Hoje vamos dar um salto ao cinema da extinta URSS para uma pérola de extravagancia soviética, uma misto de ficção cientifica com o mais puro slapstick, um dos exemplos mais famosos de blockbuster soviete. É praticamente impossível resistir a um filme cujo título internacional é “Ivan Vasilievich: Back to the Future”, que mesmo não tendo nada a ver com o homónimo de Michael J. Fox, partilha a sensação de afligimento de quem está involuntariamente entalado numa época que não é sua. No final do filme conseguimos responder à questão meta-física que mais atormenta a humanidade do século XXI: “Porque necessitamos nós de um carregador solar para o nosso smartphone? Para o caso de viajarmos acidentalmente para o passado…

Há uns anos atrás chamou-me a atenção um livro escrito por um ex-militar soviético nascido já no regime comunista que falava das coisas boas de pertencer à URSS. Como sempre tive um fascínio por esta ex-potência mundial, dei por mim mergulhado em histórias de festas, alegria, amizade e contos imprová1973eis de amor. Uma das coisas que mais me surpreendeu foi a importância do audiovisual para os sovietes. O cinema, a fotografia, a música, os concertos, etc. Além do grande tesouro cinematográfico que conhecemos no ocidente, também o video caseiro era uma actividade comum, talvez não na vertente “amateur ex-girlfriend double anal and swallows” mas mais na vertente curtas amadoras e momentos em família. Além disso, tecnologicamente, os equipamentos da URSS sempre foram de qualidade superior, e ainda hoje se mata por objectivas e máquinas fotográficas que deixaram de ser fabricadas há mais de 30 anos.

Isto tudo para dizer que existiam condições para um cinema de qualidade, tirando o pequeno pormenor de não se poderem abordar assuntos incómodos sob a ameaça permanente de morrer em dolorosa agonia nas estepes geladas da Sibéria empalado lentamente em bambu com várias facas a trespassar o fígado. Tirando este insignificante incómodo, tudo valia. A ficção científica e o slapstick à lá Benny Hill no mesmo filme não é propriamente a ideia que os nossos preconceitos fazem do cinema soviético dos anos 70. Mas o certo é que o Leonid Gaidai fez deste nicho o seu terreno e essa decisão tornou-o num dos poucos milionários legais da União Soviética. Isto porque ele acordou com o Kremlin receber uma ínfima percentagem de cada bilhete aos que os membros do partido responsáveis pela cultura e propaganda responderam “Dá!” . Mais tarde aperceberam-se que centenas de milhões de bilhetes a multiplicar por uma ínfima percentagem dava mais que suficiente para mandar cantar um ceguinho.

Através de um estilo muito “Wizard of OZ”, a história fala-nos de um inventor que cria uma máquina do tempo no seu apartamento, uma coisa tenebrosa movida a produtos químicos e complexas tubagens que após a ideal mistura de ingredientes leva os seus ocupantes a viajar no tempo. Após uma viagem acidental, o gerente do seu bloco de apartamentos é transportado para o passado e Ivan o Terrível é transportado para Moscovo dos anos 70. E assim se cria a base para esta comédia sui generis que não sendo propriamente o pináculo do cinema ou a transmutação da arte em consciência viva, é um agradável meio de passar 90 minutos. Obviamente que devemos deixar os nossos preconceitos de lado, senão a coisa corre terrivelmente mal. E em comédias a fórmula é simples: desde que não tenha o Ben Stiller nem o Adam Sandler, já não é um mau começo.

Fiquemos então com um pouco de multimédia relacionado com o assunto em epígrafe. Aconselho vivamente o segundo clip. Se quiserem ver o filme, consultem o My One Thousand Movies do Francisco Rocha. Lá no MOTM o filme está com o título “Ivan Vasilevich Muda De Profissão (Ivan Vasilevich Menyaet Professiyu) 1973“, mas o filme é o mesmo.