Arrancar dos esgotos do esquecimento velhas glórias injustiçadas pelas falácias do destino e mugir a vaca emocional que habita dentro de nós não é nada de novo. Já foi feito em filmes de Stallone ou Eastwood ou muito recentemente em “The Wrestler”. Mas agora assumidamente em formato Documentário vemos a velha glória do Speed Metal do início dos anos 80 a tentar a sua sorte neste mundo cruel da música moderna. E se há muita nostalgia e humor também há drama suficiente derreter a carapaça mais dura do metaleiro mais hardcore.
Hoje em dia a música chega-nos a casa pré-fabricada e desprovida características emocionais que possam ser associadas ao ser humano. Eu sou uma criatura tecnológica, mas confesso que gosta da minha música orgânica. Gosto de saber que foram precisos anos de estudo musical para criar o que estou a ouvir. Gosto de sentir ocasionalmente um erro humano numa música. Não gosto de caixas de ritmos nem de sintetizadores. Nem de software para preguiçosos músicos wannabes. Não gosto de DJs. Tenho orgulho de dizer que nunca vi nem um único episódio dos ídolos e fiquei curado de reality shows dedicados à música desde que aquele gajo de bigode substituiu a Catarina Furtado no Chuva de Estrelas da SIC. E sim, fui metaleiro nos anos 80, daqueles que tinha t-shirts oficiais, comprava e escrevia em fanzines e tinha posters dos Metallica, Anthrax e Testament no quarto.
Mas até para mim, que sou um relíquia empedernida dos anos 80, estes Anvil são uns velhadas. Quando comprei o Master Of Puppets ou Number of The Beast já os Anvil estavam na lista negra de grupos a ignorar, juntamente com Bathory, Celtic Frost ou Venom. Não eram suficientemente sumarentos. Eram áridos, mortiços e monótonos. Sim, o Black Metal dava sono…
Voltando ao presente. Sacha Gervasi, roadie dos Anvil dos anos 80 decide fazer um documentário acerca desta banda que ainda se mantém no activo, com a mesma pujança de sempre, mas com um nível de êxito a rondar os 0.0001%. E lá vai ele, atrás dos dois membros criadores da banda, um distribuidor de comida e outro carpinteiro. E nas horas livres continuam a ser os metal gods Anvil, ainda que para um número reduzido de fans.
O documentário segue uma fase da vida da banda em que estes tentam voltar às luzes da ribalta. Uma digressão europeia falhada e a gravação do seu 13º album, com uma produção profissional. Na realidade a banda é uma porcaria. A música é má. Por isso é que eles nunca foram famosos. Mas essa falta de qualidade fica patente de modo implícito no documentário. O que interessa aqui é a forte ligação emocional que existe entre os dois membros originais, com cinquenta e muitos anos, juntos desde os catorze. Uma poderosa amizade, mais forte que tudo que os rodeia e que é a força motriz por detrás da banda.
É um filme muito forte e que me toca pessoalmente por conhecer o meio do Heavy Metal que não mudou quase nada desde os anos 80, altura em que abandonei o barco. No entanto a estrutura narrativa pareceu-me demasiado forçado. Sinto-me mesmo tentado a dizer que grande parte do filme foi cozinhado propositadamente para efeitos dramáticos. Pedaços soltos aqui e ali que não explicam de modo coerente como pode a vida extra-Anvil daqueles dois tipos funcionar. O realizador admite que a última cena do documentário está fora da ordem cronológica para dar impacto emocional ao fim do filme e acabar com sensação de bem estar. Mas a mim cheira-me todo a encenação.
Mesmo assim gostei muito. É daqueles que se bebe de um gole, daqueles em que o tempo voa e parece que dura 10 minutos. Sim, sinto a dor deles. Mas ser boa pessoa e um gajo fixe nunca foi garantia de música de qualidade. Como disse um dia Churchill “If you fight blá blá blá blá, you should never surrender…”
sinto falta do Chewbacca à Sexta =(
Está publicado!
http://cinemajb.blogspot.com/2010/02/guilty-pleasures-os-jardins-proibidos.html
Abraço