Dois irmãos franceses, amantes de cinema, convidam um jovem americano para passar uns dias lá em casa enquanto os pais vão para algures. Tendo como pano de fundo a revolução estudantil de Paris em 1968, este filme é um ode à experimentação e também uma prova de que nem toda a pintelheira dos anos 60 é assustadora.
Podem dizer coisas como “Uma homenagem emocionada ao cinema“, “A revolução faz-se nas ruas ou é um processo individual” ou ainda “Uma aproximação à paisagem intelectual dos anos 60, sobre a liberdade suprema e blá blá blá…“, mas na realidade os cinéfilos correram em grandes manadas aos cinemas com a premissa de sexo explícito e carne à fartazana. Quem não viu o seu pau a ser levantado involutariamente na cena de lésbicas do “Mulholland Drive” ou a desenfreada fodança que se espalhava como fogo selvagem em “Crash”? Bem, penso que ninguém poderá passar por cima deste aspecto em qualquer crítica que se faça. Também filmes como “Intimacy”, “Os Idiotas”, “Bound” ou “In the Cut” usaram esse hype sexual para arrastarem imprudentes cinéfilos às salas sob a capa do arty movie. Não estou a dizer que não aprove, porque acho que para retratar no cinema a existência humana, há que fazê-lo sob todos os aspectos, nem que isso inclua gajas a mudar o penso, pessoas a fazerem força no WC ou o sexo crú. Felizmente que isso já se vai fazendo mais actualmente.
Este filme acaba por ser um bocado xunga, porque nos dá a entender que a linha é a da libertação pessoal e amor ao cinema (à mistura com a tal revolução), mas na realidade é uma sucessão que quecas que traz ao mundo este corpo de deusa que é Eva Green. Também não vejo isto como um filme que fale sobre o incesto, porque este simplesmente não existe. Provavelmente seria útil uma vista de olhos a “Dead Ringers” de Cronenberg para perceber melhor este tipo de relação hiper-protector de irmãos.
A maneira como é retratada a sociedade francesa dos anos 60 é mais South Park do que propriamente histórica. Tudo fuma, é uma festa. Bernardo Bertolucci, com a sua costela de pedófilo adormecido, dá uma visão sexual ao filme que, confessemos, ofusca tudo em redor. Os actores na realidade não são grande merda, e sou capaz de jurar que ocasionalmente o vi a olhar por cima da câmara à espera de instruções. Ser cool não é tudo, Bernardo. Bem, eu bem que tento andar para aqui à procura de assunto, mas só me lembro mesmo do sexo. Resultou na perfeição esta estratégia. Para dar outra interpretação, experimentem visualizar na vossa cabeça este filme com as cenas “quentes” cortadas. O que se vê? Uma imensa seca de 45 minutos que chega mesmo a suplantar a seca estática que foi “Gerry” de Van Sant.
Pontos altos: Eva Green, porn star!
Pontos baixos: *** Spoiler*** Confesso que a cena do sangue depois do sexo tirou a excitação toda. É monótono, esteriotipado, mal representado, clautrofóbico e irreal.
Veredicto: Xunga por xunga, prefiro o Freedy Krueger
Epa em relação a “pau a levantar” no Crash…… devo dizer que, mesmo que tivesse pau para levantar, o meu não levantaria… Algo que não me parece sensual são corpos disformes e aleijadinhos a fazer sexo. Seria próprio para qualquer freak porn, mas conforme o próprio Cronenberg disse no encontro com o público no EstorilFilmFestival 2009, o corpo humano é um fascínio para ele. Embora eu ache que o corpo humano com tanta mazela já deixa de ter sex-appeal, ou todos vocês se vêem a comer uma qualquer toda aleijadinha com o mesmo gosto de o fazer a qualquer outra imaculada e sem cicatrizes de maior?