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Yes Man (2008)

yesman2

Por uma vez na vida gostava de ver um filme com uma história de amor assim: rapaz conhece rapariga, rapaz finge gostar de rapariga para ganhar aposta (ou qualquer outro reles subterfúgio narrativo), rapaz namora com rapariga, no pico do amor rapariga descobre aposta (ou o reles subterfúgio narrativo), rapariga afasta-se do rapaz em lágrimas, rapaz percebe que realmente ama rapariga, rapaz chora à chuva com uma balada hard-rock, nos últimos 3 minutos rapaz corre desesperadamente para reatar a relação amorosa com a rapariga, rapariga encontrada em casa enforcada na casa de banho (mortíssima e com moscas), rapaz atira-se da janela e cai no alcatrão e sobrevive com uma perna e braço partido, camião do lixo não vê rapaz na estrada e passa-lhe por cima arrastando-lhe as entranhas ensanguentadas até 800 metros mais à frente…

Infelizmente ninguém me quis ainda comprar este guião. Mas este não é um filme de gaja. É um mix. Meio gaja meio Jim Carrey. Jim Carrey faz carantonhas e as habituais macaquices e apaixona-se por uma gaja num esquema com um índice de semelhança de 80% à minha sequência inicial. Só que acaba bem com amor e beijinhos e talvez um casamento. Não sei, vi a semana passada mas já me esqueci.

Não desgosto de Jim Carrey. Ao contrário de quase todo o mundo sou fã de Ace Ventura. É preciso contextualizar os filmes do Ace Ventura no tempo, quando Jim Carrey era uma lufada de ar fresco e tinha aquele condão de transformar em ouro em tudo o que tocava. Depois rapidamente a malta se fartou, porque parecia sempre o mesmo filme, parecia sempre o mesmo personagem, as mesmas macaquices, etc. Jim Carrey teve que enfrentar o dilema que enfrentam todos os actores com estilo próprio. Continuar a fazer o mesmo filme vezes sem conta e cair em desgraça ou optar por fazer papéis que fugissem ao seu registo habitual e cair em desgraça?

Não há fim à vista para esta amargurada calamidade, mas o certo é que hordas de saloios continuam a afluir sala adentro para se rirem desalmadamente e cuspir os restos de pipocas para as filas da frente em explosões de galhofa incontrolável a ver Jim Carrey fazer 36 vezes em 90 minutos esta carantonha:

jimcarrey

O filme acaba por ser um remake de outro filme que ele já fez. Neste ele faz um juramento em que tem sempre que responder “Sim!” a todas as propostas que lhe são feitas, no outro não podia mentir. Depois é uma sequência de acontecimentos devido à sua grande boca que o levam a situações que ele nunca imaginou poder estar e até gosta.

É um filmeco tépido, sem intentos artísticos, para levar uma gaja que mal conhecemos mas que queremos saltar à espinha no final do filme e depois desaparecer para sempre no eter, uma vez que o número de telemóvel que lhe demos nunca mais irá funcionar.

3 Comments

  1. Peter Gunn

    A ultima grande comédia digna desse nome que foi protagonizada pelo Jim Carrey foi o “My, myself & Irene”. Depois disso é como dizes, remake atrás de remake… mas no que toca a filmes “sérios” temos tido excelentes prestações do Jim Carrey, basta ver por exemplo o grande “Despertar da Mente”…

    De resto vou esperar para ver esta pérola de humor (cof cof) num dia que passe na TVI ou na SIC…

  2. Arapuk

    Esse guião que descreves no primeiro parágrafo quaaaase que já existe. Falta a parte da gaja enforcada e o gajo com as tripas de fora… Mas o gajo morre.
    Falo, claro, do Cruel Intentions… um filme que por acaso está no meu top.

    Quanto ao Yes Man, até gostei. Não trouxe nada de novo, mas entreteve-me. Não pagava para o ver no cinema, mas o backup que fiz das internets valeu a pena. 😛

  3. Paulo Ferreira

    Quanto ao dilema que referes, Carrey tem optado (e bem) por intercalar as comédias escatológicas que são a sua imagem de marca (“Yes Man”, “Bruce Almighty”, etc.) com trabalhos que mostram que o rapaz até tem jeito para a interpretação (já referiram “Eternal Sunshine of the Spotless Mind”, mas não se esqueçam de “The Truman Show” ou “Man on the Moon”). Obviamente que lhe ficaria melhor apostar mais em trabalhos do género destes últimos, mas o dinheiro está precisamente nos outros, que atraem as tais hordas de saloios… e um gajo tem de comer!

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