Desde 24 de Junho de 2003

VHS for dummies!

Há uns dias percorria os sempre hilariantes foruns de suporte da Zon quando me deparei com um fabuloso post onde um cliente se queixava que as boxs HD+DVR gastavam tanta electricidade ligadas como desligadas. A resposta pronta de um moderador oficial foi que “é necessário que assim seja para que o equipamento possa estar sempre pronto a gravar”. Um outro utilizador retorquiu,e com toda a razão, que já em 1986 os gravadores de vídeo faziam esse exacto trabalho sem precisarem de artifícios preguiçosos com o absurdo consumo das ZonBoxes. E neste argumento este prezado utilizador se viu desamparado, porque dos poucos utilizadores que sabiam sequer o que era um gravador de vídeo, não havia nem um que o sabia programar para gravação temporizada. O que me levou a este tópico que noto fazer falta na Internet: Rebobinador? Será mesmo necessário ou é mais um mito urbano?

A pirataria e os “problemas com a lei” do cinéfilo mais atrevido não é um problema recente. Há mais de vinte anos que os clubes de vídeo não achavam piada nenhuma a que se gravassem os filmes. Desde os segurisselo até à Macrovision, passando por nunca ceder a capa original, eram imensos os subterfúgios desonestos usados pela industria videográfica para nos manterem dependentes das suas bafientas salas de exposição e dos seus produtos viciantes. Havia sempre volta a dar porque todos nós gostávamos de ter a nossa própria versão do clube de video com os titulos que realmente interessavam. No meu caso seria pós-apocalipticos, Rambo, Commando e sucedâneos, Ficção Científica e terror. Não todos, claro, só os bons!

As colecções eram acarinhadas, mimadas, amadas. Cada cassete tinha direito a uma caixa fechada e, se possível, uma fotocópia decente da capa original, etiquetas autocolantes impressas a computador (ou máquina de escrever, letras autocolantes ou as réguas de letras) e patilha de segurança removida para afastar a tentação de gravar um filme erótico de sábado à noite da RTL sobre um Taxi Driver ou um Apocalypse Now. E, ao contrário do que se vê agora com os discos externos e a pastas “filmes” do ambiente de trabalho, todos os filmes eram vistos e, por vezes, revistos. E mais. Naquele espaço que sobrava no final da cassete, fossem 5 ou 50 minutos, era colocado conteúdo de valor histórico, um episódio de uma saudosa série de TV, um videoclip mais interessante ou o tal bocado de filme erótico da RTL para aquecer o pescoço nas noites frias de Inverno.

O valor de uma gravação era determinado pela qualidade ou pela geração dessa gravação. Gravação original ou de primeira geração era intocável, divina. Por vezes tinha que se duplicar para não estragar cassete original.  Como é óbvio, não se emprestava a ninguém. Gravações de segunda, terceira ou enésima gerações eram menos interessantes, porque iam perdendo características de qualidade, o som ficava sumido, o ruído sobrepunha-se à banda sonora, a cor começava a falhar e por vezes era preciso alinhar as pistas da cabeça do videogravador para obter algo que não fosse horrendo. O tal tracking. Um exemplo de valor em videocassete é uma versão das gravações do arquitecto Taveira ainda com cor. Isso sim era item de mercado negro. Todas as que vi e que avaliei (de luvas pretas e monóculo) eram de qualidade duvidosa. Falta de cor em mais de 70% e som sofrível,  com os gemidos das moçoilas sodomizadas com Flanger ou um simulador de efeito Doppler com estática de FM ali da banda dos 97Mhz. Ainda hoje uma cópia de qualidade continua a ser o Santo Graal do VHSófilo.

13 Comments

  1. Maat

    é assim, eu sempre achei isso do rebobinador um mito. eu sempre usei o meu vídeo para rebobinar. é verdade que ele estragou passado uns anos, mas isso provavelmente seria inevitável. rebobinar uma cassete de cada vez que se via um filme não me parecia muito grave. e achava um desperdício de dinheiro comprar um aparelho que tinha apenas aquela função, rebobinar. aquilo ao menos dava para puxar a cassete à frente?
    lembro-me que cheguei a ter pesadelos em que ia entregar uma cassete ao clube de vídeo e tinha-me esquecido de rebobinar a cassete e tinha de pagar uma multa. era muito terror psicológico da parte deles…
    e lembro-me também da alegria que foi comprar um vídeo novo, quando o antigo se estragou, com LP. que sonho… as mesmas cassetes, o dobro do tempo. chegava a ter 3 filmes num unica cassete. pena que depois tenha aparecido o DVD e estragado toda aquela magia.

  2. João Lameira

    Da longa lista de textos nostálgicos com que uma pessoa se depara diariamente, este é dos mais bonitos. Porque será que um gajo recorda o VHS e a cassete audio com saudade, quando a qualidade do que lá está gravado se deteriorava a cada visão/audição? Ou será mesmo por isso? Duvido que o DVD e o CD suscitem o mesmo tipo de memórias, mas posso estar completamente enganado, e isto ser uma coisa geracional.

  3. António Silva

    Por falar em VHS
    http://muchachadanui.rtve.es/la-cinta-vhs-hablando-de-los-viejos-tiempos.html

  4. Gema

    O VHS LOOOOOOOL não tenho saudades nenhumas porque como o João Lameira bem diz: “Porque será que um gajo recorda o VHS e a cassete audio com saudade, quando a qualidade do que lá está gravado se deteriorava a cada visão/audição?”
    Também nunca percebi essa situação dos clubes de video, obrigarem-nos a rebobinar. Porquê??? Eu rebobinava sempre porque era obrigada, mas se não rebobinasse o que era suposto acontecer, alguém me poderá esclarecer essa situação?
    Enfim, não tenho saudades mesmo nenhumas desses tempos.

  5. Pedro Pereira

    Ora bem. Isto lembra-me de um outro problema com que me deparava. Nesses anos vivia na estrada mais movimentada da gloriosa aldeia de Porto da Boga (Portalegre), o centro de passagem de qualquer bêbado das freguesias de Caia ou Alegrete. Saberão as pessoas da minha idade, que qualquer bebedolas que se preze, se fazia transportar nas ruidosas Zundapp, Famel ou Saschs v5. Resultado as gravações que fazia da “sessão dupla” eram quase sempre pejadas de interferências. Ficava fulo! Se o filme repetisse seria obviamente gravado por cima, nem que tivesse de colar fita adesiva por cima da já retirada patilha de segurança. Esta magia de que falas aí em cima e que partilho, perdeu-se. Uma pena.

    Um abraço.

    Pedro Pereira

    http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
    http://filmesdemerda.tumblr.com

  6. bruno

    velhos tempos, cheguei a ter em casa 3 videos de amigos ligados todos por scart para fazer cópias ilegais para todos do velhinho jurassic park
    perdia-se um bocadinho de qualidade, mas era a única forma de copiar para todos… o filme tinha de ser entregue no video clube nesse mesmo dia até às 8 da noite

  7. joemorales

    Eu pessoalmente dava mais valor às cópias em VHS. Agora, ver e apagar que preciso de espaço. O rebobinador usava, o meu pai não me mentia porra:-)

    Lindo é comprar um disco de vinil, ir para a fila pedir para embrulhar e a pita que estava de serviço a rir-se toda contente a gritar, “olha que giro, um CD dos grandes”. Um Cd dos grandes??? Um LP, Disco, Vinil, Disco de Vinil, qualquer coisa, agora, “um CD dos grandes?” “Sim, como o meu pai tem lá em casa!!!!!” WTF??

  8. cinemapongal

    Eu confesso que sinto saudades dos tempos do VHS, mesmo tendo em conta que a qualidade audiovisual não é comparável. Nem é pelo aparelho em si, é pela época. Naquela altura, como o Pedro disse, um filme gravado era invariavelmente visto mais de uma vez, e as cassetes eram guardadas e valorizadas com uma estima que não se vê hoje em dia. Pode parecer estranho estar aqui a fazer o elogio ao materialismo, mas naquela altura dava-se valor a TER as coisas, na mão, fossem cassetes VHS, fossem CDs, whatever… até porque era difícil arranjá-las. Lembro-me perfeitamente quando saiu no clube de vídeo do meu bairro “O Especialista”, com o Stallone. Querer pôr as mãos naquela cassete era equivalente a ambicionar o Santo Graal. Stallone, James Woods, porrada, explosões, Sharon Stone no auge da sua sexualidade com cenas de pinocada o mais explícitas possível para um filme do mainstream… era um sonho. Só passados meses consegui finalmente apanhar a fichinha numerada e ver o raio da coisa… que não era nada por aí além, mas que a protelação transformou numa experiência de puro deleite.

    Hoje em dia, basta googlar e tem-se tudo à mão. Perdeu-se a magia. É disso que sinto falta. Não do raio do rebobinador. 😉

  9. jay

    se achavam o rebobinador de vhs inútil, vejam isto:
    http://www.dvdrewinder.com/

    o rebobinador de dvd!
    ao menos a pulseira de equilíbrio é mais barata

  10. Peter Gunn

    A malta pergunta que saudades se poderia ter dos problemas de audio / video que tinhamos nas gravações de VHS ou K7 mas a verdade é que isso na altura pouco ou nada interessava, o que a malta queria mesmo era ter as coisas gravadas para ver e rever… ouvir até mais não! Claro que hoje em dia a qualidade está noutro nivel que não tem comparação mas que tenho saudades daquela altura… ui se tenho!

    Ainda me lembro do 1º filme que copiei… McQuade, o Lobo Solitário do GRANDE Chuck Norris! =)

    P.s: jay simplesmente hilariante essa invenção!

  11. Albano Lemos Pires

    os rebobinadores de vídeo só eram úteis no caso das cassetes betamax pois neste formato as cabeças de leitura nunca deixavam de estar em contacto com a fita desgastando-as inutilmente. Nos videogravadores VHS eram inúteis visto neste formato as cabeças recolherem quando se rebobinava.

  12. Sofia Santos

    não te chegava ser fanboy engraçadote, tinhas que VHSófilo. não tens salvação

  13. Edgar Ascensão

    Que raio, ó tempo volta prá trás!
    Ficávamos na ignorância tecnológica mas éramos mais felizes…
    Ler este texto fez-me lembrar as minhas anotações que escrevi para o meu blog. Falava precisamente dessa magia das VHS.
    Ó pá, tempo, volta para trás…

Leave a Reply

© 2024 CinemaXunga

Theme by Anders NorenUp ↑

%d