mysummeroflove

Antigamente havia cinema independente, declaradamente e descaradamente independente. Depois apareceu a fase Miramax e toda a gente passava por independente. Oscares e o caraças e a fase passou. Agora voltámos ao domínio do estúdio grande com filmes pequenos à base de fogo de artifício digitech. Eu, confesso, gosto de cinema independente, dos olhares fora do mainstream que não se prendem com a salvação do planeta, mas antes com realidades pessoais e focalizadas de determinado personagem ou comunidade. Também vos digo já que hoje em dia é difícil encontrar um filme com estas características, com a quantidade de lobos que vestem pele de cordeiro.

Há filmes que se podem ver com satisfação apenas pela mestria do trabalho técnico. Este é um deles. É filmado em video digital e depois convertido para 35 mm sem perder muito do original. Neste caso não há a preocupação de dar o look de film, porque o realizador opta por tirar partido das vantagens do digital. As cores garridas e o movimento que a camara proporciona. É filmado quase todo em “camara na mao”. Há também a característica dos zooms ligeiros que aumentam a tensão em momentos de silêncios desconfortáveis. A fotografia é bem cuidada, tanto em interior com em exterior. Aliás, a fantástica paisagem rural inglesa ajuda muito.

A história de personagens teen com problemas de crescimento é banal, mas Pawel Pawlikowski dá um jeito, ajudado em grande parte pelo livro de Helen Cross em que foi baseado. Apesar de durante o filme o cinéfilo estar sempre a mandar bitaites a dizer que agora vai acontecer isto ou aquilo, o filme dá sempre a volta ao lado, fazendo com que aconteça o óbvio mas dando enfase a algum outro dano colateral que assume maior importância. As actrizes principais são muito boas e encarnam bem o papel. O irmão de Mona é Paddy Considine, conhecido mais pelo fantástico personagem que construiu em “In America”.

Banda sonora soberba, com a presença dos Goldfrapp, Édith Piaf, Gilberto Gil e Caetano Veloso ou mesmo Mozart. Édith Piaf recebe ainda a honra de uma ligeira biografia em tons de fatalismo e decadência à laia de “Uff, comparada com essa a minha vida nem é má!”.

Em termos de argumento, é um filme de personagens, de descobertas, um Verão Azul mais escaldante e dramático, mas não excessivamente dramático. Atalha ali bastante através de uso da cultura geral do espectador, usando conceitos filosóficos para definir situações que levariam muito tempo a explicar.

Eu gostei, é um filme curtinho e bastante intenso. Tem uma vertente Jesus Freak que me provoca sempre um prazer mórbido.

Nota: Tem gajas boas que aparecem nuas e até se comem enquanto consomem cogumelos mágicos e bebem vinho como sargentos da brigada de trânsito da GNR…