Uma família de subúrbio muito feliz. Casa bonita e espaçosa, decorada de modo sóbrio e realista, uma existência idílica quebrada pela morte da mãezinha. “Oh, não! E agora?” Diz o pai aflito que estava tão bem na vidinha dele, afogado em trabalho, confiante nas largas costas da esposa que alombava sozinha todos os afazeres da casa. “Caraças, então, mas agora tenho que tomar conta da… aquela… como se chama? A minha filha e a irmã?” E é neste ponto que começa o filme, afundado na dor da perda e no luto. Luto, esse, que será pela pintelhésima vez personificado numa criatura escondida nas trevas que se alimenta da tristeza de quem não deslarga o osso da inquietação.

E é em cima desta banalidade que vai assentar toda a pobreza que desfilará pelos nossos ecrãs nos seguintes 90 minutos. De banalidade em banalidade, a trama vai-se enchendo de ar quente que o faz andar levezinho sem e sem significado. O pai alheado do mundo centra-se em si e ignora as filhas, o monstro aparece-lhes, mas ninguém acredita, uma psicóloga ajuda a incendiar a tese das pobrezinhas que preenchem as lacunas da melancolia com imaginação fértil. E o monstro lá se vai alimentando dessa alienação para se alimentar das almas ou lá do que quer que seja a sua dieta.

E este aterrador monstro, que vive nas trevas só singra porque, convenhamos, naquela casa ninguém acende as luzes. Porque o monstro tem medo da luz ou porque foi feito no 3D Studio Max para Windows 98, não saberemos. Mas o certo é que bastaria uma pequena lâmpada de 6w, led, dos chineses para resolver aquela assombração. Pode ser dos chineses. Umas lanternas também ajudariam. Infelizmente as crianças e o pai daquela casa preferem conduzir as suas rotinas domésticas no quase escuro absoluto, esgalhando a testa num armário aberto ou caindo por umas escadas que vão dar a uma vulgar cave assombrada.

Tal como a narrativa também os personagens são vazios e vivem de experiências de outros personagens de outros filmes onde as suas falas e comportamentos foram copiados sem grande atenção à construção de uma personalidade com que nos possamos identificar. O que sinto em relação a eles? Podem morrer todos, não quero saber.

Nunca saberemos se a fotografia, composição ou cenografia são boas porque o filme está permanentemente mergulhado num indistinguível breu. Mesmo numa cópia de resolução 4K com HDR na mais alta qualidade possível, mais negro que uma sala de estar de um filme de Pedro Costa.

Musica indie, ambiente de sintetizador barato com o habitual fade out para o jumpscare, design de som pobre, sem real sentido de espaço e sem transmitir medo no sons da assombração. Botai os olhos no sound design do último evil dead, meus bandidos. Ainda assim, nenhuma qualidade de construção do ambiente sonora vingaria neste miserável ritmo de filme que se arrasta por 1h20m minutos inerte e flácido.

Mais uma vez o luto, esse belo mecanismo que perdeu a nobreza ao se permitir deixar de ser escasso como mecanismo expiatório para o medo e a mensagenzinha que é logo denunciada no inicio quando a mana mais velha diz que não quer esquecer-se da mãe, que pretende levar às costas aquela dor até à morte. É uma mensagem entregue com a subtileza de uma marreta nos tomates.

De realçar que é a adaptação de um conto curto de Stephen King e que deveria manter esse formato como obra de cinema, uma curta.

Não gostei nada, fez-me ter a sensação de estar a perder tempo e eu sou uma pessoa que ver orgulhosamente lixo e requeijão oitentista, que sorri feliz com exploitations passados a fotocópia e escreve estes posts que ninguém lê. Aliás, ofereço um livro “20 anos de Cinemaxunga” autografado com uma impressão da minha gaita em baton às primeiras 2 pessoas que copiarem e colarem este parágrafo e me enviarem. O livro ainda não está terminado, mas há-de ficar eventualmente.