Desde 24 de Junho de 2003

[Rec]2 (2009)

Se uma pessoa aparece com a cabeça de um ganso enfiada no cu e o resto do ganso a pender como um gravata nadegal, eu considero isso um conceito inovador e original. Admiro a imaginação e coragem do seu autor, mesmo não sendo obrigado a gostar nem sequer a usar, porque não sou um gajo de modas. Se no dia seguinte um batalhão de pessoas aparecerem com cabeças de ganso enfiadas no cu e o resto dos gansos a pender como  gravatas nadegais, aí já considero haver seguidismo e falta de originalidade, mesmo que em vez de gansos tenham usado patos bravos, avestruzes e bovinos de pequeno porte.

Filme de zombie é filme de zombie. [REC] foi uma pedrada no charco zombie. Não se podendo inovar grandemente no conteúdo, inova-se no formato. O primeiro tomo de REC aparece numa altura em que o hiper-realismo andava nas salas com uma pujança superior ao normal, muito graças a Cloverfield, o sonho molhado de J.J. Abrams. O sucesso de um filme, como todos sabem, é um assunto bastante subjectivo, mas podemos medir algum nível de êxito comercial e de crítica no primeiro REC no remake feito por Hollywood.

Sendo que todo o ser humano tem no seu âmago um tio Patinhas  a clamar por “dinheiro, mais dinheiro!”, esta sequela é inevitável. As coisas começam mais ou menos ao mesmo tempo do filme anterior, provavelmente no segundo seguinte ou ligeiramente sobrepostas no início. Desta vez entra um equipa SWAT no edifício, com câmaras nos capacetes, acompanhados por um padre. Rapidamente se percebe que os zombies são na realidade demónios e que se incineram com a imagem da cruz acompanhada por umas larachas religiosas. Mas as coisas não ficam por aqui. Mais tarde uns putos entram no edifício com a sua própria câmara e lá para o fim ainda aparece uma terceira câmara.

Ora, esta complexidade de meios vem camuflar aquilo que é óbvio. É impossível fazer uma sequela que seja, no mínimo, tão interessante como o antecessor e não se pode repetir a fórmula anterior porque soará mais a remake do que a sequela. E com estes argumentos complicados só há uma maneira de dar a volta. Supersizing… Como fazem os americanos, maior, mais fogo de artifício e inserir a tal nova linha narrativa: zombies que são na realidade demónios. Jaume Balagueró cria uma narrativa tripartida baseada nas tais câmaras. O problema é que este esquema já foi mais que pisado e reutilizado, sendo os últimos Saw são exemplo disso.

O câmara na mão, bem tolerada no primeiro REC, aqui acaba por irritar porque a nossa atenção não é sugada na quase totalidade pelo filme. Não é um filme horrível, é apenas mais um filme de terror nos contornos de outros filmes de terror que vieram anteriormente, com a desvantagem de ter falhas graves de difícil digestão, como por exemplo o facto de agora os zombies falarem pelos cotovelos e serem todos cheios de intelecto, capaz de recitar as mais infames versículos satânicos e a aproveitarem-se das habituais fraquezas humanas tão exploradas por todo o aspirante a divindade maléfica que se preze.

9 Comments

  1. Tiago Ramos

    Eu encaro-o de uma outra perspectiva. Não gosto assim tanto de [REC], que considero que dá mais primazia à estética que ao restante. Quanto a [REC]2 foi recebido efusivamente no Fantasporto, com uma sala cheia. E gostei mais que original, primeiro por terem sido inteligentes em não repetir o esquema inicial e se terem dedicado a um action flick, com laivos de comédia chunga. É divertido, cheio de acção e original. 3.5/5

  2. Sam

    Nesta sequela, não foi tanto o “factor Exorcista” que me incomodou, mas sim algumas falhas de lógica narrativa (por ex.:, se é possível controlar os ‘zombies’ com ladainhas em latim, porque não fazê-lo sempre?)

    E não tenho dúvidas que há-de aparecer um terceiro [REC] – o tal espírito do Tio Patinhas que referiste…

    Cumps cinéfilos.

  3. pedro

    No geral, o que me desgostou mais foi mesmo esta viragem para o exorcismo, a substituição de zombies por demónios. Foi uma promiscuidade que me incomodou.

  4. cine31

    demónios?? …. fiquei deprimido…

  5. Ricardo

    Não gostei do rumo dos acontecimentos. Estou como o pedro em relação á promiscuidade que cometeram!
    Lol, também coloquei uma “crítica” no 35mm hoje., o que me remete a pedir-te que alteres o link do meu blogue na barra lateral… O 1º logo.

  6. Leinad

    Este é um daqueles que eu tenho na gaveta (read: algures perdido no disco desde que o saquei quando passou a estar disponivel), mas que por alguma razao ainda nunca vi, tal como tantos outros que prá’qui tenho a apanhar pó virtual.
    Depois de ler este post, e conhecer estas novas “personas” que sao os zombies das sequelas, nem sei se o quero ver o mais rapidamente possivel ou se vai continuar na gaveta por tempo (muito) indefinido…

  7. Tio Jay

    argumentista 1 – hm, a história não enche 90 minutos. o que fazer?
    argumentista 2 – que tal metermos um grupo de putos aqui na parte em que avaria a câmara?
    argumentista 1 – e depois o que fazemos com eles?
    argumentista 2 – sei lá, morrem ou são possuidos ou lá o que acontece no filme.
    e temos meia hora inútil no filme (só ali).

  8. bruno

    Até gostei, claro que custa a engolir a estória dos demónios… mas é bom ver que se começa a investir mais neste género de filmes, o gore e os efeitos especiais estão bem porreiros e o orçamento para este filme até faz custar crer que é um filme espanhol

  9. xiribi

    O teu primeiro parágrafo é brilhante. Algo incompreeensível mas brilhante também por isso. O resto é o que temia, o que dizes sobre esta sequela. O primeiro filme foi grande surpresa, especialmente porque era tão pobre e conseguiu tanto. E isto sem ddesvirtuar em nada o universo zombie. Agora se é fantochada religiosa até tenho medo. mas pronto. resta-me ver o filme.

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