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Tag: drama

Lady Bird (2017)

As minhas expetativas iam a zero no que a Lady Bird concerne. O filme Francis Ha, escrito pela realizadora Greta Gerwig, está-me ainda entalado nas goelas como uma casca de milho da farsolice. Aquela treta do mumblecore que assolou o planeta há 5 anos e a sua celebração do desconforto social ainda me afeta hoje. Isto de confundir doenças mentais com coolness é algo a que nunca me habituarei. E ali estava eu, preparado para ver Lady Bird sem saber nada do filme além da sua abominável genealogia.

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Three Billboards Outside Ebbing, Missouri (2017)

Numa época pós-reality TV, do direto e da reengenharia do realismo as pessoas começam a confundir-se com o que é a realidade. O que é uma narrativa realista, estamos perante algo plausível ou é uma fantasia sexual encapsulada e reprimida de um argumentista drogado? É demasiado polido para ser um relato do quotidiano? “As peças narrativas encaixam demais? Já me enganaram estes malandros.” E por vezes andamos nisto, neste ping pong do pós-neo-pré-meta-ultra-hiper-micro realismo. E claro, como tudo o que discute hoje não tem interesse nenhum. É o discurso estéril destas redes que nos aprisionam a conversa num curral que parece não ter portas nem janelas, onde o ar entra filtrado. Daí existir esta necessidade de falar um pouco de Three Bilboards não sei quê… Deixa googlar Three Billboards Outside Ebbing, Missouri.

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Maggie (2015)

Maggie (2015)

– O senhor, por acaso, sabe quem eu sou?
– Paiziiinho!
– Não, não. Sou um drama familiar em formato de telefilme. Coincidentemente passa-se em pleno apocalipse zombie e  protagonizado por Arnold Schwarzenegger.
– Eh lá! Isso é que deve ser matar, esquartejar, decapitar, sangue a jorrar, tripas arrastadas pelas ruas, prédios em chamas, exércitos a bazucar hordes de milhares de zombies pelos ares, a destruição de uma cidade grande americana no terceiro acto, motosseras a…
– Erm… Sim… Não! Não é bem assim. É mais silêncio, contemplação, sofrimento interno, escuridão…
– Escuridão como em “trevas”, a negridão dos tempos, o desespero de se ser mastigado vivo por uma matilha de mortos vivos enquanto se lhes arranca metade do torço a tiro de caçadeira de canos serrados?
– Não. Mais em falhas de electricidade e problemas na infraestrutura de distribuição de alta/média tensão.
– Oh diabo! E vai ser o Arnie a conseguir reconstruir rapidamente toda essa destruição graças à sua capacidade física de super-humano e a uma experiência avançada que não se aprende nos livros para grande humilhação dos jovens superiores hierárquicos que pensavam estar perante um velho caquético que no final lhes salva o dia?
– Não, a infraestrutura mantém-se inalterada durante toda a duração do filme.
-Nem mamas?
– Nada…

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Spring Breakers (2012)

Vanessa-Hudgens-in-Spring-Breakers

Há escassos dias iniciei-me no universo de Harmony Korine com Gummo. Desde sempre que estou familiarizado com uma icónica imagem do filme, em que uma criança de aspecto socialmente descuidado come um prato de esparguete sentada na banheira. A água cinzenta escura, um tabuleiro apodrecido, os azulejas cheios de bolor e um pedaço de bacon colado com fita cola à parede. Atenção que eu acabei de escrever “um pedaço de bacon colado com fita cola à parede”… Além de ser um dos frames mais icónicos dos foruns e imageboards de cinema por essa Internet fora é também Gummo in a nutshell. Mais ainda, é um concentrado de essência do pouco que vi de Korine.

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Somewhere (2010)

 

Sofia Coppola, songa-monga. Com a simpatia de um bloco de basalto e um semblante equídeo cuja estrutura rinoplástica permite pendurar confortavelmente duas gabardines e uma samarra alentejana, Sofia é a filha mimada de Francis Ford Coppola que tenta sacar gabarito à conta de créditos hereditários e que desde finais do século passado tenta fazer passar os seus filmes por clássicos intemporais com a ajuda da máquina publicitária do papá. Mas como até um relógio parado pode estar certo duas vezes por dia, havia de chegar o filme que fosse decente. Somewhere, uma bela crónica voyeristica do mundo do showbusiness visto por dentro.

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Caché (2005)

Ora aqui está um filme bem distorcido, destilado pela visão peculiar de Michael Haneke, com todos as características perturbadoras que nos tem habituado. Caché começa por se apresentar como um filme acerca de um mistério que poderá envolver drama, vertente policial e o eventual twist da praxe para acabar. No entanto Haneke sabe usar as ideias pré-concebidas e boçais do cinema actual para nos levar, quais crianças atrás do pai natal, até à terrivel verdade, escondida e silenciada para bem do conforto da sociedade ocidental civilizada de corpo dormente e cabeça escondida na areia.

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Tideland (2005)

Nós, cinéfilos com experiência, já percebemos por várias ocasiões que ver um filme que gostamos nem sempre é sinónimo de entretenimento e tempo bem passado. Há filmes que se tornam inesquecíveis, que crescem dentro de nós pelo seu hiperealismo ou desconforto de determinada temática. “Idiotern” de LarsVon Trier ou “Martyrs” de Pascal Laugier são exemplos disso mesmo que falei por aqui recentemente. Mas abordar  miséria humana, terrorismo, toxicodependência, abusos infantis, pedofilia, necrofilia e crueldade num tom de esperança e optimismo, só mesmo Terry Gilliam.

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Geração “Borra Piças” – Cidade Despida

É triste, tão triste que a cada vez que a industria televisiva (e cinematográfica) queira fazer um produto diferente para as massas recorra a clichés americanos para encher uma hora de puro lixo, criando um produto que em nada se identifica com a realidade portuguesa e que mais parece aquelas brincadeiras que os putos fazem quando compram câmaras de filmar, só que com melhores meios e menos criatividade. Aqui temos um produto que nos fala de um serial killer (rir!) e de uma detective toda MILF que anda agachada em edificios abandonados de arma em riste e faz piruetas de carro em perseguições a canalhada criminosa em fuga. E no final de tudo, depois de muitos minutos de risadas involuntárias eis que compreendemos que estamos no mesmo ponto onde estávamos há 30 anos atrás. Apesar dos meios, da tecnologia e do talento, porque há talento em Portugal, levamos com um versão reciclada, recauchutada, mais colorida da Vila Faia original, só que desta vez há menos pessoas de bigode.

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A Single Man (2009)

Por uma estranha e incompreensível razão, só cerca de uma hora dentro do filme me apercebi que este não era o último filme dos irmãos Coen, este é apenas um filme com um nome muito parecido. Foi nessa altura que “Senti o gume frio da navalha até ao osso, senti o cão da morte a bafejar no meu pescoço“. Respirei fundo 3 vezes e pensei que este também nem estava a ser muito mau e avancei rumo ao final de um filme que mudou a meio. Além disso, ainda está para aparecer uma performance de Julianne Moore que não me hipnotize. Bom talvez Evolution ou o remake de Psycho, o filme mais desnecessário da História da Humanidade.

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El orfanato (2007)

Desde o dia em que vi pela primeira vez um daqueles macacos que dizia “Habla comigo, quiero ser como tu!” que me apercebi que os espanhóis são muito diferentes de nós. Enquanto que nuestros hermanos não desperdiçam ideias, aqui em Portugal as ideias não saem da mesa da esplanada, onde são inteligentemente apresentadas entre tremoços e minis, mas depois morrem. O cinema de terror deles está também entre o melhor do mundo e atrevo-me mesmo a dizer que este El Orfanato é o melhor desta década passada.

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Avatar (2009)

Sou a pessoa indicada para falar de euforias de tecnologias de primeira geração. Esse fascínio da novidade que me seduz como a décima musa de Lesbos, como aquela luz assassina que atrai os mosquitos para a sua perdição. Eu, que tenho em casa gavetas cheias de palm tops, PDAs, smartphones e outros gadgets idiotas só porque tive dificuldade em esperar que uma tecnologia amadureça. A história ensina-nos lições importantes de assombros cegos de primeira geração que morreram rapidamente, fazendo os seus embaixadores lambe-bolas parecerem ridículos palhaços à chuva, com a maquilhagem a escorrer pela face, com um sapato roto a ver-se o dedão  Exemplos como a MiniDisc, HD DVD, videogravadores Beta, laserdisc, o videotelefone, os carros que falam ou aquele pedacinho de cartão que permite que as senhoras se aliviem em urinois.

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(500) Days of Summer (2009)

O narrador avisa logo à cabeça que esta não é uma história de amor e a cena inicial garante que daqui não se esperam finais felizes. Mas esta não é uma história original, porque qualquer um de nós, menino ou menina, com vida sentimental e sexual dentro dos parâmetros daquilo que é considerado normal, já passou por esta situação uma vez na vida. Quantos de nós não arranjaram já aquilo que pensaram ser a alma gémea, e de repente essa alma gémeo no meio de uma relação que parecia ser normal dá um discurso em que diz não ser capaz de amar, que não é suficiente boa para nós e que merecemos melhor, não se encontra preparada para amar ou assumir compromissos e nos abandona deixando o nosso coração feito em estilhaços. E depois, passados uns dias, descobrimos que afinal a vaca já namora com outro gajo e até tem planos para se casar. Ou quando diz que precisa de tempo para se reavaliar e definir a sua vida com calma e sem parceiro e passada uma semana descobre-se que teve que ir lá a casa uma equipa de desencarceramento dos bombeiros municipais para lhe tirar uma equipa de rubgy que lhe ficou entalada nos entrefolhos numa posição sexual arrojada mas tecnicamente mal executada. Não, a mim nunca aconteceu!…

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The International (2009)

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A intriga internacional com filmagens em várias paragens do globo é um género antigo mas cada vez menos usado. É neste reino do James Bond que se passa The International. Filme bonito, tecnicamente bem conseguido, de belos cenários e fotografia decente que no entanto é maior colecção de pontas soltas, buracos de lógicas e saltos de fé que já vi nos últimos tempos. Nem Naomi Watts, num registo vestido, salva o filme das lamas do esquecimento rápido.

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The Wrestler (2008)

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De há uns anos para cá começaram a dar à costa os naufragos dos anos 80, os chamados “has beens”. Estrelas viçosas que no seu tempo eram reis do mundo mas que tomaram más decisões económicas, trocando o imobiliário e a bolsa por cocaína e putas. Uma galáxia enorme que agora aparece em todos os meios de entretenimento a tentar ganhar qualquer coisa para ir vivendo, o pão nosso de cada dia. Nem que para isso tenham que tornar as suas desgraças públicas. E como nós adoramos desgraça alheia, quem em tempos viveu em palácios e foi conduzido em limusinas e agora andam para aí a ganhar o ordenado mínimo, gordos e disformes. É este universo que The Wrestler explora, o desgraçadinho que já foi o maior lá da aldeia.

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The Curious Case of Benjamin Button (2008)

Uma coisa que me mete muita confusão é a unanimidade na crítica cinematográfica. Normalmente isso significa uma coisa (ou duas): o realizador usou todos os subterfúgios ao seu alcance para sacar um “agrada críticos” da cartola, híbrido, estéril, pejado de figuras de estilo visual mas insípido. Ou ninguém tem coragem de dizer que não gostou sob o risco de ser chamado “inculto”. Nada de ofensas físicas, claro. Porque um crítico de cinema mal tem força para levantar o rabo gordo da cadeira, quanto mais para bater em alguém.

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