data, tendencialmente grátis. Ora, eis-me aqui com uma conta aberta e uma experiência curta mas intensa da plataforma. Valerá a pena despender uns 10 euros mensais extra no Netflix?

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Commando explicado às crianças

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Este fim de semana perguntei à minha filha de 5 anos se queria ver o Commando comigo. Ela, formatada pelas opiniões da mãe, parte do princípio que todos os filmes que o pai vê são horríveis pastas de terror, morte, cocó e xixi (mas com menos piada). Ora, tive que puxar por mim para a convencer e expliquei-lhe que o filme seguia a seguinte narrativa:

O rei Matrix e sua filha, a princesa Jenny, moram no mais belo castelo no alto da mais alta montanha. Passam o dia a passear pelas frondosas florestas de castanheiros a brincar com os animais e a comer gelados. Ocasionalmente o rei finge estar distraído e a princesa Jenny suja-lhe o nariz com gelado caseiro de mirtilhos. Um dia o bondoso rei deu folga a todos os soldados para que possam passar o feriado do reino, o Festivus, com a sua família. Nesse mesmo dia, aproveitando o rei e a princesa estarem a fazer cupcakes de morango, o invejoso feiticeiro Bené invade o castelo. O corajoso rei consegue bloquear a invasão e manda alguns ajudantes o maléfico feiticeiro para o céu dos maus. No entanto o feiticeiro consegue enganar o rei e rapta a princesa. O rei, furioso, promete apanhar o maléfico feiticeiro e dar-lhe uma valente tareia.

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O embuste Ninja dos anos 80

embusteninjaO “ninja” é um guerreiro medieval japonês encarregue de matar samurais. Enquanto que o samurai se orienta por um complexo e vinculativo código de ética, os ninjas eram carteiros, peixeiros, pescadores, correctores da bolsa, amoladores de tesouras, decoradores de interiores, etc que se dedicavam a matar sem escrúpulos, escondidos pelo negrume da noite. Ora, nos anos 80 Menahem Golan terá lido meia página na diagonal de um livro de História e decidiu fazer um filme de ninjas. Não o normal ninja japonês, muito desinteressante. Golan criou um ninja mágico, místico, indestrutível, demoníaco, metafísico… Esse filme, Enter the Ninja (1981) haveria de moldar a imagem do ninja na moderna cultura popular, criando um símbolo de guerreiro perfeito, invisível e imbatível. Os que vestem de preto e branco, porque os vermelhos e amarelos são o equivalente às camisolas vermelhas do Star Trek. Só lá estão para fazer “blarghhhh” depois de 3 segundos de tempo de ecrã.

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Mission: Impossible – Rogue Nation. The Chinese Connection

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Apesar de nunca ter sido grande fã de Tom Cruise, várias são as vezes que admito publicamente que é o actor que melhor gere a sua carreira. Tanto pela escolha como pelo papel de produção que desempenha quase sempre para garantir que as coisas correm como planeado, ou pelo menos como ele planeou. Este último Mission Impossible acabou por ser mais fraquinho que os outros, sendo ainda assim um blockbuster acima da média. Não por ser um bom filme, mas porque a média é baixa. E posto isto de parte queria falar-vos na nova tendência de investimento de dinheiros chineses em blockbusters. Reparei que Mission Impossible 5 foi produzido pelo China Movie Channel e pelo Alibaba Movies. Ora, não tenho nada contra as co-produções, sendo uma estratégia muito usada na Europa para unir esforços em pequenas produções para criar obras maiores, que de outra maneira não teriam possibilidade de existir. Com os blockbusters a conversa é outra. O próprio conceito de negócio é maximizar o lucro, vender produtos em paralelo e espalhar ideologias. O blockbuster americano já é um género muito condicionado em temas que pode abordar porque tem que abranger uma gama imensa de público para fazer dinheiro. Nos Estados Unidos são inúmeros os tabus, sejam religiosos, políticos ou morais. Todos sabemos quais são porque vimos blockbusters desde a nascença. Imaginem agora um pequeno exercício matemática de grupos, em que interceptamos os tabus americanos com os chineses e ficamos com uma lista ainda maior de tabus. Se mais um ou outra cultura quiser também investir (muçulmanos, indianos, tailandeses, etc) o âmbito de coisas a abordar tende para zero.  Fiz-vos uns gráficos para elucidar a questão.

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A mortalidade infantil no cinema de terror

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Há uns tempos escrevi o post “5 filmes tenebrosos para quem tem filhos” onde apresentei uma pequena amostra daqueles filmes que nos custa a ver a partir do momento em que pequenas e adoráveis criaturas criadas a partir do nosso material genético (opcionalmente) nos tomam conta do quotidiano. Filmes que antes se viam sem problemas mas que agora são difíceis de engolir porque a empatia é umas das características nucleares do que faz de nós humanos. Ora hoje venho falar-vos de algo ainda mais doloroso, filmes onde se matam crianças. Esta situação passava-me completamente ao lado quando não tinha filhos, afinal era mais alguém a morrer no meio de tantos que são apenas personagens de um filme, não é? Pois é! Mas a malta imiscui-se na trama e acaba por levar aquilo a peito, pelo menos enquanto o está a ver e depois de ter filhos é tramado. Para mim são particularmente dolorosos e mais vale um gajo falar das coisas que nos tiram o sono do que absorver tudo e passados uns anos atirar-se para baixo de um comboio ou levar meia procissão à frente com uma Kangoo a 120 km/h na festa da aldeia.

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Terminator Genisys (2015) e o desastre do casting

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O assunto que aqui me traz é de grave transtorno. Uma negra tristeza que me percorre o sistema nervoso, suores frios nocturnos, a perda de esperança num mundo melhor. Faz semanas que vos quero falar disto, mas parece que se me forma uma bola na garganta que antecede um terrível camadão de nervos. O último Terminator não é grande coisa. É mau, uma obra que não mereceu a atenção merecida aquando da feitura. Uma facada no nosso imaginário e na nossa infância. Não é só o facto de ter trazido spoilers no trailer, é também a situação que retrata esse spoiler ser de um atraso mental que lhes valeria um taxa de IRS de 0% por invalidez total. John Connor é um Terminator, aliás, é o pior dos terminators. Mas como? Quando? Porquê? Que raios… Como é que isto foi acontecer? Não interessa. Pior que isto é o casting, que é terrível. É medonho. Andaram com uma espátula a raspar a zurrapa de Hollywood para nos matar os personagens que tanto amamos. Arnie, o nosso paizinho, é quem cola este acidente de comboio de filme. Faz o que pode, injecta-lhe amor e carinho, aquela quente sensação de um lar, e nas entrelinhas pede-nos desculpa porque gastámos dinheiro naquilo. Há que descobrir o culpado deste desastre e na minha opinião é o casting. Vamos lá analisar estas respas de bosta que encarregaram de protagonizar o nosso tão amado franchise.

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Death Wish – Série “Os Reis do Balázio Vintage”

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Está agora a fazer um ano que empacotei os meus filhos e a minha esposa para casa dos meus sogros e fiquei sozinho durante uma semana. Vi-me num vazio rotineiro que tentei apressadamente preencher. Pegar na bicicleta e ir fazer aqueles passeios que tenho pendentes há anos, ir de mota à Figueira da Foz jantar com os amigos, começar finalmente a fazer jogging, fazer um barco com fósforos, resolver problemas eléctricos na garagem, alterar a combustível do condensador de fluxo (plutónio está caro) ou começar a escrever o tal livro… Depois de muito ponderar optei pela mais lógica: ficar deitado semi nú no sofá a ver filmes, com a migalhas na barriga e as mãos cheias de gordura de pizza, incapaz de colocar em pausa porque os comandos tinham entretanto desaparecido para o limbo dos comandos desaparecidos. Acordar todo torto na sala com o nascer do sol e uma poça de baba ao lado da almofada, sentir-me envergonhado por não aproveitar o tempo e deprimido demais para mudar de actividade. Inventar desculpas para a origem daquelas manchas de gordura no sofá. E com isto aproveitei para rever as sagas Dirty Harry e Death Wish. De seguida em formato maratona, coisa que nunca tinha feito. É esta experiência que aqui quero deixar, escolhendo para vós 3 de cada saga para que possam também organizar uma semana dedicada ao tema “Justiça à força de balázio”.

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Jurassic Park III, uma história de amor

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Esta semana terminei de ver um filme que comecei em 2001. Foi, muito provavelmente, o maior intervalo de tempo que acumulei para terminar um filme.  Jurassic Park 3, um filme patético e infantil de características marcadamente mercantis, cuja intenção seria apenas sugar dólar a saudosistas que 8 anos antes vidraram de emoção com o original de Spielberg. E só o fiz porque, num preguiçoso zapping pelos canais de cabo, me apercebi que nunca o tinha acabado. De imediato o meu primitivo cérebro me transportou para uma era diferente, para os vertiginosos tempos do início do milénio. Um tempo de leite e mel, de relações saudáveis, das tardes de café, das noites de verão esquecidas sob os plátanos da Praça da Republica, de ir trabalhar de directa com o cérebro apenas a apanhar estática. Antes do euro, antes que os compromissos da vida adulta me enraizassem nestas rotinas que me apodrecem as carnes e me toldam o espírito dia após dia (após dia), levou-me para uma época mágica, uma época em que se viveu a melhor de todas as histórias de amor, a minha!

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