Tu, leitor genérico, és uma pessoa equilibrada, relativamente satisfeito com a tua qualidade de vida. Um bocadinho de ansiedade de status, o que é perfeitamente normal numa pessoa com alguma ambição. Vida sentimental e familiar agradável, uma amante ninfomaníaca nalguns casos. Uma vida que não sendo de êxtase permanente, está num nível aceitável daquilo a que convencionamos chamar “felicidade”. Mas um dia vira-se à porta de tua casa um camião de anti-depressivos, beta bloqueadores e ansiolíticos. Como podes dar uso a este valioso tesouro se o teu cérebro está bem equilibrado? Se ao menos fosses uma pessoa deprimida não vias esta oferta como uma inutilidade. O que pode provocar uma depressão instantânea tão imensamente poderosa que necessite de um camião de fármacos? Na minha opinião, este filme…
Não podemos negar a qualidade técnica de The Road. Um mundo pós-apocalíptico, devastado por um acontecimento destrutivo a uma escala global e há cerca de 10 anos sob um intenso inverno nuclear. As paisagens são desoladoras, as cidades são pálidas sombra de outrora cobertas de cinza e detritos. O frio sente-se do lado de fora do ecrã. Cenário perfeito.
Os personagens estão bem posicionados, bem caracterizados. Boas interpretações, à excepção da insuportável Charlize Theron. A história tem tudo para nos agradar, pelo menos em teoria e reputação, uma vez que somos constantemente bombardeados com a expressão “adaptada de um livro do escritor de No Country for Old Man”.
Mas na realidade o filme é o espécime cinematográfico mais deprimente, mais inutilmente triste e dramalhãozão até ao limite da paciência humana. Foi geneticamente manipulado para arrancar artificialmente lágrimas às pedras da calçada. E sem nexo, sem uma razão para toda aquela falta de esperança. sem uma recompensa. Como se atravessássemos um o deserto do Sahara a pé e ao chegar a um supermercado no meio do deserto (3 dias de caminhada) estivesse água baratíssima à venda, mas toda a gente se tinha esquecido da carteira no carro.
E para acabar o realizador pensou “Bem, só falta uma cena. Não deve fazer mal fazer um cházinho com estes cogumelos que me mandou o meu primo Álvaro de Amsterdão”.
“sem nexo, sem uma razão para toda aquela falta de esperança. sem uma recompensa”. Como a vida real!
Gostei muito do livro, e se o filme é deprimente, é que deve estar fiel 😉
o livro é muito bom… o filme ainda não sei. Mas quero ver mais um filem depois de ler o livro (cliché)
Não é assim tão mau. E quase que sobrevive ao livro (um mérito à Watchmen). Mas o livro é do caralho. E lê O Meridiano de Sangue, também “do mesmo autor de No Country for Old men”, que é só tripas e violência e poucas-vergonhas sem vergonha – e tudo isto impecavelmente bem escrito.