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Il mio nome è Nessuno (1973) aka My Name Is Nobody

Mynameisnobody.

Aqueles que entraram no submundo da sétima arte no início dos anos 80, como este vosso estragado escriba, aprenderam a odiar com todo o seu ser os Westerns, ou “filmes de cóboys” como eram conhecidos na altura. A razão para tal é o facto de este género ser o preferido da geração anterior, e os teenagers rebeldes dos anos 80, queimados de tanto ouvir Sigue Sigue Sputnik e jogar Manic Miner no ZX Spectrum não queriam saber dos filmes que a velhada gostava. No desfecho dos anos 70 e da sua debochada espampanância alucinogénica, os filhos dos anos 80 só queriam saber de ficção científica, batalhas espaciais, universos alternativos, ultra-violência, pornografia e action heroes de forças sobrenatural (Tendo como templates Rambo e Commando). Os seus pais insistiam com Bonanza e Ben-Hur e os pirralhos mimados, mal educados como qualquer puto ranhoso que se preze, zombavam das boas intenções dos seus progenitores. E assim continuou esta imbecilidade, até aqueles que se mantiveram constantes na cinéfila cresceram até aos quase quarenta anos (que lhes assombram os pesadelos). Sim, somos agora os velhos e algumas ilações devemos tirar dos nossos erros passados.

Acontece que por meados dos anos 90 os Westerns tiveram uma nova vaga de sucesso. Deu-se um dos maiores milagres dos últimos 30 anos, a transformação de um actor tijolão monodimensional num dos melhores realizadores da actualidade. Clint Eastwood, ainda na posse de toda as suas faculdades mentais, revisita o género que o viu crescer e um sem número de produções volta a inundar os nossos cinemas de pistoleiros irredutíveis mais rápidos que a própria sombra e capazes de acender um fósforo naquela barba de 3 dias capaz de humedecer a vulva de modo fulminante a qualquer noviça casadoira. Unforgiven, Dances with Wolves, Tombstone, Desperado, The Last of the Mohicans, Buffalo Soldiers e depois os crossovers com outros géneros, os steampunks, os retro-futuros e vice versa, protagonizados por mulheres, crianças ou mesmo cavalos. Bem, uma festa. Desde From Dusk Till Dawn até Wild Wild West passando pelo Vampires de John Carpenter, foi um comboio que começou aí e nunca mais parou. A avaliar por Django Unchained ou True Grit, dá ideia que a onda está para continuar, apesar de se prever uma ligeira curva ao Western Spaguetti no futuro, graças à perseverança de Tarantino. All Of This Has Happened Before And Will Happen Again Style…

E nós, os trintões que odeiam westerns, pensámos “Bem, se calhar vamos lá dar uma segunda oportunidade a estas coboiadas. Já parece mal esta embirração.”. E assim começámos a ver em ordem inversa. Primeiro os dos anos 90, depois alguns spin-offs (que até já tínhamos visto) dos Westerns slapstick do final do Spaguetti e do reinado dos Leones, depois entrámos pelo Spaguetti adentro. Vimos os mais conceituados e alguns jovens mais corajosos fizeram o circuito todo, como o Pedro Pereira, por exemplo. E então fomos à tradição americana do Western, dos mais negros aos mais joviais, da galhofa de Mel Brooks em Blazing Sadles à seriedade de John Wayne. The Searchers, filme obrigatório, duro e multi-camada.

Este “My Name Is Nobody” é um marco no género, uma vez que é o último western de Henry Fonda e é onde a seriedade dá lugar ao registo mais cómico que viria a marcar os anos seguintes. E Terence Hill faz o seu registo Trinità, um herói rápido e mortal sem grandes ambições profissionais e Henry Fonda que interpreta um papel com paralelo na sua própria vida, a reformar-se desta algazarra dos tiroteios. Violento, humorístico e descomplexado como só os italianos sabem fazer.

Juntamente com a filmografia de Sergio Leone e John Ford, é um daqueles filmes que o meu pai me falava e que eu desprezava. Ele tinha razão, quando me via a consumir entretenimento de qualidade questionável e dizia que tinha que ver uns filmes do tempo dele. Meu Deus, ele sempre teve razão em tudo… Eu espero sinceramente que não leia isto, porque até hoje não tive coragem de admitir tal coisa. Hei-de um dia engolir meia dúzia de sapos e falar-lhe nisso. Talvez o faça até nas tardes da Júlia, vestindo para o efeito umas calças justas de licra que tornem proeminente a minha vasta testicularia.

Adenda: O filme não é perfeito. A combinação de slapstick com a narrativa western tradicional às vezes não encaixa bem, os motivos do Nobody nunca são suficiente claros, o Henry Fonda passa o tempo todo em despedida nostálgica e o final é apressado (e tolo) seguido de uma longa despedida (talvez demasiado longa) em voz off. Mas foi o primeiro spaghetti que vi em Bluray e tive aquela sensação que tinha quando os via nos cinemas (de praia, no verão). Aqueles tipos sabiam filmar. As cores são quentes e ricas, a expressões faciais dos personagens são ricas e bem iluminadas, o aproveitamento dos espaços exteriores é superior, o trabalho de câmara é criativo, a acção é desenfreada, a cinematografia é gloriosa e as bandas sonoras são sobejamente reconhecidas como “as melhores”. E que o digam os Metallica e o Tarantino.

Adenda adicionada em 02-02-2013 ás 11:18

3 Comments

  1. Alexandre Fernandes

    Bom artigo.

    Já agora, um apontamento, uma vez que estava hoje a ler este artigo:

    http://cine-resort.blogspot.pt/2013/01/john-carpenters-top-10-westerns.html

  2. pedro

    O primeiro comentário desse artigo do Cine-Resort diz tudo.

  3. Jorge Teixeira

    Este post foi referenciado, criteriosamente, no âmbito de uma rubrica no meu blogue. Aqui: http://caminholargo.blogspot.pt/2013/05/a-pergunta-da-resposta-2_8.html

    Cumprimentos,
    Jorge Teixeira
    Caminho Largo

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