Uma das conversas que tive recentemente com o meu filho revelou-se um pesadelo paternal. Na sequência de um conjunto cirúrgico de elaboradas perguntas cheguei à catastrófica conclusão que o miúdo não tem interesse por ficção científica. “Como é que isto é possível?”, pensei. Quer dizer, parece-me humanamente impossível alguém não gostar de ficção científica, esse género nobre das artes narrativas. Star Wars? Nada. Star Trek? Quê? Desenhos animados nos canais de putos com temas de ficção científica? Nenhuma. Temática sci-fi no Netflix? Nem lhe toca. Nessa noite adormeci em posição fetal banhado em lágrimas. O pontapé furioso com o dedo mindinho descalço num canto bicudo na cómoda não ajudou a aliviar a dor. “Então é isto que tanto falam, na desilusão de um pai que criou um filho para nada.”. Chorei no ombro da minha esposa. “Tenho quase a certeza que não é nada disso.” Respondeu-me ela. “Eu também não gosto de ficção científica.” Incrédulo, gritei num tom agudo e pueril. Senti uma das chávenas da coleção Space 1999 a rachar com a frequência. “O… quê???? E os filmes que vimos?”, perguntei furioso. “Menti. Fingi. Pronto, está dito!”
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Cinéfilos mais atentos já devem ter-se deparado com cenas de insinuação sexual, violência ou moral debochada em filmes antigos e terão perguntado a si próprios “como é isto possível num filme de 1929?“. No inicio dos anos 30 a famosa MPAA achou que havia algum descontrolo por parte das produções de cinema dos estúdios de Hollywood. Demasiado sexo, profanidade, álcool e violência.Um horror! Um dia, enquanto snifava cocaína das costas de um escravo tailandês e era oralmente aliviado por duas prostitutas menores, um director da MPAA terá decidido criar um código de conduta e ética de referência obrigatória. Havia de se acabar com os exageros dos filmes. “Coxas? Ligas à vista? Fumar e beber? Não, não…“, vociferava o director da MPAA nos eventos de “tiro ao negro” organizados pelos colegas do KKK. “Isto há-de acabar. E é já!“. E foi nessa noite, depois de um jantar de bifinhos de Panda e creme de golfinho, que decidiu escrever o código que haveria de mutilar irreversivelmente a criatividade de Hollywood.
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