Com a crise, a falta de empregos, a depressão colectiva e a falta de segurança, as pessoas começam a construir a ideia de que terão que ser sérias e confiáveis para que possam singrar no mercado de trabalho ou em qualquer outra parvoíce social em que se envolvam. Com isto tendem a abdicar do seu sentido de humor, porque pessoas estúpidas tendem a acreditar que humor e risota são duas faces da mesma moeda que é a tolice e a palermice, características que tentam erradicar de si porque acreditam que um semblante cinzentão e a capacidade de pesquisar rapidamente na wikipédia fazem de si seres menos odiosos. Isto para dizer que as pessoas têm vergonha de rir, porque com a avalanche de mau humor que os media portugueses têm servido desde 1992 já poucos têm a capacidade de perceber o que tem mesmo piada e o que são videos caseiros de gatos a escorregar em cascas de banana. Pior, confunde-se Seinfeld com Friends e Monty Python com Os Malucos do Riso. E assim que o Grande Cinzento se apodere de nós, seremos criaturas tão interessantes como o contabilista de Angela Merkel, gajo que penteava a Lassie ou o canalizador do Arnold Schwarzenegger.
Esta coisa de insistir em levar tudo demasiado a sério faz com que as pessoas percam pequenos prazeres da vida, como ver filmes como Piranha 3DD, deliberadamente feitos para serem maus, uma homenagem aos cheesy horror movies dos anos 80, pejados de tensão sexual adolescente, promessas de quebra dos tabus judaico-cristãos (nunca efectivadas), galerias de personagens perfeitamente estereotipadas e o gore mais surreal que se possa arranjar. E mamas, claro. Sempre mamas. Muitas e grandes, saltitonas, marotas, promissoras, firmes… Às dúzias! Filmes que não podemos apreciar em toda a sua plenitude porque trintões como eu já não têm facilidade em convencer dezenas de amigos a comparecer a uma sessão de home cinema acompanhada de comes, bebes e fumos que garantam “o privilégio de uma superior experiência de imersão cinematográfica”.
Piranha é tudo o que se pode esperar da sua premissa: humor negro, sexo, nudez perfeitamente gratuita, sangue aos hectolitros, gore em barda e David Hasselhoff as himself numa performance hilário-deprimente que já não se via desde Dirty Shame de John Waters. É um filme muito curto, muito abaixo da normal longa metragem, mas isso até joga a seu favor porque o que é demais também enjoa. Não é propriamente um filme de família nem ideal para uma noite com os sogros. Talvez não seja um tópico de conversação aconselhado para uma reunião de um conselho de administração ou um filme que se possa sugerir energeticamente na Internet. No entanto, tal como uma indonésia anã, tem o seu encanto que não deve ser exteriorizado com muito entusiasmo.
Apesar destas maravilhas da sétima arte, também devo referir que há aqui elementos perfeitamente horripilantes. A montagem, por exemplo, é hedionda. O filme passa da uma introdução demasiado longa para um final infinitamente extenso. Eu sei que não há necessidade de construir personagens ricos, mas pelo menos 5 minutos a construir um backbone não lhes teria ficado mal.
Sangue…certo
Horror barato…certo
Mamas…certo
Ok, Adicionado à lista.
Cumprimentos,
Ed
recomendado pelo mestre xunga, só não vou a correr ver, porque ainda não vi o primeiro, ainda tenho que ir alugá-los
Ora bem, quando saiu a primeira parte deste remake (será justo chamar-lhe isso?) dei-lhe uma oportunidade. Não gostei muito e até escrevi um comentário qualquer no meu defunto nanoblogue, que pessoas com tempo livre poderão ler algures por estes lados: http://filmesdemerda.tumblr.com/search/piranha. Não sei bem porquê mas apesar de não ter ficado convencido decidi também sugar esta versão XXL para um computador perto de mim, e até vi a coisa com um constante sorriso parvo na cara. Mas quase que senti pena do David Hasselhoff, juro.
–
Pedro Pereira
http://por-um-punhado-de-euros.blogspot.com
http://destilo-odio.tumblr.com/