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The Curious Case of Benjamin Button (2008)

Uma coisa que me mete muita confusão é a unanimidade na crítica cinematográfica. Normalmente isso significa uma coisa (ou duas): o realizador usou todos os subterfúgios ao seu alcance para sacar um “agrada críticos” da cartola, híbrido, estéril, pejado de figuras de estilo visual mas insípido. Ou ninguém tem coragem de dizer que não gostou sob o risco de ser chamado “inculto”. Nada de ofensas físicas, claro. Porque um crítico de cinema mal tem força para levantar o rabo gordo da cadeira, quanto mais para bater em alguém.

E foi nesta atmosfera de desconfiança que me atirei ao Benjamin Button. David Fincher é responsável por um dos meus filmes preferidos, Fight Club. Mas também é verdade que este é um dos filmes preferidos de quase toda a gente que escreve sobre cinema. Mas David Fincher também é responsável por dois áridos filmes que não deixaram saudades, Panic Room e Zodiac. Este último não acabei de ver, pasmem-se!

Confesso que filmes de 3 horas não são dos meus preferidos, mas como não é nenhum épico Senhor-dos-Anéiszesco avancei sem medo. E fui surpreendido por uma estranha e agradável dinâmica inicial, uma aura dourada e cativante que nos dá as boas vindas, assegurando-nos que tudo irá correr bem. A primeira parte do filme, o enquadramento de Benjamin e o seu tempo, tem um arzinho de Jeunet, nomeadamente “Un long dimanche de fiançailles”. Os dourados, a narrativa e a descrição do absurdo da guerra, a paixão do homem que fez um relógio que anda ao contrário. Não diria plágio, mas certamente o efeito “Uau” fica reduzido a “Ah sim, faz-me lembrar o outro”.

E assim começa o Estranho Caso de Benjamin Button, a história de um homem que nasce velho cuja evolução segue a direcção oposto dos outros seres humanos. Um filme rico em narrativa, que é uma perfeita utilização do meio cinematográfico para contar uma história, para nos envolver nas alegrias e desgraças daquela gente. É suficientemente ágil para nos fazer fluir emoções que não são comuns ao ver uma película.

Brad Pitt impressionou-me. Não é mau actor, como todos concordamos, mas há qualquer coisa neste Benjamin que é hipnótica. Nunca antes vi um velhote com entusiasmo de criança nem um adolescente com a serenidade de um homem sábio e maduro. É tão fascinante que o nosso cérebro nem sequer consegue processar muito bem essas dicotomias, que apesar de não parecer, são subliminarmente surreais.

Então mas o filme é assim tão bom? Era, se não tivesse a estrutura que tem. Discordo completamente com o esquema de flashbacks feitos à conta de uma rapariga estar a ler o diário a uma velha moribunda, como se fosse preciso uma desculpa idiota para contar uma história tão rica como esta. Neste ponto Fincher usou o esquema do filme porno: apesar de toda a gente saber ao que vai, é necessário inserir um catalizador para fazer a ignição, neste caso a velha moribunda, nos filmes porno é o canalizador que faz visitas ao domicílio. É perfeitamente desnecessário, toda a gente percebia bem os sentimentos da velha sem a idiotice do “leito da morte”. Já para não falar no furacão. Que merda foi aquela?…

2 Comments

  1. Ricardo Vieira

    “Nunca antes vi um velhote com entusiasmo de criança nem um adolescente com a serenidade de um homem sábio e maduro. ”

    Realmente, focaste um ponto bastante interessante. Não tinha pensado nisso, mas tens toda a razão. Gostei bastante deste filme! Um dos grandes deste ano, mas não o melhor de Fincher. Esse continua a ser o Fight Club.

  2. Peter Gunn

    É um dos grandes filmes do ano sem dúvida nenhuma. Se podia estar melhor? É claro que podia, não leva nota cinco mas leva um 4 bem dado! Realmente também não percebi bem a falta que o furacão fazia na estória… só se fosse para termos medo de a meio do filme faltar a luz e acabassemos para não saber como é que a coisa acabava. Enfim… hollywoodices!

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