Independentemente do seu nível socio-cultural, da sua capacidade argumentativa, do seu estado de embriaguez ou intoxicação, do seu credo ou religião, do número de doenças sexualmente transmissíveis que possuam devido a más decisões, todas as pessoas sabem identificar um bom filme. Não um bom filme no sentido universal do conceito, pois tal coisa não existe e ainda bem para a liberdade de escolha. Um bom filme para quem o vê. Aquela sensação boa que se fica na altura em que os créditos finais começam a rolar, mas que perdura passado algum tempo, aquela agradável recordação que nos faz desejar que volte. Bom, para mim, este é um desses filmes, imaculado, poderoso e único.
Apesar de se tratar de um prodigioso filme, outra coisa não era de esperar de Paul Thomas Anderson. Magnólia e Boogie Nights são clássicos incontornáveis e não esquecer que foi o único realizador a conseguir que Adam Sandler se parecesse com um actor a sério em Punch Drunk Love. Realiza pouco, mas bem. Os filmes são bem estudados, bem planeados, certeiros.
É um épico, no sentido clássico da palavra e não na banalização que tem sofrido ultimamente nas internets com termos como “epic tits” ou “epic fail”. Um épico que nos dá uma visão sobre o inicio dos negócios obscuros do petróleo, da criação de impérios, daquilo que ainda hoje se faz mas em países sub-desenvolvidos. Daniel Day-Lewis confirma o seu estatuto de super-actor, um actor superior muito acima da média boçal com que Hollywood nos brinda actualmente.
Forte na caracterização da época e no delinear dos personagens, cheio de texturas na narrativa. Ganha vida e convida-nos a caminhar a seu lado, a que sejamos cúmplices daquele homem, para o bem e para o mal. Tem momentos emocionais, outros mais divertidos e alguns viscerais, mas nunca banais. Eu diria que é quase um filme com cheiro e com rugas de expressão. Bela galeria de secundários.
É, portanto, um rico filmezinho. E muito me arrependo eu de o ter visto com uns 3 anos de atraso. Na altura não tive oportunidade de o ver e desde então tenho andado a jogar ao empurra, a consumir cinema de qualidade miserável quando podia tê-lo visto mais cedo. Mas a vida é assim, uma sequência de pequenos nadas que somados dão algo pouco substancial que gostamos de valorizar imenso para não nos sentirmos idiotas.
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Convenceste-me. Este fim de semana trato de ver isto
3 anos? 3 ANOS?!
É bem verdade, camarada Castor. 3 anos é inadmissível.
“Mas a vida é assim, uma sequência de pequenos nadas que somados dão algo pouco substancial que gostamos de valorizar imenso para não nos sentirmos idiotas”… Tas a ficar velho, han??? rssssss.
Concordo completamente quando dizes que este é um “rico filmezinho”, discordo completamente quando dizes que todas as pessoas sabem identificar um bom filme.
O Punch Drunk Love continuará a ser o meu preferido mas este será sempre na minha cabeça o Citizen Kane 2. Muito bom