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Ninja III: The Domination (1984)

Nos anos 80 havia uma produtora , que por si só, produziu mais toneladas de filmes xunga do que qualquer outra na história. E não falo de xunga foleiro e que se esquece facilmente, falo de xunga inesquecível e cujo humor involuntário nos acompanha através dos tempos, qual memória recalcada que aparece sempre em momentos incómodos, como reuniões do conselho de administração ou funerais de pessoas que até nem conhecíamos muito bem. Essa produtora / distribuidora era a Golan/Globus, normalmente em associação com a Cannon Film Distributors.

Ninja 3 era um filme difícil de alugar nos clubes de vídeo, muito requisitado. Só uma cunha ou a informação previligiada da hora exacta a que iria ser entregue permitia o aluguer. Nunca ninguém ouviu sequer falar do Ninja 1 ou Ninja 2, mas o 3 era uma doideira. Um sucesso tal que impulsionou uma vaga de filmes de ninja depois disso que levou o estatuto do “filme de ninja” até ao enjoo. Podemos então dizer, quase sem duvidar ou gaguejar, que este é O filme de ninjas. Aquele que mostraria numa palestra sobre ninjas, caso algum dia fosse convidado.

Começa com todo o esplendor de um filme dos anos 80. Um tipo famoso com gajas mamalhudas de permanente loura aos caracóis, perseguições de carros e motos de polícia, helicópteros que explodem por detrás de um monte, cenas de pancadaria rudimentares, efeitos sonoros que envergonhariam “Os jovens de Shaolin” e a força devastadora sobrenatural de um ninja profissional. Há o obrigatório lançamento do Shuriken (estrela ninja) e o desaparecimento depois de explodir um bola de fumo. Entretanto somos apresentados àquilo que seria no início dos anos 80 “uma gaja boa”. Mamas, cabelo volumoso e cuecas enormes por cima de umas calças de ginástica com aquelas meias sem pé de aquecer o tornozelo. Uma pintelheira a envergonhar o pinhal de Leiria. O ninja moribundo passa o espírito a esta boazona e a partir daí ela tem que matar todos os polícias envolvidos na matança do início.

Neste ponto poderíamos ter pensado que acabou, mas eis que entra em cena o Mr. Ninja Himself, Shô Kosugi, o ninja bom que vem acabar de vez com esta palhaçada. Bom, entretanto isto mete espíritos, exorcismos, a frase “You fool, you cannot stop me, I am a Ninja, hahahaha!” proferida pela garota possuída por um black ninja, máquinas de jogos que disparam laser (sim, não precisam de ler duas vezes). É então dita a mítica frase Only A Neeeeen-jah Can Stop A Neeen-jah!!! e é divertimento ninja até ao final mais gloriosamente low-budget alguma vez saído de um VHS de 3 cabeças sem LP e com o auto-tracking fodido (leia-se inoperacional).

Não falei da banda sonora, porque isso merece um parágrafo autónomo. No tempo áureo dos sintetizadores, é óbvio que teria que ser uma banda sonora bem baratinha, Duran Duran reciclado, inteiramente à base do mais merdoso que um Casio dos chineses tem para oferecer. Tão má que por vezes desafina. Outras vezes tem cortes ilógicos e outras é pura e simplesmente merdosa. Nas partes sobrenaturais há vozes tipo “Merrin, merrin”, em japonês e com um ligeiro toque de Maria João sem Mário Laginha. Há também imenso pop dos anos 80, sempre músicas que clonam hits famosos, porque já na altura os direitos de autor levavam barba e cabelo. Um sonho!

3 Comments

  1. Pedro Pereira

    Depois da quase desilusão com o “Ninja assassin” preciso mesmo rever estas pérolas da Cannon. Acho que vou alinhar o “Enter the Ninja” para esta semana, e de repente o Franco Nero era mestre de artes marciais! Ahhhh puta saudade!

  2. Miguel Arsénio

    A Cannon tinha umas produções inesquecíveis. Nos anos 80 foi senhora e rainha de grandes clássicos de acção com esses ingredientes todos enumerados no post. A Godfrey Ho é uma espécie de sub-Cannon no que diz respeito a filmes de ninja e tem títulos irresistíveis como “Ninja Terminator” e o meu favorito “Ninja Dragon”. Fica aqui a grande luta final: http://www.youtube.com/watch?v=WNzFHSVqur8 . O bigode do Richard Harrison devia ser canonizado.

  3. VB

    Ainda me lembro quando o Michael Dudikoff era o herói do VHS (em 84 só quem tinha leitor de video eram os meninos filhos de emigrantes, que vinham da Suíça/Alemanha, por isso eram “cravados” sempre que possível para ver aquelas pérolas que não davam na tv). Há tempos revi o American Ninja e não consegui ver aquela coisa até ao fim, de tão mau… Enfim, Xunga

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