Desde 24 de Junho de 2003

Crocodile Dundee – A pior trilogia do mundo

CocodrileDundee

Um dos assuntos que mais largura de banda queima na Internet é “Qual a melhor trilogia?”. Defensores das várias facções batalham-se 24 horas por dias, desde os tempos das BBS e os modems de 9600 bauds, esgrimindo argumentos e tirando partido da sua melhor retórica para defender aquela que é, do seu ponto de vista, a melhor trilogia cinematográfica. Note-se que trilogia nos dias de hoje não é necessariamente um conjunto de 3 filmes, mas uma molhada deles que pode ir dos 2 aos 56. No entanto ninguém fala daquilo que é realmente importante que é saber qual a pior trilogia de sempre. Tendo em conta a subjectividade inerente a este tema, escolhi como pior trilogia de sempre o Crocodile Dundee. Para a semana pode mudar, mas esta semana odeio de modo figadal o Paul Hogan e as suas tropelias de parolo australiano em solo americano.

As aventuras de Mike “Crocodile” Dundee inserem-se num tipo de filme muito usual nos anos 80 que era o esquema “peixe fora de água”. Normalmente o personagem principal vinha de um local, de uma cultura, até de um tempo diferente e era inserido num contexto que não o seu e todas as suas acções eram notadas como bizarras ou excêntricas. Com o evoluir do filme íamos ganhando empatia com aquele personagem porque o seu bom coração compensava a falta de maneiras, fossem elas limpar o rabo um couve lombarda ou esfaquear o empregado de mesa porque o seu tom de pele é demoníaco nas estepes budistas de Bhaktpur.

Muitos podem consideram esta opção de “demonizar Dundee como a pior coisa que saiu dos anos 80” uma heresia, no entanto há que ser realista. Pensem lá bem nestes filmes e o que vos vem à cabeça? Crocodile Dundee é um tipo meio (se calhar quatro quintos) selvagem, mas simpático, que vem da Austrália para Nova Iorque. Todos nos rimos porque ele é um indígena perfeitamente ignorante cujo odor corporal atinge uma área superior a um campo de futebol (de 11). Manda umas pauladas nuns patifes dos gangs novaiorquinos dos anos 80, impressiona os hipsters americanos com as suas artes de bushman e come a jeitosa que, negando a sua natureza feminina, não se deixa impressionar pelo aspecto exterior e apaixona-se pelo coração doce e libido marsupial.

Estes pontos são, contudo, meramente concepcionais. Porque em termos de narrativa, Crococile Dundee é um pastelão monodimensional que nunca levanta ponto de interesse, nem altos, nem baixos, muito menos clímax compatível com o típico género de aventuras dos anos 80. É um showcase de Hogan que parece vencer tudo com o seu charme Australiano. E aparentemente funcionou, porque quando estreou não me chocou. Pareceu-me aceitável.

Ora, acontece que ontem vi a sequela e reparei nisso. Reparei que aquele é o filme mais insonso e aborrecido de todos os tempos. Há uma sequência de piadas interminavelmente enfadonhas  (mesmo àquela altura) em que Dundee é um gajo que “domina a floresta e apanha os maus” num argumento bastante semelhante ao que estamos habituados a ver nos dias de hoje em Carteiro Paulo, Dora a Aventureira ou mesmo em nos episódios mais frenéticos da Selva sobre Rodas. De resto, desde os cenários em papel machê ao péssimo casting, passando por horríveis escolha de iluminação ou a total ausência de continuidade, o filme é aquilo que se esperava dele, uma bela merda. Estou a falar ainda do tomo 2, que foi o que vi ontem.

O primeiro é a apresentação de Dundee e dos seus truques de circo, onde atinge na cabeça um ladrão em fuga com uma lata de feijão ou controla um touro com dois dedos, a dicotomia do selvagem neandertal sem maneiras na cidade mais sofisticada do planeta, representada pela cena do hotel em que o nosso herói dorme numa tenda, lava a roupa na banheira e estende-a na sala do hotel mais caro da Big Apple. O terceiro passa-se em Los Angeles e foi lançado em 2001 mas eu nunca o vi. Mas sei que não vale um chavelho. Como o Robocop 3, aquele em que ele voa.

Além de Paul Hogan temos uma jovem chamada Linda Kozlowski que é a tal musa que se apaixona por Dundee, como se de King Kong se tratasse. Só falo nisto para introduzir a foto que vou colocar de seguida, porque dela nunca mais se ouviu falar.

Também há um video, só que não tem permissões de incorporação.

2 Comments

  1. andreia mandim

    No minuto 0:40 dá para perceber que até um chiuaua é mais violento que aquele crocodilo, que só lhe quer o colar porque não tem dinheiro para comprar um…

    cumprimentos,
    cinemaschallenge.blogspot.com

  2. pedro

    Crocodilo? Há um crocodilo? A primeira metade do video absorve-me a atenção por completo.

Leave a Reply

© 2024 CinemaXunga

Theme by Anders NorenUp ↑

%d