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Para se perceber o dinâmica da cinematografia de Terrence Malick é preciso ver-lhe os filmes por ordem cronológica, pois faz tudo parte de um grande plano, um organismo, uma entidade fortemente enraizada em sentimentos fortes, contradições e a eterna dualidade entre as mais violentas dores da existência humana e a beleza e perfeição da natureza e do grande esquema das coisas. Um homem que coloca à frente a sua formação em filosofia e em segundo plano a técnica e lógica cinematográfica não pode nunca fazer o mesmo tipo de filmes de um Spielberg ou Nolan. Existirá um Deus? Para Malick há, mas não interfere no modo como humanos fodem as suas vidas, está demasiado ocupado a ser o grande arquitecto e a impedir que o sacudir das asas de uma borboleta na floresta do Butão crie um terramoto em Bonnetsville na Carolina do Norte.

badlands

Como se pode avaliar se um realizador é bom ou não? Independente do que escrevem os teóricos e académicos da crítica cinematográfica, devemos em primeiro lugar perceber se gostamos ou não dos seus filmes. De um modo sincero, não porque um Joaquim Secamerdas do semanário mais denso da imprensa nacional o diz. Além disso é preciso perceber se a sua obra é concepcional, se o realizador dá a sua imagem de marca aos seus filmes e não é um macaco amestrado a seguir linhas orientadoras dos mercenários do carcanhol cujo conceito de arte é o Golden Turd.

O meu filme preferido de Terrence Malick é o primeiro, You know the one where Martin Sheen waves his arm to the girl on the street, Badlands. Nos anos 90, na altura da estreia de The Thin Red Line fui a um ciclo Malick. Cinema de película, coisa fina. Uma sala à moda antiga, muita malta genuinamente interessada nos filmes, um ambiente tipicamente cineclube. O primeiro, Badlands, embateu-me de frente. Não ia preparado para aquilo. Estava à espera do telefilme redneck que a sinopse induz. O mais encantador Martin Sheen de sempre, que em momento algum perde a nossa simpatia mesmo depois de alguns dos mais cruéis crimes cometidos até à data em celulóide e a adorável lolita interpretada pela Sissy Spacek que nos fez criar sentimentos bastante impuros por aquele personagem menor. A leveza da juventude associada ao vazia mental interpretado na perfeição por Sheen e arquitectado por um mestre estreante, representando o desespero da América profunda e todas as suas agruras que nos passam completamente ao lado porque vivemos a 10000 kms de distânci e mais de meio século depois. Nunca me neguei a revê-lo. Para mim é canon representante do melhor cinema americano da segunda metade do século XX, incontornável.

Badlands

Days of Heaven é um filme que associo sempre a Badlands porque vi no dia a seguir e porque a discussão da altura com os outros drogados que iam comigo ao cinema fez com que se tornassem gémeos siameses no meu envelhecido cérebro. Foi uma desilusão a seguir a Badlands, mas com o tempo compreendi que não se podem ver os filmes de Malick por esta ordem e esperar um clímax crescente. Também não se pode ver na ordem inversa e esperar este mesmo climax. Aprendam a viver com isso.

Richard Gere como um teenager campónio a trabalhar numa quinta com um plano obscuro de fazer um motim e prostituindo para tal a sua amada que faz passar por irmã. Mixed feelings… Ainda assim é um belo filme em que se levanta ligeiramente o sobrolho a algum excesso de contemplação. Agora compreendo essa contemplação no esquema geral da obra do senhor Malick, mas na altura estranhei. E ainda estranho, mas compreendo. Como quando o nosso melhor amigo nos confessa que sempre foi cleptomaníaco e que se me perguntarem onde arranjei aqueles abre cartas de marfim devo dizer que um tio afastado que já morreu os trouxe de África quando perdeu as quintas que tinha em Macuba nas margens do Rio Licungo. Algo que nunca se pode apoiar totalmente mas que se pode compreender.

Days of Heaven

Não me lembro tão bem como queria do The Thin Red Line para mandar umas bocas foleiras e nunca vi o The New World, sorry! Aparentemente tem a Pocahontas, mas também nunca vi a Pocahontas da Disney. Só a paródia porno, a Porcahontas. Não me pareceu muito fiel ao material original e um filme onde se passa o tempo todo a cavalgar e não aparece nenhum cavalo deve sempre ser olhado de soslaio, ainda que o uso de calças seja opcional.

Uma coisa é certa, em termos de cinematografia e direcção de fotografia não há falhas. O que nos leva a Tree of Life. Ui, que objecto traumatizante. Malick quis marcar o seu nome nos anais do cinema, mas as suas nobres intenções não foram recebidas com o entusiasmo pretendido, pelo menos por mim. Porque Malick pegou naquela pequena imagem de marca que fez dele quem é, a contemplação supracitada, e construiu um filme à volta disso mandando às urtigas quaisquer lógicas narrativas. Tentou enquadrar a tragédia humana no grande esquemas das coisas, mas perdeu-se no grande esquema das coisas, inebriado em masturbações visuais e no bonito das coisas simples que ninguém repara. Mas hey, pelo menos tem dinossauros que, ao contrário dos postais das maravilhas da natureza, dão belos motores narrativos.

tree of life

É lindíssimo, é verdade. Visualmente perfeito, sim, é capaz. Só que aquelas vozes etéreas que aparentam dizer qualquer coisa que não se percebe bem por má mistura sonora, a muralha simbólica tão densa que se perde das intenção original de simbolizar o que quer que seja. Foi demais para mim. Depois disso passei um mês a filmes B de ultraviolência que era de onde nunca devia ter saído, porque toda a gente sabe que contemplação a mais faz crescer pêlos nas mãos e induz cegueira.

O que me leva à próxima foto, mas disso falamos mais tarde.

Ma ma

Ah sim, e há também esta abelha.

Abelha bonita ai ai