Malibu Express (1985 ou 1984… ninguém sabe)

Há dois ou três dias atrás estava enterrado em trabalho. Sobrecarregado para além do suportável, daqueles dias que só queremos ver pelas costas. Fechei todas as janelas de browser para não me distrair com a Internet, coloquei os auscultares para ouvir qualquer coisa que me isolasse do mundo. De repente sinto um tremer nas calças e disse “Agora não pénis, estou a trabalhar.” E voltou a tremer. E outra vez e outra vez. Bolas, tinha-me esquecido do telemóvel ligado e estava a receber as habituais tempestades de notificações do Facebook, Twitter, 6 contas de email, malta do skype e do gmail, mensagens do Viber e as notificações de que as aplicações precisam de ser actualizadas para a nossa vida continuar a fazer sentido. Abandonei os afazeres e entreguei-me ao mole prazer de vasculhar aquela merda toda à espera daquela mensagem que traga sentido á minha existência, uma mensagem divina ou um simples convite ao deboche. Nada. Likes, tu coças as minhas costas que eu coço as tuas, Lols e winks a dar com um pau, email a dizer que a encomenda já tinha sido enviada numa embalagem discreta. Enfim, o mesmo de sempre. Entre elas havia um daqueles irrecusáveis links de “A lista definitiva dos anos 80. O melhor. Ever.” Ora foda-se, se não clico vou acordar com suores frios. Ok, aqui vai. click, click, click. Vi 46 dos 50 títulos. 3 dos que faltam são daqueles que não toco nem com um pau de 5 metros e um nunca ouvi falar. Malibu Express. “Mas que diabos?… Agora é que não vou ter descanso se não vir essa merda.” Videoclube do povo, click click click. Yes, I agree. Beber café enquanto a coisa se dá. Tufas… Aqui vamos nós. Play.

Uma nota prévia: estamos a aventurar-nos pelos terrenos do Exploitation. Sexploitation para ser mais exacto. Tudo serve de veículo para chegar aos tiros, mortes, sangue e gore. Tudo em tronco nu ou na completa ausência de soutiens. Carne. Mamas. O requeijão* dos anos 80 no seu mais puro technicolor. Mamas. Mamas a rodos. Aspect ratio de 4:3,  os penteados do Dallas, os diálogos de série policial de 45ª categoria e um história simplório/decalcada na sua forma mais básica. Uma amiba narrativa. Basicamente um concentrado que coisas que aprendemos a amar desde que a nossa mãezinho nos colocou neste mundo.

Ninguém consegue desviar o olhar ou sequer carregar no botão de stop porque este é um daqueles salgadinhos irresistíveis que cabem na cova de um dente. Frisbies decapitadores, skaters assassinos, belas fatais que dispensam roupa para matar (a bom matar) e um clima de densa e permanente insinuação sexual. Um borrifado de feromonas que fazem o elenco permanentemente no borderline sexual onde tão depressa chacinam como se entregam aos prazeres carnais. O amor convencional hetero, o lesbianismo à boca cheia, o ocasional cavalo, a exploração do corpo para ganhar vantagem negocial, o falo simbolizado em todos os adereços, mamas e rabos sempre acolhedores.

À primeira vista pode parecer um filme horrível, mas na realidade é só um filme horrendo, que cabe perfeitamente na secção “tão mau que é bom!”. É aceitável algum fast forward, pause para apreciar peitaça ou o ocasional “Pfff, nem sei porque estou a ver isto…”.

De acrescentar que Malibu Express faz parte da extensa obra da extensa obra do saudoso  Andy Sidaris que coloriu o património mundial do cinema com clássicos como Day of the Warrior, Do or Die ou o incontornável Hard Hunted.

* requeijão: é a minha tradução para “cheesy”, porque anda aí um paneleiro armado em ditador do puritanismo da escrita e hoje não me apetece aturar parolos de Rilhafóis a dizer que “no meu tempo só estudávamos até à 4ª classe mas sabíamos as linhas de comboio e os rios de Angola.”

Deixo-vos com multimédia sortida.

Filmografia de Andy Sidaris