Quando nos lembramos de Alien, filme de 1979 de Ridley Scott, muitas coisas interessantes nos vêm à cabeça. Não é só facto de ser um absoluto assombro da cinematografia, um misto de terror e ficção científica que continua tão atual hoje com há quase 50 anos, de ser um filme de orçamento modesto que usa a habilidade criativa e a imaginação para o transformar numa peça superior que ecoará nos tempos enquanto houver tempos, que é ainda uma masterclass de cinema. Quer seja em termos narrativos, técnicos ou artísticos, tudo neste filme emana nobreza da sétima arte. 

E, entre as coisas interessantes que nos vêm à cabeça, tenho sempre presente que as personagens do guião não foram criadas com género. Foram usadas qualidades para as caracterizar, traços de personalidade e descrições físicas que as pudessem adaptar a homens ou mulheres. Imagino que anos no espaço, numa espécie de ambiente de trolha a bordo de uma nave espacial, transforme qualquer pessoa numa camionista intergalático.

Outras coisas interessantes neste filme são o uso de lasers emprestados de um espectáculo dos The Who, de o titular Alien só aparecer uns miseráveis 3 minutos, quase na parte final do filme, e mesmo assim ser um marco visual icónico da cultura popular e todas as sementes de mitologia que plantou e que atualmente habitam nas mentes de todos os cinéfilos, sem pagar renda.

Gatinhos, ácido em vez de sangue, os ovos, os chestbusters, todo um ciclo de vida tão realista quanto verosimel, este Alien é sem dúvida um dos melhores filmes de sempre. 

Mas às vezes há péssimos dias para um gajo saber ler, dias em que gostaríamos de ter à mão a maquineta da luz vermelha do esquecimento de Men in Black ou uma lixiviazinha de desver, para evitar que alguma informação mais marota se cole ao cérebro, como é o caso daquilo que li hoje e devo imediatamente partilhar convosco, não vá o meu cérebro corroer-se sozinho. Ora, numa primeira versão de Alien, o terrível monstro espacial estava planeado ser interpretado por um orangotango depilado. Os primeiro esboços do mais famoso xenomorfo da cultura popular foi desenhado em storyboards como um, imagino eu, irresistivelmente sexy orangotango de pele tão luzidia como a parreca de Mia Goth em Infinity Pool ou o frondoso púbis de Rosario Dawson em Transe.

Rapidamente a ideia foi abandonada porque entretanto passou o efeito do potente cocktail de Vodka, Rum, psilocibina e mescalina pura e apareceu H. R. Giger com ideias que para sempre mudariam o cinema e a sua estética, numa bizarra fusão de mecânico com orgânico que para sempre influenciaria qualquer badameco com ilusões de grandeza na sétima arte. E assim foi criada um terrível e assustador monstro que nos faz acordar de noite ensopados em suor de terríveis pesadelos e não um “hummm, como reagiria a uma canzanada!” caso mantivessem o design original.