Na viragem do século, metade dos internautas ficava a teclar noite adentro em salas virtuais com pessoas que conheciam apenas pelas palavras que liam. Muitos se apaixonaram, muitos se enervaram, muitos sonhavam com os imaginários technicolor 4D de realidade aumentada saídos daquelas sessões text-only. E o que se ouvia mais, e que não era exagerado, era que se calhar essa Marta de 19 anos que gosta de livros de Douglas Coupland, discos dos Massive Attack e chocolate quente ao nascer do sol é afinal um mecânico suado de 45 anos e costas peludas chamado Armando. E por vezes assim acontecia. Nos dias que correm o perigo ainda é mais bizarro. Será que as pessoas com quem interagimos na Internet são realmente pessoas? Ou serão bots de inteligência artificial a fazer-se passar por humanos? Questões para levar a sério. E daqui a 20 anos? Qual será o perigo? Serão Aldacianos de Turis 24 da galáxia Nervusis a influenciar as nossas opiniões acerca da mineração das luas de Kiroa 2 em Alpha Centauro? Serão macacos evoluídos que preferiram a revolução digital à revolução a cavalo na ponte de São Francisco? Ou a tecnologia de comunicação tornou-se tão sensível ao ponto dos fantasmas que palmilham o limbo poderem agora interagir com humanos via wireless, fazendo-se passar por uma esteticista chamada Rute Juliana que até manda fotos convincentes da pachacha lisa como a careca do Jean Luc Picard?

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