Estava eu hoje descansadinho na Bershka à espera da minha esposa e queria-me parecer que o ar condicionado estava avariado. Emitia um som metálico, repetitivo e irritante que já durava há 15 minutos. Quando olhei à minha volta pessoas dançavam ao ritmo daquela barulheira infernal. Apercebi-me então que era música que estava a ser emitida do sistema de som lá daquela merda. Sabem como é, entrar na Bershka é como estar a meio de uma alucinação de LSD rodeado por autómatos anorétimos a quem foi apagado o módulo de humor ou simpatia. Em contrapartida, os módulos “abanar as tetas” e “bambolear o cu” estão bem activos. Lembrei-me então dos efeitos sonoros dos filmes de bordoada orientais do apogeu do VHS ou mesmo antes, das salas de cinema de aldeia.
Antes de uma vaga de filmes americanos da Golam-Globus ou da Canon Pictures, já qualquer cinéfilo em potência estava familiarizado com filmes de kung fu orientais. Eram projectados em aldeias (nas casas do povo) por um bacano que aparecia de Macal com um projector portátil e umas bobines. Depois metiam-se uns bancos desconfortáveis (compridos) e o pessoal assistia ao filme projectado na parede, sem qualquer sincronização sonora. Lembro-me claramente do som. A acústica destes pavilhões era horrível e extrapolava os exagerados efeitos sonoros da bordoada ao expoente da dor. Era mais ou menos como nos Jovens Heróis de Shaolin, mas com eco imenso. Havia um intervalo para Sagres (minis) tirada de uns bidons com àgua e gelo e a seguir um filme porno. Nessa altura mandavam-me para casa, que aquilo era só para homens… Bêbados, claro! Eu e os meus amigos íamos para o telhado ver, sem ninguém topar. Estamos a falar em 1980 ou 1981… Muitos de vocês que estão a ler isto nem espermatozóides eram ainda.
Depois na vaga do VHS (1986/1987) apareceram os direct to video americanos com actores orientais. Os filmes de ninja ou samurais eram muito populares. Nessa altura já toda a gente considerava o Kung Fu de Hong Kong pouco sofisticado e, porque não dizer, foleiro. Eram centenas de filmes de ninja. Sempre horríveis, sempre merdosos. Havia o clássico fumo que os fazia desaparecer, os saltos e o barulho dos murros que mais parecia chapas de zinco a serem espancados por um canguru. Nessa altura apareceu o icon Ninja chamado “Shô Kosugi”. Fez os únicos decentes, tudo o resto foi rip-offs da má estirpe.
E eis que aparecem os Samurais. Completamente diferente daqueles guerreiros míticos de Kurosawa, com roupas de baixo orçamento e sempre trazidos do passado ou enviados para o futuro, sempre com poderes mágicos, um misto de vampiro com lobisomem e ninja, os samurais americanos. 7 milhões de rip offs. Tudo merda… Mas o pessoal via isso tudo, com paciência à procura de algum realmente bom, que nunca aparecia. Muitas horas perdemos nós a ver merda sem parança. Sempre à espera da frase “Este sim, foi bom!”. Infelizmente ainda não lhe tinhamos apanhado o padrão passados 400 filmes, o que era realmente uma pena. Poderia hoje saber tocar piano ou violino, ser atleta olímpico ou mesmo um cinéfilo intelectual que vai à televisão comentar os oscares. Mas não, perdi tempo nesta merda…
Boas. Lembras-te de um série de Kung Fu, talvez em 1985/86, que os maus tinham a cara pintada, metade de cada côr? É que não me lembro o nome da série e não conheço ninguém que se lembre disso. Na altura, tinha uns 5/6 anos, adorava aquilo e gostava de voltar a ver, mesmo achando que agora deverá ser uma treta.
“Jovens Heróis de Shaolin”, será?
Não tenho a certeza. Esse nome é familiar mas não consigo ter a certeza se era essa. No you tube não há vídeos disponíveis para confirmar. É que só me lembro mesmo de os mans que faziam de maus aparecerem sempre com a cara pintada, dividida em duas cores. Não me lembro da história, dos actores, nada. Mas lembro-me que adorava aquilo.
Vê lá se é isto:
http://videos.sapo.pt/TpsvhzHr73m8ZZUQcETP
Assim que começou a música fez-se luz 🙂 É mesmo isto. Ver se arranjo isto. Muito bom. Obrigado. Será que agora vai ter a mesma magia?
Pela experiência que tenho nesta área de rever coisas de infância, garanto-te que não tem a mesma magia. Aliás, nem tem magia nenhuma. Sou grande defensor da teoria de que não devemos mexer nas nossas memórias. Obviamente que tu com 5 anos nos anos 80 eras muito mais fácil de impressionar que agora. Mas também pela minha própria experiência te digo que raramente me contenho e acabo sempre por cair na tentação de rever…
Esqueci-me de dizer que esta série existe em DVD à venda em montes de sítios, tenta a FNAC. Acho que custa 30 euros. Eu tenho-a em DVD, mas nunca consegui ver um episódio completo…
O Twin Peaks reviu-se muito bem:-P Mas deve ser uma excepção. Mas vou tentar arranjar na mesma, mesmo que fique desiludido vou tentar ver o que mexia comigo. Tento sempre ver colocando o filme ou série no tempo , tirando o Twin Peaks, o Alf também me agradou rever. Pode ser que esta também. Ou então é mais um MacGyver…