Desde 24 de Junho de 2003

The Thing (1982)

Este filme não o apanhei no cinema, com 9 anos não teria permissão. Mas assim que me foi oferecido o meu primeiro VHS subornei o funcionário do clube de vídeo com uma caixa de meia dúzia de pastéis de Tentúgal. A outra meia dúzia seria entregue quando me guardasse o Terminator. Alugado a uma sexta, foi visto uma dezena de vezes durante o fim de semana por exércitos de putos que entravam e saiam de minha casa. Uns eram amigos outros pagavam vinte escudos e não podiam falar durante o filme sob ameaça de tempestade de calduços. Antes de ser entregue foi copiado 3 vezes e as suas cópias de cópias vendidas a 200 escudos mais o preço da cassete. Fotocópia da capa era mais 15 escudos. O lucro deu para comprar dois discos de Megadeth, três Ginas e um alicate de cortar ferro.

Existe uma corrente de cinéfilos nascidos depois dos anos 80 que tem como ideia preconcebida o facto de que todos os filmes antigos são monótonos, parados e  mal feitos. No que diz respeito a ficção científica ou cinema de terror assumem que sem CGI e sem overkill de efeitos especiais as obras eram cinzentonas e idiotas. Pois bem, caros amigos, deixem-me que vos esbofeteie com uma luva branca cheia de pilhas alcalinas e vos confronto com o assombroso The Thing, uma obra que revi recentemente em glorioso HD em versão restaurada. O apogeu do mestre Carpenter, do cinema analógico e orgânico, das criaturas mecânicas, da imaginação, da construção de ambiente e do cuidado no argumento.

O ambiente é inóspito. Passar uma época de isolamento no pólo sul não é para todos. Uma imensidão branca de claustrofobia e desespero. Muito semelhante ao ambiente de uma viagem espacial. É, aliás, a Alien que este The Thing vai buscar alguma da sua inspiração. A tensão provocada pela paranóia e pelo medo. A lenta construção do ambiente, o silêncio entrecortado por um barulho ocasional de acelerar o ritmo cardíaco.  A solidão. “Quem estará infectado? Eu não de certeza… ” e o festim de destruição e animatrónica final é algo que actualmente se costuma designar por “épico”. O Outpost 31 passou assim a ser um lugar de culto.

Apesar de andar afastado da ribalta há cerca de 15 anos, John Carpenter tem um legado incomparável na área do cinema de terror, fantástico e na série AB, caracterizada por filmes entalados entre a primeira divisão blockbustereana e o independente. Não esqueçamos nunca que este Mestre é responsável por clássicos intemporais como The Fog, Halloween, Escape from New York, Christine, They Live, In The Mouth Of Madness (o meu favorito) e muitos outros que fizeram borrar muita cueca nos anos 80 e 90. Apesar de tudo, Carpenter é o mestre do terror não brainless.

É um remake é verdade, mas ainda assim catalogo-o como clássico. Uma cinematografia de excelência, como era apanágio da época, uma forte narrativa, um filme que não envelheceu. Se tiverem oportunidade, dêem-lhe uma trinca! É  um filme para desenfastiar de algumas violações sensoriais de que somos vítimas nas grandes produções actuais.

16 Comments

  1. Madalena Tavares

    revi-o há cerca de um mês e tens razão. é melhor ser violada por um bando de cães coisa, do que, por exemplo, por piranhas…

  2. Ricardo Vieira

    Quando o vi pela primeira vez, há uns anos atrás, borrei-me todo. Fiquei de tal forma marcado, que demorei imenso tempo a revê-lo.
    Já não me borrei. Assisti foi a um grande filme. Um filme que envelheceu muito bem.

  3. Someone out there...

    Nada disso! Duvido que seja como dizes. A malta desse tempo, dessa geração (na qual me incluo) tem até uma ideia bem mais crua: na altura é que se faziam filmes a sério, que nos prendiam a atenção, que nos faziam imaginar mil e uma coisas, que nos provocavam a mais variadas sensações e que ansiávamos por rever aquelas imagens vezes a fio. Não é à toa que agora tentam fazer remakes, numa tentativa frustrada de recuperar esse espírito. Digo frustrada porque os mais novos não se revêem nesses filmes; os da nossa geração vêem esses remakes como cópias muito ranhosas daquilo foram os originais. E para comprovar isto, basta fazeres um pequeno exercício e pensares nas tuas referências cinematográficas. Tu próprio falaste no ET, certo?! É por aí…

  4. bruno

    Por acaso sou dos tais que pensava que filmes de terror antigos não valiam um peido, mas certo dia há uns anos atrás isto passou no hollywood e eu sem saber vi o filme de uma ponta à outra colado ao sofá… Sim sr. fiquei admirado.
    Filmes de terror deste calibre há muito poucos e hoje em dia já nem se fazem, excelente!
    Gostei de tal forma que ando a ver se um dia apanho o blu ray numa fnac

  5. Dezito (André Sousa)

    The Thing e o They Live são os melhores filmes do grande Carpenter. Também tn um carinho especial por Big Trouble China, essa pérola dos anos 80 😉

    Cumprimentos

  6. Dezito (André Sousa)

    “Big Trouble in Little China” assim é que é

  7. pedro

    Eu tenho pena que o Carpenter tenha desaparecido assim de repente.

  8. Fantomas 2.0

    O Carpenter reapareceu em grande forma em 2005 com o episódio Cigarette Burns.

  9. Miguel C.

    Um excelente filme, uma das melhores obras de Carpenter.
    Sem dúvida recomendo a quem nunca viu.

    Excelente análise.

    Cumps

  10. Pedro Pereira

    Para mim o melhor filme dele é o AS AVENTURAS DE JACK BURTON NAS GARRAS DO MANDARIM, gosto também particularmente da BÍBLIA DE SATANÁS e na generalidade da obra dele. Este de que falas não o vejo à coisa de 5 anos, mas também é dos que mais me fazem salivar.

    Espero que já tenhas trocado esses discos de Megadeth pelas versões remasterizadas, porque o som dos primeiros discos era bastante miserável. Já escreveste sobre o SHOCKER? Lembraste?! Megadeth e Wes Craven num só, o paraíso!

    Pedro Pereira

    por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
    filmesdemerda.tumblr.com

  11. pedro

    “No More Mr. Nice Guy”… Do que tu te foste lembrar! Os primeiros albuns de Megadeth eram de facto agudos como o caraças, mas na altura pareciam bons. Eu sempre torci pelo Dave Mustaine, mas o gajo estava numa luta ingrata com os Metallica, além do torrar quanto dolar ganhava em droga. No outro dia vi um documentário sobre os Megadeth absolutamente fantástico. Acho que até está disponível no Youtube em 11 partes: http://www.youtube.com/watch?v=FnwZ_7fAyDg

  12. Fantomas 2.0

    Se são fãs de thrash metal,e de bandas como Metallica,os já referidos Megadeth,Slayer,Exodus,Anthrax,e afins,vejam o interessante documentário Get Trashed-The Story of Thrash Metal.
    Não é difícil de «adquirir»,e aqui fica o trailer-http://www.youtube.com/watch?v=urDF7vgOaFg

  13. Emanuel Neto

    Para mim, o melhor filme de John Carpenter é THEY LIVE, ou não contasse com o grande Roddy Piper! Este THE THING é um dos melhores bem como os filmes com o zarolho SKANE PLISSKEN! Num deles participa Lee Van Cleef. Para terminar, quem nunca ouviu Megadeth ou nunca leu as revistas Gina nem merece o ar que respira!!

  14. Eduardo

    Como se podem esquecer do Vampires, com o grande James Woods, que a cada dois segundos saca punch lines sem igual? O Big Trouble… é sem dúvida o meu favorito porque me marcou imenso, mas do Carpenter até do Ghosts of Mars gosto bastante. Um dos mestres do cinema fantástico/terror/sci-fi/whatever

  15. rollingmurray

    Finalmente um blog com xunga no nome homenageia o mestre do género! 🙂 Se tenho realizador preferido, é mesmo o Carpenter. Estranho ninguém ter ainda referido que o homem compunha a banda sonora dos próprios filmes, desde o inconfundível tema de Halloween até às batucadas dos sintetizadores durante a década de oitenta. No Vampires até estranhei as guitarradas, mas pronto, eram os nineties…
    E como diria o Jack Burton, “it’s all in the reflexes”!

  16. brain-mixer

    Uau, esse começo de txto deixou-me sem palavras… Realmente os anos 80 são mágicos. Os videoclubes e as cópias pirata, LOL
    E as tuas “memórias” são bem melhores que as minhas 😉

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