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The Dark Knight Rises (2012)

catwoman

The Dark Knight Rises é como aquelas pessoas que se apresentam a si próprias como sendo Dr. Qualquer Coisa. Normalmente licenciados em direito ou economia que mesmo sabendo que o título só se pode aplicar a licenciados em Medicina e doutorados (neste caso deverá escrever-se Doutor) insistem em que lhes seja atribuído um título que não têm. É um filme presunçoso que desde início se faz anunciar como um filme espectacular, levando as mais frágeis mentes a  acreditar de antemão estar perante um clássico instantâneo quando, na realidade, estamos perante um filme fraco. Se todo o dinheiro gasto a fazer este filme fosse trocado por notas de um dólar e depois enrolado em tubos castanhos, dava para limpar o cu a toda a população do médio oriente durante 53 anos.

Antes de começar a falar de Dark Knight Rises e vos apresentar detalhadamente as razões pelas quais este filme é um produto inferior, mesmo quando comparado com os seus antecessores, deixem-me que vos fale de uma coisa a que os defensores destes filmes que falham miseravelmente às expectativas costumam usar: o suspension of disbelief. Esta expressão é uma buzzword tirada directamente do livros de psicologia do 10º ano e que é interpretada pelos defensores de indefensáveis causas cinematográficas como sendo a capacidade que o cérebro tem de se deixar transportar para um universo diferente da nossa realidade para que possamos acompanhar uma história de um filme, ou livro ou lá o que seja necessário. Bem, mas na realidade o suspension of disbelief é apenas um argumento que é tirado completamente fora de contexto para que possa ser usado como argumento de último recurso na defesa de um filme que na realidade é uma merda. É o passo imediatamente anterior á violência física. Normalmente geeks a puxar o cabelo uns aos outros, dar murros com a base do punho e a gritar como o Tom Cruise (como uma menina de 12 anos).

Ora bem. O que faz de The Dark Knight Rises (TDKR) um filmeco foleirote? Na minha opinião são vários factores, mas o principal é o argumento. O filme tem uma excelente produção e nota-se que tecnicamente nada ficou ao acaso. Tirando a interpretação de Batman e uma morte de um personagem importante lá para o fim, todos fazem bem a sua tarefa. Não foi filmado propositadamente em 3D e toda a cinematografia está executada com especial aprumo. No entanto…

SPOILERS A PARTIR DAQUI… vou dar uns minutos para que se retirem aqueles que ainda não viram o filme e querem apreciar as surpresas do argumento. Mas aviso desde já que não são grande coisa…

Intermission

Continuemos. Em primeiro lugar irrita-me profundamente a voz do Batman. Aquele homem é forte e multi-resistente, já percebemos, mas não há necessidade de estragar a voz daquela maneira. Para que ninguém repare na sua voz teve que se arranjar um vilão com uma voz ainda mais ridícula. Acredito que faça humedecer as partes podengas de muita moça de boas famílias, mas soa bastante a voz off. É completamente irrealista, porque o volume e equalização é completamente diferente dos outros personagens.

A música constante a massacrar drama contínuo durante 3 horas é perfeitamente desonesta. É uma maneira que o realizador arranjou para injectar artificialmente dramatismo sem grande trabalho de personagens ou diálogos. Imaginem uma cena em que Bruce Wayne está com prisão de ventre. Vai cagar e faz força. Entra música dramática do TDKR e os espectadores entram imediatamente no reflexo condicionado de eminente desgraça. Será que vai correr bem a cagada ao nosso herói? Se, no entanto, a música aplicada fosse o Yakety Sax (do Benny Hill), cada vez que o Bruce fizesse uma cara de esforço seria um fartote de rir na plateia. Este tipo de manipulação é a mais triste realidade. Já com o Inception e as suas tubas da morte foi a mesma coisa.

Agora em relação à narrativa, analisemos alguns pontos. Bane fez esperar 5 meses para explodir a cidade. Para que se pudesse usar a analogia dos 99%, para que se pudesse esperar que o Batman voltasse dos mortos. E porquê? Quando se dá o climax do filme percebe-se que nada daquilo foi necessário. Se ele tinha o detonador, era explodir aquilo a bordo de um barco. Mas era preciso dar 3 horas ao filme para criar um épico. Não há épicos de 90 minutos.

Foi preciso mandar todos os polícias para os esgotos? Todos? Nem um ficou cá fora. Todos para passar 5 meses debaixo de terra a comer feijão em lata e pão seco. Que conveniente. Era uma chatice criar uma sociedade anárquica com os polícias à solta. E durante esses 5 meses o homem que inventou helicópteros robotizados, carros blindados e motas superfuturistas, o homem que conseguiu transformar todos os telemoveis em sonares, o homem que inventou sistemas inovadores para criar energia com métodos limpos não conseguiu comunicar com o mundo exterior. Foda-se, bastava-lhe um pombo correio. Um telefone satélite. Um golfinho treinado. Sinais de fumo. Linguagem gestual. Gritava da ponte se fosse preciso.

E quando os polícias regressam o mais óbvio para reconquistar a cidade minimizando o número de baixas é fazer com que 5000 homens  avancem numa rua sem saídas laterais, praticamente em fila indiana, desarmados contra um exército de rufias a disparar rajadas de metralhadora. Milagrosamente, quando lá chegam desaparecem as metralhadoras e é uma zaragata de bairro á moda antigo. Zás, Kappou!, Zlonk!, Pow!, Klank!, Vroonk!….

No final há imensas coisas a falhar. Bane é o pilantra mais temível dos quatro cantos do mundo, um one man show do submundo da vilanagem, terrível, implacável, confiante, uma máquina de matar. Mas quando se descobre quem é o verdadeiro vilão, toda a sua importância é transformada em merda, um capanga submisso que parece perder na hora 50% da sua testosterona. E o verdadeiro vilão? Ao trabalho que se deu para criar esta vingança. Para morrer naquele que é o momento mais ridículo num climax cinematográfico desde o NOOOOOOOO! de Darth Vader. Um overacting capaz de embaraçar qualquer actor de novela mexicano.

Os dois confrontos entre Batman e Bane são, no mínimo, desilusões. No primeiro Bruce apanha que nem gente grande. E é deixado para morrer sozinho na prisão, num plano de vilão com excesso de confiança. Estilo Dr. Evil. No segundo…. Bem, no segundo apanha também que nem gente grande. E só uma rajada de balázio pela jeitosa do facto de cabedal é que acaba com ele. O que é, no mínimo, irónico. Com aquela conversa de “armas não”, “matar não”… O que nos leva à Catwoman. Ou lá como se chama para não ser directamente Catwoman. Belo fatinho sim senhor. Se há algo que dê jeito a uma ladra profissional é um fato de cabedal justo e com os barulhos da borracha a raspar. Tudo isto se esquece quando aquele magnifica rabo alçado se passeia de um lado para o outro na batmota. Curiosamente com o banco muito levantado. É um malandro, aquele Bruce…

A prisão. A metáfora Dark Knight Rises é criada pelo facto de Bruce sair da prisão, contrariando centenas de anos de tentativas falhadas de milhares de reclusos. Ora, Bruce Wayne todo desmanchado por anos de doença e pelo malhão infernal que levou do Bane, consegue recuperar milagrosamente graças a um truque ninja de um monje curador com capacidade de recuperar colunas vertebrais com uma sopapo bem acente, consegue sair sozinho do poço. Graças a uma recuperação milagrosa e um exercício de filosofia algo manhoso, foi o herói do ano lá da choldra. Já nem falo do piroso da cena, mas aquelas 2 horas de suspense para que ele pudesse fazer algo que toda a gente está à espera desde inicio é um bocado desnecessário. Saltar metro e meio de um degrau para o outro. Qual é o record do mundo de salto em comprimento? 7 metros? 8 metros? Quem salta 6 ou 7, também salta 2 com pouco balanço.

Coisas que gostava de ver ainda no versão extendida do filme:
Quanto tempo demorou ele a fazer o símbolo do morcego com gasolina, tempo esse que poderia ter poupado a vida de umas centenas de pessoas e dado tempo para descobrir a bomba e fazê-la explodir nas calmas. O nosso herói perde 3 ou 4 horas a fazer figurinhas pirotécnicas e depois tem que salvar a cidade no último segundo. Caralhos o fodam…

E com estes pensamentos vos deixo. Ameaças de morte, ofertas de sexo sem compromissos ou o tradicional cabrito só a partir de segunda feira que não estou por casa no fim de semana.

14 Comments

  1. Jorge Branco

    Só mais uma bullshit: a cena do gajo sair duma prisão no fim do mundo taliban e em pouco tempo se pôr em Gothan (então Gothan agora é nova-iorque?) que estava sitiada e encontra-se logo com a rapariga do fato de cabedal.

  2. Joao V

    «Já com o Inception e as suas tubas da morte foi a mesma coisa.» rofl. Pois… é um bocado isso. Já para não falar da bomba em si… É que por acaso fazer uma bomba de fusão é >9000 mais fácil que um gerador… Cá pelo mundo real andamos há quase 1 século a tentar fazer energia assim, e a primeira bomba foi feita paí em 1920 lol. Depois a cena do contador da bomba e por aí… oh well.

  3. Peter Gunn

    O que eu ri aqui com esta crítica… e o pior é que é tudo verdade!!! Uma das coisas que mais me fez confusão foi efectivamente a voz do Bane, não pelo tom mas sim porque realmente é como dizes…. “É completamente irrealista, porque o volume e equalização é completamente diferente dos outros personagens.” Que treta de pós produção de audio!!!

    Quanto aos constantes twists completamente desnecessários e sub aproveitados não há volta a dar… estragaram completamente o filme! A morte da vilã no final é anedótica e digna das “piores” cenas do Ninja das Caldas… (filme esse que ao menos tinha desculpa de ser feito por amadores claro)

    Mas olha… “Tudo isto se esquece quando aquele magnifica rabo alçado se passeia de um lado para o outro na batmota”!!!

    Abraço cinematográfico!

  4. Joao Carvalhinho

    Esqueceste-te de uma coisa… os diálogos são o maior chorrilho de frases feitas em sequência que eu já vi até hoje…
    Sobre o tratamento quiroprático, é algo muito antigo que vem desde os tempos em que o homem vestia pouca roupa:

  5. Cenas

    Correção: na realidade Dr. além de médicos também se aplica a advogados e arquitectos.
    No caso de um doutorado deverá escrever-se Prof. Doutor e apenas no caso de um catedrático se devera escrever Professor Doutor.
    Um simples pesquisa no Google permite confirmar isso.

  6. Loot

    A cena de Wall Street também marca, nunca vi anoitecer tão rápido num filme.

    Focaste muito bem e com humor os problemas do filme que são a nível de argumento. Está cheio de pontos fracos, que dava para serem resolvidos. Se nos outros filmes há erros destes, neste ele esticou muito a corda e por isso é que é o pior dos 3.

    Claro que há coisas boas, Bane com 100% de testosterona, a catwoman com ou sem mota, e grandes cenas de espectáculo.

    A banda sonora é muito boa só é pena que seja usada como muleta, o tal facilitismo.

  7. Jorge Branco

    Os 100% de testosterona do Bane evaporam-se quando começa a chorar numa das cenas mais patéticas da história do cinema.
    Quanto à voz sintetizada, acho muito bem conseguida. O tipo está com aquele açaime e é natural que a sua voz fosse projectada de modo diferente. Aliás a maneira de falar peculiar do Bane ajuda a dar carisma à personagem. É ele que domina o filme.

  8. pedro

    Os vilões desta trilogia dominam completamente os filmes. O Batman acaba sempre por ser uma mera sombra irritante. Confesso, no entanto, que já não me lembro bem do primeiro.

    Como diz o João, o filme é verdadeiramente um cliché-fest. Esqueci-me de dizer isso no texto, mas dá para perceber a ideia.

    Eu compreendo que haja alguma resistência por parte dos fãs a que se diga mal de um filme que eles tanto prezam, não por ser realmente bom, mas por toda a componente emocional que os envolve ao mundo dos Batmans de Nolan. É perfeitamente compreensível que se sintam revoltados. Mas não se deviam sentir revoltados comigo, mas sim com que lhes fez um filme fraquíssimo numa altura em que esperavam um ode à perfeição. O filme não é bom, é preciso que se entenda isso.

  9. Tiago Vitória

    Fiz uma crítica no meu blog e abordei alguns dos pontos que focaste aí no texto. Entre toda a rambóia visual existente no filme tem de se referir, sem dúvida nenhuma, o espectáculo pirotécnico na ponte. É que dava uma boa curta-metragem: a cidade toda esfodilhada e o batman a ir buscar um escadote para fazer a instalação.

    Raios me partam, melhor filme para spoof…como aquele que fizeram com o Twilight.

  10. cine31

    Bem, tio xunga, obrigado por tornar a minha crítica em “rascunho” inútil 🙂 abordei algumas destas falhas graves, agora vou ter que reescrever aquilo 😛 lá para 2015 logo publico…

  11. pedro

    Tem cuidado com o que escreves. Acho que tenho uma carrinha de vigilância geek à minha porta desde que escrevi esta crítica. Querem mostrar a sua violenta indignação pela minha falta de sensibilidade até ter vontade de me atirar da ponte.

  12. cine31

    carrinha de vigilância geek ? damn it, os fanboys já chegaram a isso? tenho que me por a pau…

  13. Loff

    Pá, até li a crítica mais devagar só para me poder rir mais tempo. Na mosca, como sempre. E para quando uma aos expendables 2? Isso sim, uma película como deve ser.

  14. Jukxs

    Concordo com a crítica mas não concordo com o teu ataque ao suspension of disbelief. Como amante do sistema fantástico que és custa-me a crer que nunca tivesses usado esse argumento.Eu já tive de usar esse argumento algumas vezes nas tentativas (inúteis sempre) de convencer uma gaja a ver um filme ou ao ter que aturar um tio ou um amigo mais fanhoso, daqueles que está sempre a dizer “Que fantasia!”. E não para convencer alguém a ver uma merda qualquer mas também em filmes como Indiana Jones ou Star wars. Não serve de desculpa lá está para filmes ridiculos, mas é algo que tem de existir e é uma capacidade que existe na cabeça dos cinéfilos.
    1″…após Pedro negar a suspension of disbelief pela segunda vez, o galo cantou. E ao afirmar Pedro pela terceira vez que não conhecia a suspension of disbelief, cantou o galo pela segunda vez. Então Pedro se lembrou da palavra que a suspension of disbelief lhe dissera: Antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes.”

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