Numa altura em que se esperava que a saga Twilight e os vampiros para teenagers fosse assassinar de vez o género cinematográfico na sua vertente menos juvenil, eis que Hollywood aproveita a boleia do hype vampiresco e continua a fazer aquilo que é a sua especialidade, mugir o conceito até à exaustão absoluta. Juntar uma distopia religiosa pós-apocalíptica com hordes de vampiros menos convencionais, monstros em CGI e bofetada bullet-time de três em pipa é a receita para mais um filme de época pré-blockbuster que se auto destrói depois de ter sido visto. E um novo conceito de caçador de vampiros, o homem de botins.
Os filmes de época pré-blockbuster têm características muito próprias. São simples e podem crescer para ser coroados como clássicos pela persistência do tempo ou podem esmorecer nas areias do esquecimento e dos canais de tvcabo. Normalmente são os filmes de maior orçamento dentro da classe de filmes de baixo orçamento. Os orçamentos contidos obrigam a uma ginástica mental e ao recurso a ferramentas imaginativas. Quando estas não existem então estamos perante um sério caso de morte anunciada. Um outro problema que tem vindo a decepar estes filmes são os ratings. Para garantir uma maoir amplitude de faixas etárias os filmes têm que ser editados para públicos mais jovens, o que significa menos violência, menos gore, linguagem mais moderada (que soa disconexa) e ausência de elementos sexuais, esse poder que comanda a vida. Se não forem salvos por uma versão Unrated tornam-se em filmes flácidos, inofensivos, insípidos, descartáveis.
The Priest surge neste veio. Cheio de boas ideias, herói em potência para um sem número de sequelas, um universo a explorar. Mas falha nalguns pontos relacionados com o “filme de época pré-blockbuster”. Com enorme potencial para carnificina, The Priest não entrega o que promete. A necessidade de despachar a conversa para ir directamente para sequências de acção faz com que os personagens não sejam devidamente apresentados e conhecidos. Sim, há logo fogo de artíficio, mas não queremos saber se os herói mata ou morre. Afinal de contas eu nem o conheço muito bem. Os inevitáveis clichés também não ajudam a criar identidade e a sensação que fica é que já vimos este filmes centenas de vezes antes.
Não é um filme que inspire a felicidade eterna mas também não deixa tendências suicidas. Digamos que é como aquele queijo light que quando metido num sandes só se nota o sabor do pão. Mas ainda assim deve ser visto porque é curto e porque pode ser visionado (é assim que se diz?) em modo multitask, e enquanto se batem claras em castelo, cosem umas bainhas de umas calças ou, porque não, como background para noite de sexo. É claro que não tem tanta nudez como o Perdidos na Tribo, mas tem aspecto menos artificial.
Como sou coca-bichinhos, notei no texto uma gralha que não deixa de ter a sua piada: onde se lê “mugir o conceito até à exaustão absoluta”, imagino que se devesse ler “mungir o conceito até à exaustão absoluta”. É que mugir, faz a vaca quando é mungida.