Todos temos os nossos rituais, sejam satânicos ou convencionais, sejam obsessivos compulsivos, entrar sempre com o pé direito ou limpar a gaita aos lençóis depois do acto ignorando os pungentes apelos femininos de que há lenços na primeira gaveta. Eu não sou diferente de ninguém e tenho os meus que, vim a aprender com o tempo, são perfeitamente normais. Dormir com t-shirts publicitárias, começar sempre uma viagem com “Nothing Really Ends” dos dEUS, rapar o escroto e fazê-lo reluzir com azeite virgem antes de ir à pastelaria ao domingo de manhã comprar pão e ler o folhetim do sindicato dos talhantes de Serpins e, ritual cinéfilo, ver um filme diferente de zombies nazis uma vez por ano.
E acerca de zombies nazis não há muito a dizer. Pelo menos nada que já não tenha sido dito. O fascínio pela tecnologia quase sobrenatural de tão abominável gente é suficiente para catapultar o mito de que o binómio magia negra / ciência futurista nazi produziu armas capaz de envergonhar as mais avançadas civilizações marcianas do sci-fi dos anos 50. O que acaba por ser um pleonasmo, porque as civilizações marcianas dos anos 5o não eram mais do que a projecção do horror nazi que na década anterior tinha aterrorizado o planeta com requintes de perfídia literária que nem o próprio H. G. Wells conseguiria pressagiar, mesmo após 2 litros daquele absinto ilegal que um sobrinho endocrinologista lhe trazia de Tanger.
Outpost: Black Sun é a continuação de um filme chamado apenas Outpost que não vi, mas que não se mostra necessário para compreender a trama desta sequela em toda a sua complexidade, neste caso diminuta. O esquema é sempre o mesmo e eu gosto. Na fase final da Segunda Grande Guerra o Reich, em desespero, prepara armas que tinha em gaveta mas que o desespero das derrotas nas duas frentes precipita para as linhas de produção. Até agora, tudo verdade. Depois as armas secretas podem mudar, mas sempre na linha dos exércitos secretos que estiveram adormecidos até à actualidade e são activados por uma qualquer falácia do destino ou porque foram programados para uma determinada data. Também gosto das variações “fugiram para a lua” ou “têm uma sociedade secreta na américa do sul onde foram apurando a raça ariana nos últimos 60 anos através de um misto de avanços genéticos com deboche poligâmico”.
É um filme de série B que não quer ser blockbuster, mas é sincero nas suas intenções e atinge o objectivo a que se propõe, que é entreter as hordes em dias frios de Inverno quando não passa nada de jeito na TV. Produção britânica com boas performances de actores que nem são desconhecidos e que disfarça um parco orçamento com um jogo de diálogos dinâmico e uma narrativa de jogo de puzzles até à revelação final que é aquela que estão a pensar: há coisas extremamente importantes que só se saberão no próximo tomo… ou no outro… ou ainda naquele que vem a seguir ao outro que é uma prequela de uma sequela de um spinoff de um reboot de 1987 que afinal nem tinha nada a ver com o de 2014 mas que um tie-in entretanto enfiado a martelo fez parecer tudo claro como água… do rio Tâmega depois de uma descarga das pocilgas que não existem porque toda a gente nega a sua existência. Ah, e a água sempre foi assim escura com peixes mortos e garradas de lixivia a boiar. “O meu avó morreu aqui da toxicidade destas águas em 1924 quando tinha apenas 8 anos!” disse o dono da alegada pocilga que terá alegadamente infestado o rio com metanol suficiente para a Tina Turner manter a frota de buggies pós-apocalípticos a andar durante 5 anos no Mad Max 3 sem se preocupar em degolar opositores ao seu regime maléfico. E isto leva-nos à incontornável pergunta: por onde andará Tina Turner nos dias de hoje? Terá morrido e ninguém reparou ainda?
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