Gus é um rapaz que nasceu com um “defeito de fabrico”, é narcoléptico. Adormece ocasionalmente sem ter controlo sobre isso. Não arranja empregos duradouros, tem uma vida pessoal complicada. A sua esposa, paixão de infância, é a galdéria da aldeia. O seu melhor amigo aspira ser o melhor karateca do mundo. Também aspira bastante cocaína e cerveja é ao garrafão. Gus sonha grandes aventuras cinematográficas e depois expressa-se por banda desenhada. Van Damme aparece, qual aparição celestial, como guru espiritual. Os vilões são um casal de gémeos ex-campeão de patinagem artística que agora seguem uma rentável carreira de assassinos contratados, sem no entanto terem mudado a indumentária.

Este poderá muito bem ser uma das melhores pérolas perdidas que vi nos últimos anos. É certo que a comédia francesa é um tipo de cinema algo duro para estrangeiros. Costuma envolver muitas private jokes, celebridades que só eles conhecem e o calão mutante francês não ajuda nem a tradutores nem cinéfilos aventureiros fora das fronteiras do reino do croissant. Mas Narco quebra essas barreiras com uma história de valores universais, uma narrativa coerente e um esquema gráfico e de montagem bastante parecido às comédias de Jeunet.

Fotografia de qualidade, banda sonora muito boa a caracterizar a evolução dos tempos, um ritmo muito decente para um filme de narrador com situações humor bastante incisivo. É garantia de um agradável familiar junto dos vossos entes queridos para um saudável e funcional ambiente conjugal. Mas não é aconselhável para o dia dos namorados, pois tem elevado teor de filme de gajo, o final não é propriamente romântico e os actores principais estão bem longe do cavaleiro medieval de armadura brilhante que vem salvar a sua donzela.

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