Homem que já jurou por tudo nunca mais voltar a ir a uma sala de cinema ver outro filme da Marvel é apanhado em flagrante a sair de uma sala de cinema depois de ver outro filme da Marvel”, diziam as principais revistas e sites de mexericos depois de me terem apanhado com um grupo de paparazzis à saída do cinema, sem hipótese de negação. Ainda por cima ia bastante lento porque levava os 14 volumes da grande enciclopédia Marvel, um quadro onde anoto cuidadosamente todas as ligações entre filmes e séries da Marvel e sem dormir há 4 dias para poder fazer o TPC típico para filmes MCU. Ia com os meus filhos, mas é certo que os miúdos ajudarem os pais é uma utopia salazarista, que hoje em dia até para virem almoçar depois de acordarem às 12h30 é preciso chamá-los 4 vezes, como se nos estivessem a fazer um favor em vir comer. Para passados 15 minutos sairem a olhar para o telemóvel, deixando para trás uma cozinha que parece a casa da tia Meg do Twister, depois do Tornado a ter feito num aglomerado de lenha fina.

A Marvel encontra-se desbotada, sem as cores garridas do seu popular início. Cada filme é um conceito, uma tentativa de encontrar um tom que ressoe com a populaça. Novos heróis, novos poderes, homens, mulheres, hibridos extraterrestres, humor, seriedade, combinam-se parelhas e situações novas. Nada. O povo não reage. Mantém-se letárgico, apesar de continuar a ir ver os filmes como se fosse uma obrigação.

Desta vez esculpe-se um guião em redor do tema da saúde mental, solidão, traumas de infância, sempre com a habitual sensibilidade de pata de cavalo da Marvel. Sai sempre tudo demasiado denunciado, demasiado ao lado. Ninguém quer saber. A semana passada dezassete séries novas da Netflix fizeram essa materialização do trauma e doença mental em argumento de maneira melhor.

Os actores, sempre desorientados e apagados, tentam fazer o que lhes pedem, usar todas as versões da sua personagem, encenar em todos os tons. Depois na linha de montagem e em pós-produção logo se vê. E, claro, mistura-se tudo numa versão final sem coração, toda patchwork. “Vamos fazer efeitos práticos, sem CGI”, dizem os responsáveis piscando o olho quando sabemos perfeitamente que emularam os efeitos práticos em computação gráfica, adicionando pequenos truques para enganar parolos e puristas com menor capacidade de analise critica.

A história? Um grupo de personagens secundárias une-se depois de terem sido vitimas de tentativa de assassinato por parte de uma figura sinistra e pouco transparente da política americana. Juntam-se e regressam para chegar a roupa ao pelo da vilã com figurativos paus de marmeleiro. Todos eles agentes quitados, com injeções de super homem, mas com péssima higiene pessoal e falta de gosto em indumentária. Pelo meio um maluquinho, do povo, drogado e reduzido mentalmente das capacidades cognitivas básicas. Aos poucos vai-se transformando num Super Homem das trevas, com problemas da cabeça e será preciso o amor conquistar tudo para se resolver o problema com “Pára, acalma-te. Estamos aqui por ti, meu amigo”. E assim, mais uma vez, um combo de “os verdadeiros monstros somos nós” e “o amor tudo conquista”

E os personagens? Capitão América do Intermarché, Viúva Negra do Lidl, um Avenger que ninguém se lembra, o pai natal das trevas e uma Gamora do balde das Gamoras que não passou o controlo de qualidade da fábrica de Gamoras.

Spoiler alert: São os novos avengers, mas meterem esse titulo parvo, com explicação ainda mais idiota no filme, para esconder este pormenor que toda a gente sabe. O pior de tudo é que ameaçam com o regresso desta linha narrativa.