L’amour, toujours l’amour. Um homem tem que fazer ocasionais sacrifícios por amor. Não estou a falar em deixar a esposa pisar-nos escroto com sapatos de salto alto, manter o sorriso parvo ao levar com um strapon no cu ou ter acompanhá-la nas compras. Falo em pequenas cedências, as pequenas coisas nos fazem sair da bolha de conforto. Esta semana iniciei um pequeno ciclo com a esposa, numa altura mais descansada em que as crianças passam uns dias com os avós. Um ciclo de comédias românticas, vejam lá! Resolvi dar-lhe o nome “Mete-se Agosto”. E para começar fomos raspar o fundo dos contentores bolorentos do Netflix e repescámos uma pérola poeirente esquecida pelos tempos de seu título “ Life as We Know It” de 2010.
Devo começar por falar de Katherine Heigl, um pomposa Barbie de doces modos que fez carreira naquela série de gaja Greys Anatomy. Foi tanto o sucesso da sua sensível e encantadora personagem que decidiu abandonar a série para fazer carreira sozinha. De olhos eternamente molhados de tanta choradeira, como nos anúncios de pensos higiénicos, atirou-se às comédias românticas onde fez sempre o mesmo papel. A narrativa passava sempre por ter uma mulher perfeita em todos os sentidos que se enrabichava por um safardanas qualquer do outro lado o espetro da compatibilidade. As tropelias da vida e os pequenos nadas que constituem o contínuo existencial forçariam o destino a juntar essas pessoas naquilo que se designa levianamente como “um casal”. No fim há um arrufo que reforça o amor quando se reencontram no aeroporto, no último segundo possível. Esquece-se então 90 minutos de filha-da-putices e o amor tudo conquista.
Este filme não é diferente do esquema supracitado. Terá um início mais dramático, uma vez que se trata de uma criança que perde os pais, mas esse incidente dramático rapidamente é varrido para debaixo da carpete com uma piadola inerte que serve todos os tipos de sensibilidades. A partir daqui entra no esquema do sketch e da comédia de situação, colocando pessoas que usufruem de um estilo de vida solteirinho num ambiente fortemente familiar. Uma das actrizes secundárias é aquela senhora avantajada dos Ghostbusters que aqui tem 8 filhos e faz do seu marido um escravo.
É um filme longo para o género e demora muito a chegar ao seu ponto de fusão. Como pai acho sempre piada a este cliché de como as crianças são vistas em filmes cujo público alvo são pessoas que não têm filhos. Neste caso uma menina que é atirada para os cuidados de um improvável casal de pais adoptivos que a tratam como um fardo, uma criatura produtora de merda e vómito.
Ficou apenas a faltar uma musiquinha dos Guns’n Roses na parte em que estão tristes porque se separaram e a musiquinha alegre dos Aerosmith quando correm para os braços um do outro no aeroporto.
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