Todos temos os nossos rituais, sejam satânicos ou convencionais, sejam obsessivos compulsivos, entrar sempre com o pé direito ou limpar a gaita aos lençóis depois do acto ignorando os pungentes apelos femininos de que há lenços na primeira gaveta. Eu não sou diferente de ninguém e tenho os meus que, vim a aprender com o tempo, são perfeitamente normais. Dormir com t-shirts publicitárias, começar sempre uma viagem com “Nothing Really Ends” dos dEUS, rapar o escroto e fazê-lo reluzir com azeite virgem antes de ir à pastelaria ao domingo de manhã comprar pão e ler o folhetim do sindicato dos talhantes de Serpins e, ritual cinéfilo, ver um filme diferente de zombies nazis uma vez por ano.
Tag: experiência
No final da primeira década do século XXI as salas de cinema tradicionais estão extintas. Nos últimos 25 anos o acto de ir ao cinema foi barbaramente desfigurado. De uma experiência quase religiosa, terapia de grupo ou tertúlias de amigos cinéfilos transformou-se numa quase obrigação social, ritual de acasalamento ou simplesmente pelo grãos de milhos rebentados pelo calor e cobertos de sucedâneo de manteiga sintetizado e edulcorantes químicos (que fazem encolher os testículos). A falta de respeito pela arte cinematográfica está igualmente distribuída pelas distribuidoras e pelo público. A lavagem cerebral dos últimos 15 anos levou Portugal a acreditar que só existe um verdadeiro cinema, o americano, e tudo o resto são cultos extremistas de uma estranheza inarrável. Para quem não foi ao cinema nos últimos 10 anos, eu passo a explicar neste modesto artigo que se segue.
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