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Close Encounters of the Third Kind (1977)

O grande público é uma entidade viva, mentalidade de colmeia, que possui qualidades de consciência colectiva que retém apenas pedaços de informação para formar aquilo que se convencionou chamar “realidade selectiva”. A realidade selectiva não é a realidade tal como individualmente a sentimos, é uma versão simplificada e ligeiramente viciada da verdade dos acontecimentos. No que diz respeito a Steven Spielberg, essa realidade selectiva parece ter obscurecido alguns pontos da sua carreira que merecem alguma reverência. Na área dos “filmes com extra-terrestres”, o E.T. parece ter engolido todas as luzes da ribalta, deixando em segundo plano esse monumento ao grande cinema que é o Close Encounters of the Third Kind.

Se ET é visto por muitos como um sequela deste Close Enconters, na minha modesta opinião é apenas mais uma perspectiva individual de Spielberg face a um tema que o fascina, a possibilidade de haver vida extraterrestre e o seu contacto com o nosso planeta. Se ET é um fofo filme de família que apareceu numa altura em que o blockbuster estava já institucionalizado como arma de arremesso dos estúdios, Close Enconters aparece ainda naquela vaga de fabuloso cinema que se fez nos anos 70, uma vertente académica bem disciplinada que levava muito a sério o seu meio.

Close Enconters conta-nos a história de um contacto de extra-terrestres com humanos e a troca de informação entre os povos, como o início de uma relação diplomática entre os povos. A vertente fortemente científica e militar cruza-se com um conjunto de pessoas que foram pessoalmente afectadas pelo aparecimento repentino de uma vaga de avistamentos de ovnis. O final é surpreendente porque apesar do filme nunca se alargar para o obsceno ou herético, acaba por não ser propriamente um ode à família. De todas as aproximações que Spielberg fez a este tema, que foram muitas se contarmos com papel de produtor, este é capaz de ser aquele que menos elementos de conto de fadas e valores de família incorpora. Mães solteiras, rupturas conjugais, um pai ausente sem grande interesse na família, etc. Também se notam algumas anomalias na estrutura narrativa, nomeadamente na evolução do contacto entre as instituições cientifico-militares e os aliens. Há um salto muito pronunciado ficando a ideia que algum material importante poderá ter ficado no chão da sala de montagem.

Eu já não via este filme desde meados dos anos 80 e apanhei-o recentemente em HD num canal do cabo. Devo dizer que não senti o peso do envelhecimento. Aliás, nos velhos tempos dos clubes de video, este tinha até direito a uma capa de cassete almofadada, maior que o normal. Aquilo que hoje se chama de edição especial ou edição do coleccionador. É verdade que não podíamos trazer as capas para casa, mas poder tocar-lhe, abrir e ler as suas características técnicas e resumo de argumento era uma experiência quase transcendental.

2 Comments

  1. João Lameira

    O meu preferido do Spielberg. Gosto muito deste filme.

  2. castor

    um dos filmes da minha vida. além de que me permitiu finalmente pôr uma cara no truffaut.

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