Nunca fui apreciador de Oscars ou eventos de atribuição de prémios em geral, porque não gosto que decidam coisas para mim. Mas como não vivo numa caverna do Azerbeijão acabo sempre por levar com as avalanches de notícias relacionadas com estes eventos nos dias seguintes. É complicado tentar perceber factos concretos, porque parece ser mais importante o estilista de determinada actriz, informação de box office perfeitamente inútil ou rumores que envolvam invariavelmente Angelina Jolie e a sua atarefada vagina. Mas estranhei o OVNI vencedor deste ano, com aquela sensação que todos conhecemos, que é ver um cavalo sentado num sofá a beber chá numa reunião da Tupperware.
Month: November 2010
Quando em 2004 estreou a série House M.D., os seus criadores não tiveram pejo em admitir a sua principal inspiração para tão exótico personagem: Sherlock Holmes. 6 anos depois é a vez do rabo torcer a porca. Fomos então presenteados por um Sherlock Holmes fortemente baseado no Dr. House. Inteligente, mestre da dedução, irascível, controlador, possessivo, violento, sem aparentes princípios morais ou o mais pequeno sinal de respeito pelos seus iguais, permanentemente ensopado em opiáceos e com a fantástica capacidade de transformar um pedaço de aparente solidariedade em mais um acto de cruel egoísmo. E é por isso que o amamos.
Ora aqui está um filme bem distorcido, destilado pela visão peculiar de Michael Haneke, com todos as características perturbadoras que nos tem habituado. Caché começa por se apresentar como um filme acerca de um mistério que poderá envolver drama, vertente policial e o eventual twist da praxe para acabar. No entanto Haneke sabe usar as ideias pré-concebidas e boçais do cinema actual para nos levar, quais crianças atrás do pai natal, até à terrivel verdade, escondida e silenciada para bem do conforto da sociedade ocidental civilizada de corpo dormente e cabeça escondida na areia.
Sou um gajo mais direccionado para realizadores, directores de fotografia ou outros cargos menos cénicos e confesso que dou menos valor a actores. Temos actores terríveis que sob a batuta certa desempenham papéis excepcionais. Vejam o exemplo de Ben Stiller, o mais insuportável traste a caminhar a Terra. A cada filme dele o meu coração morrer um pouco. Mas sob a direcção de Wes Anderson em The Royal Tenenbaums fez um trabalho exemplar. Ou Jeremy Irons, em tempos visto como a excelência, hoje em dia anda de cuecas em produções mainstream cujo índice de pirosice parece sair fora do gráfico.
Mas enquanto o meu lado direito do cérebro perde tempo com estas hesitações idiotas a afirmar não ter actores favoritos, o outro lado tosse levemente para chamar a atenção e sussurra de modo sexy «Bruce Campbel». E de repente se faz luz. Quem mais? Quem mais poderia escolher para actor favorito e icónico senão este anti-herói nato, mestre chacinador de zombies e com uma tendência para o lado negro. Ficam três filmes do mestre. Salvo seja…
Correio dos leitores: Querido cinemaxunga, há uns tempos o meu marido pediu para lhe meter o dedo no ânus enquanto fazíamos amor e ele disse nunca ter tido um orgasmo tão intenso como nesse dia. Passados um dias pediu-me para ser mais audaz e uma coisa levou a outra e a semana passada os vizinhos chamaram a policia e levaram-nos o casal de contorcionistas vietnamitas especializados em casais, um anão malabarista, um touro mecânico de marca Virix com as extensões Falix 2 e GigaFalus, um conjunto de buttplugs com crina de cavalo em forma de monumentos nacionais e um pé de borracha com meia perna (modelo realista Cristiano Ronaldo com 3 modos de vibração). Tivemos que passar a noite na prisão, coisa que não nos teria incomodado não fosse uma corrente de ar incómoda e persistente. Percebemos na altura que deviamos ter comprado os fatos em cabedal e em vez de PVC que deixa passar o frio. Tivesse trazido a chave das algemas e poderia ter ajudado o meu marido que se viu impedido de protestar devido a um bocal de bola asfixiante (com ventilação assistida, obrigatório pelas leis da UE) e coleira com trela que os polícias insistiram que mantivesse para as fotos. A minha dúvida é: vale a pena ir ver o Scott Pilgrim ao cinema? Ou devo esperar por um dengoso domingo à tarde na TVI?
A honestidade é algo de se louvar nos dias que correm. E neste filme devemos honrar essa mesma qualidade, quando aos 7 minutos um dos protagonistas diz “Estamos aqui hoje para um banho de sangue!” seguido de uns créditos iniciais minimalistas ao estilo grindhouse. E é isso mesmo que temos, um banho de sangue à francesa. E quem tem seguido o cinema de terror francês nos últimos 5 anos sabe perfeitamente que não é nenhuma pêra doce, porque no que diz respeito a carnificina estes gauleses são loucos.
O grande público é uma entidade viva, mentalidade de colmeia, que possui qualidades de consciência colectiva que retém apenas pedaços de informação para formar aquilo que se convencionou chamar “realidade selectiva”. A realidade selectiva não é a realidade tal como individualmente a sentimos, é uma versão simplificada e ligeiramente viciada da verdade dos acontecimentos. No que diz respeito a Steven Spielberg, essa realidade selectiva parece ter obscurecido alguns pontos da sua carreira que merecem alguma reverência. Na área dos “filmes com extra-terrestres”, o E.T. parece ter engolido todas as luzes da ribalta, deixando em segundo plano esse monumento ao grande cinema que é o Close Encounters of the Third Kind.
Por muito amante do cinema que se seja, há sempre que ponderar o que se assoma perante nós. Quando um filme se insere num determinado template percebemos claramente o rumo que os acontecimentos vão tomar. Temos duas opções. O filme é bom e queremos ter o prazer de o ver todo ou dá para perceber que vai ser o mais degradante espectáculo que alguma vez vomitado por um ecran. Apesar do tempo perdido parecer relativamente inócuo à altura em que o gastámos estupidamente, um dia vamos estar a sobrevoar o Atlântico e o piloto avisa que o avião se vai despenhar em chamas numa zona infestada de tubarões e pensamos em tudo o que podíamos ter feito e não fizemos e no tempo de perdemos em idiotices. E esse filme que falei anteriormente vai martelar a nossa consciência até ao limite máximo da exaustão, até que a última tíbia seja deglutida pelo sistema digestivo de um jovem tubarão branco com ambições de liderança.
Este filme não o apanhei no cinema, com 9 anos não teria permissão. Mas assim que me foi oferecido o meu primeiro VHS subornei o funcionário do clube de vídeo com uma caixa de meia dúzia de pastéis de Tentúgal. A outra meia dúzia seria entregue quando me guardasse o Terminator. Alugado a uma sexta, foi visto uma dezena de vezes durante o fim de semana por exércitos de putos que entravam e saiam de minha casa. Uns eram amigos outros pagavam vinte escudos e não podiam falar durante o filme sob ameaça de tempestade de calduços. Antes de ser entregue foi copiado 3 vezes e as suas cópias de cópias vendidas a 200 escudos mais o preço da cassete. Fotocópia da capa era mais 15 escudos. O lucro deu para comprar dois discos de Megadeth, três Ginas e um alicate de cortar ferro.
Foi agora encerrado um capítulo que teve início numa preguiçosa tarde de 1995, quando um jovem estudante de engenharia informática se dirigiu sozinho a uma sala de cinema para ver o primeiro volume de Toy Story. Na altura esse jovem indolente de longos cabelos desgrenhados ponderava trocar um futuro promissor como baterista de uma modesta banda de Rock’n Roll por uma carreira nas tecnologias de informação, abandonar a farta gadelha que parecia fazer parte do seu ADN e juntar-se a um exército de engravatados que estava prestes a controlar o mundo. Mas aquilo que seria um retiro espiritual numa sala de cinema rapidamente se transformou num fascínio de tal magnitude que a decisão do rumo de vida ficou adiada. Toy Story era o início de um admirável mundo novo.
Estreou finalmente a série The Walking Dead. Depois de meses de espera eis que nos chega a casa o episódio piloto e é tudo aquilo que poderíamos esperar. Uma fotografia de excelência, um cuidado especial com os cenários, um estilo de filmagem muito cinematográfico, uma produção superior que honra a BD que lhe deu origem. Ora a BD que lhe deu origem é assunto que não vou tocar porque, só aqui entre nós, ninguém gosta de chicos espertos que comparam o livro com o filme, principalmente se não leram o livro. Eu já desisti (recentemente) desses exercícios pouco produtivos de análise cinematográfica. Mas no que diz respeito à série de TV The Walking Dead, estamos perante o início de uma bela amizade.
Cada vez mais o mundo se leva a sério. Demasiado a sério! É um sinal dos tempos. Ninguém gosta de ser menosprezado, existe uma tendência de dar valor demais coisas que realmente não o têm. Olhem o cinema actual, por exemplo! Mais do que filmes que se levam demasiado a sério (e logo aí perderem toda a piada), temos exércitos de pessoas que os levam a sério só porque o marketing ditou que assim tinha que ser, e depois têm medo de parecer menos inteligentes, eloquentes ou enciclopédicos que os seus compinchas. Mas felizmente que essa tendência não é globalizante. Filmes como Piranha, Machete ou este muy british Severance vêm demonstrar que o cinema divertido, descomprometido e de qualidade não está morto, ao contrário dos seus personagens que aparentam alguma dificuldade em manter a sua integridade física, seja por perigo de degolação, mutilação, perfuração severa ou traumatismos múltiplos provocados por objecto contundente, condição normalmente conhecido por “facada no lombo”.
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