francesha

Invejo esta juventude que se inebria instantaneamente com arte. Que perante uma avassaladora dose de poesia, lirismo ou cinefilia se deixam incapacitar fisicamente com a sensibilidade, como se o talento e genialidade criativa os deixassem em coma catártico e por momentos etéreos padecem de   “Oh my god it’s full of stars”-ismo. Porque eu sou um talego, um calhau emocional incapaz de absorver a beleza artística, mesmo que ela me seja arremessada pela própria incarnação física e cientificamente provada do deus Apolo. Lá vou melhorando com a idade, a experiência. Filmes que achava merdosos passam a fazer sentido, sentimentos que em tempos classifiquei como “de velho” fluem agora livremente por mim. Todo este processo leva o seu tempo, é como os corais ou o musgo, vai conquistando o seu espaço, vai alterando a nossa percepção, amadurecendo. A experiência é, na maior parte das vezes, a maior aliada do cinéfilo lento. Quero com isto dizer que não compreendo como se vêem agora por aí putos com 17 anos que descodificaram o sentido da vida pela cinematografia de Bergman, compilam teses académicas sobre a comoção que lhes causa o neo-realismo italiano ou como absorvem o essencial da vida pelas alegorias neuro-boémias da Nouvelle Vague. Quando eu aos 17 anos nem a moral do primeiro Rambo percebia muito bem. Este excesso de academismo e o atalho na ciclo natural da cinefilia não é, na opinião deste abandonado escrivão, saudável. E assim chegamos a Frances Ha, um filme bonito e de bela representação, mas carcomido no seu núcleo.

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