Em Outubro de 1997 um jornalista do Backwoods Home Magazine foi incumbido pelo seu chefe de encher os classificados com anúncios inventados para ocupar o espaço que estava em branco. O homem, John Silveira, inventou dois anúncios, que seriam suficientes para o efeito. Um dos anúncios era de natureza sentimental, “homem sério procura mulher para relação duradoura, [dados genéricos]…” e a outra dizia o que está na foto que ilustra este formidável artigo: “Procura-se: Alguém para viajar para o passado comigo, isto não é uma brincadeira. (…) Tem que trazer as suas próprias armas, não se garante segurança, só fiz isto uma vez.” No dia seguinte recebeu quatro cartaz de resposta ao anúncio sentimental, uma delas de um homem. Ao anúncio da viagem do tempo recebeu centenas. E a partir daí continuou a receber diariamente cartas até aos dias de hoje. Milhares e milhares de respostas de pessoas para viajar no tempo, a maior parte delas com propostas sérias de quem tem esperança de emendar as suas agruras com um passeio ao passado. História verdadeira que pode ser facilmente confirmada online, até pelo próprio autor do anúncio aqui.
E este a anúncio é provavelmente o mais pequeno texto atribuído a um guionista nos créditos de um filme, tirando talvez Ben Affleck em Good Will Hunting que terá escrito no guião apenas as palavras “Ben Affelkc Affleck”, segundo o que se diz por Hollywood. Ora John Silveira terá assim garantido assim a sua entrada na posteridade, juntamente com um pequeno cameo onde tenta disfarçar os seus 150kg num posto dos correios.
É com esta auspiciosa premissa que arranca Safety Not Guaranteed, num road travel para a América profunda em busca do sonhador que terá escrito tão inspiradoras palavras. Tudo isto ao som da banda sonora hormonalmente emocional de Greys Anatomy, enquanto os personagens olham pela janela, deslumbrando os mistérios do oceano e tentando compor um semblante inteligente, em sintonia com a banda sonora em excesso de falsete que puxa à esperança num mundo melhor.
Estamos perante um bom filme, um dos raros filmes indies das majors americanas sem a presença de Michael Cera. Um conto de fadas hipster em que 3 pessoas diametralmente opostas combatem traumas emocionais e aprendem a ultrapassar traços de personalidade que usam para disfarçar dor em quantidades industriais, os recalcamentos do costume. Ao fim ao cabo um pouco à imagem de todos nós, a invocar à inevitável identificação, nem que seja pelo facto de todos nós respirarmos oxigénio ou sermos incapazes de recusar uma segunda rodada de leitão da bairrada.
Simples, linear e sem grandes ambições de grandeza é exactamente um que um feel good independent movie deve ser, com uma pitadinha de sci-fi para excitar o geek que há em todos nós, mesmo naquelas entre nós que produzem estrogénio como se o futuro da raça humana dependesse da suas avançadas aptidões para a procriação.
O final é algo que também deixo em aberto, mas que tem que se lhe diga, com quase tudo o que existe no nosso plano existencial. Eu gostei, mas acredito que poderá ser uma pequena desilusão para algumas pessoas. Tem tudo a ver com a maneira como encaramos o mundo ou como toleramos pessoas que escrevem frases ambíguas como as que iniciaram este parágrafo, que na realidade nos tiram minutos de vida, minutos esses que podem ser usados a salvar vidas, encontrar a paz no mundo, fazer doçaria tradicional saudita com o livro que a tia nos ofereceu no Natal, cultivar cebolas no Farmville ou salivar mais umas horas no Facebook com um decote assassino que a nossa colega de carteira da turma de Ciências da Natureza do ciclo preparatório em 1985 colocou online.
Mais umas fotos que isto está muito esbranquiçado:
Mas que se passa por aqui? Esta crítica está muito soft, nem c*ralhadas tem! Pelo menos um parágrafo a descrever um bukake com a Aubrey Plaza!